Capítulo 2

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-Quem é você?

  Luke estava pensando se aquilo era algum tipo de brincadeira. Por mais que não tivessem tanto tempo de convivência, tinha se passado apenas algumas horas desde a última vez que se viram. Estava torcendo para que aquele tombo não a tivesse matado, mas ainda mais para que ela saísse daquilo sem grandes problemas. O que aparentemente que não aconteceria.

-Bom dia, senhorita Giselle. Como se sente? –Um homem com cabelos grisalhos que denunciavam sua idade entrou no quarto, segurando uma pasta branca fina. Era o médico que havia cuidado dos ferimentos e da cirurgia de Giselle. –Ainda aqui, senhor Lucas? Não tem mais ninguém que possa ficar com ela?

-Não. Não que eu saiba. Eu não achei nada que pudesse levar até algum parente ou amigo dela. Tô atrás disso.

-Meu corpo dói. Por que eu tô aqui e presa com essas algemas? Eu incomodei alguém? –Giselle parecia levemente irritada por simplesmente não ter as respostas de suas perguntas ainda. Luke sentiu-se na obrigação de falar algo, mas o médico o fez antes.

-A senhora sofreu um forte impacto na cabeça. Perda de memória era uma das sequelas possíveis. Bom, resumindo o que precisa saber, você foi pega em flagrante pela polícia após negócios com uma traficante de drogas e prostituição de mulheres, além de estar portando uma arma não categorizada. Depois de sair daqui, a senhora vai ser encaminhada a penitenciaria pelo senhor Lucas. –Ele disse tudo de uma vez, parecia indiferente a situação enquanto conferia os curativos.

  A expressão aterrorizada no rosto de Giselle foi expressamente visível, abrindo e fechando a boca algumas vezes antes de conseguir formular exatamente o que pensava no momento.

-Perdão, deve ser um engano... Eu estava a poucos minutos de ir para o aeroporto! Tenho passagem para visitar minha família no Brasil! –Algumas lágrimas brotavam em seus olhos perdidos e a mente confusa ainda tentando entender o que era tudo aquilo apenas entrava em mais conflito. –Minha mãe!... Preciso avisar pra minha mãe que me atrasei, ou ela ficará preocupada... Cadê meu celular?! E você não me respondeu quem é você! –A ultima parte foi direcionada a Luke, que até então ainda estava calado.

-... Eu sou quem deveria levar você pra penitenciaria. Mas isso não é justo. Sua bolsa está na bancada, mas não achamos celular, apenas cem dólares e sua identidade... Eu volto pra te explicar algumas coisas, com licença, Doutor Kaleb. Giselle. –Luke se levantou apressadamente, saindo do quarto em direção a conhecida viatura. Giselle e o médico permaneceram no local, já que o doutor ainda tinha de trocar os curativos da mulher e situá-la do que fosse necessário.

Chegando ao carro, Luke entrou já procurando pelo celular, discando o número de seu amigo e parceiro de ala Sean, que atendeu no terceiro toque como de costume.

-"Manda o problema que eu te mando a solução. O que rolou?". –Disse Sean assim que atendeu. Ao fundo se ouvia os gritos do delegado brigando provavelmente com algum estagiário, o que indicava que Sean estava na delegacia. Luke não fez rodeios.

-Não posso prender aquela mulher. Cara, só não dá.

-"É? Por quê?".

-Ela perdeu a memória. Aparentemente a ultima coisa que se lembra foi estar se preparando pra viajar e sabe-se lá quando isso aconteceu de verdade! O quão covarde é prender uma pessoa que sequer sabe o motivo de estar sendo presa?! –Sua indignação ainda ficava apenas para si, mas pelos anos de amizade com Sean, sabia que o amigo teria notado o tom irritadiço de sua voz.

-"Luke, a lei é imparcial, ela cometeu um crime e tem que pagar por isso." - Se estivessem frente a frente, Luke sabia que Sean estaria fazendo aquela expressão típica de "Nerd que estudou vendo o bagunceiro fazer merda." Nada menos que o esperado daquele que considerava diversas vezes correto até demais.

Filha de Ferro e FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora