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A floricultura estava mais movimentada do que o habitual naquela manhã ensolarada e quente

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A floricultura estava mais movimentada do que o habitual naquela manhã ensolarada e quente. Enquanto Ruth me ajudava ao registrar as compras no caixa, eu ficava na bancada para ajudar as pessoas a escolherem flores específicas que elas gostariam de comprar. A maioria dos clientes é constituída por mulheres, mas às vezes eu sorria ao perceber que alguns homens me pediam para escolher um buquê de rosas vermelhas ou margaridas para dar de presente para suas namoradas, noivas ou esposas. Lembro-me de, um certo dia, ter atendido um senhor bem idoso que me importunou até que eu conseguisse petúnias de cor púrpura. Ele disse que eram as preferidas de sua esposa.

Eu não tinha aquela flor em especial naquele dia, mas aquele senhor não me deixou em paz até que eu conseguisse arrumar um jeito de conseguir as malditas petúnias. Como os locais que forneciam as flores para abastecer minha loja não poderiam trazer as flores de forma tão rápida — e o senhor teria que partir para Ohio no dia seguinte — precisei usar meus conhecimentos limitados de cultivos de petúnias para ajudá-lo. Expliquei que, embora sejam fáceis de semear, as petúnias são classificadas em algumas categorias e que o idoso teria que saber qual delas teria que escolher para conseguir ter sucesso ao cultivá-las. Fiquei com medo de confundi-lo.

Mas ele estava tão disposto a conseguir aquelas flores que acabei cedendo. Mostrei algumas fotos para que o senhor visse e escolhesse qual gostaria de levar. Para a minha sorte, ele escolheu a Milliflora: petúnias mais resistentes do que as outras e assim, mais fáceis de cultivar. Eu tinha algumas sementes daquele tipo de petúnia e acabei dando de graça para o senhor ao perceber que seria seu aniversário de casamento. Ele e sua esposa comemorariam meio século de casados.

"Corajoso" — eu ousei.

"Apaixonado, meu filho" — o idoso me respondeu com uma expressão sonhadora no rosto.

Acabei rindo ao balançar a cabeça, sem acreditar que isso seria verdade. Mas como poderia ser diferente se ele convive com a mesma pessoa por cinquenta anos? Poderia ser algo mais forte do que o amor que o deixou casado por tanto tempo? Culpa, talvez? Achei muito difícil, considerando o fato de que aquele senhor parecia viajar para um mundo paralelo sempre que se referia à esposa ou falava sobre o aniversário dos dois.

Era engraçado, mas bonito de se ver. Aquele senhor sabia o que era amar e ser amado. Sendo honesto e um tanto cruel, senti inveja dele. Ficava pensando se eu conheceria uma pessoa que me amasse tanto quanto ele parecia amar sua esposa. Será que ela ficaria com brilho tão intenso nos olhos que pareceriam minúsculas estrelas flutuando por entre suas íris? Será que meu nome sairia de seus lábios de forma tão apaixonada quanto quando aquele senhor falava da própria esposa? Eu achava muito difícil de acontecer.

Até aquela manhã.

Já haviam se passado três semanas desde que falei por telefone pela primeira vez com Alessa. Eu poderia apostar todas as notas que eu tinha na carteira que ela nem se lembrava mais da minha voz. Contudo, eu me lembrava de cada detalhe da voz aveludada dela. Eu poderia facilmente estar me comportando como o senhor que atendi naquele dia. Uma estranha foi capaz de livrar meu coração aprisionado do cárcere. Ela tinha a chave do cativeiro que eu nem sabia que meu coração estava preso.

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