3. Manuela

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23 de dezembro de 2014, às 14h21

Eu analisei a mochila em cima da cama. E depois desviei o olhar, a fim de verificar a quantidade de coisas que eu pretendia enfiar ali dentro. Estava meio desproporcional. É, não ia caber. Talvez, se eu levasse duas malas grandes, sim — o que estava fora de cogitação, afinal, não podia chamar muita atenção. Tinha a ligeira impressão de que meus pais desconfiariam se eu fosse para a festa de Natal com bagagens, uma vez que eu não era o Papai Noel da cidade.

— Papai Noel... — murmurei para mim mesma.

O meu foco recaiu sobre uma foto minha com o meu irmão. Há 3 anos, Allan não era mais o Papai Noel oficial de Riverhill, aliás, a cidade não tinha mais a figura do bom velhinho em suas festas de final de ano desde então... Desde que ele morrera. Durante 7 anos, meu irmão assumiu a roupa vermelha, a barriga falsa e os cabelos e barba brancos; além da responsabilidade de animar a festa e alimentar o sonho de diversas crianças.

Mas aí, a combinação de autoestrada e de velocidade jogou tudo isso no lixo quando ele tinha 24 anos. Não era ele quem estava em alta velocidade, mas a pessoa que o atropelou e fugiu sem prestar socorro.

Allan tinha o costume de correr de noite na estrada principal, quando o movimento era praticamente nulo. Sempre corria com uma camisa e tênis refletores para que os carros pudessem vê-lo. Mas, às vezes, ser responsável não era o bastante.

A polícia nunca conseguiu descobrir a identidade do motorista do veículo. Apenas suspeitava que devia ser alguém de passagem e que, de acordo com o estado do corpo de meu irmão, dirigia um carro grande e sem se importar com o velocímetro.

Minha família sem Allan era como um brigadeiro sem granulado — simplesmente não fazia sentido. Tudo sempre acabava sendo sobre ele, porque ele era a cola que nos unia. Meus pais ainda tentavam colar os nossos cacos de novo, mas eu sabia que não conseguiriam — ao menos, não os meus, e não ali naquela cidade em que cada esquina me lembrava dele.

Eu tinha que ir embora. Não conseguiria ser eu mesma se não parasse de pensar em quem poderia ter sido com o meu irmão ao meu lado.

E Nathan não entendia isso.

Suspirei irritada, era esquisito ficar tanto tempo sem falar com ele. Já havia me acostumado a ele ser a primeira e a última pessoa com quem eu me comunicava todo dia, nem que fosse por meio de um “bom dia” e um “boa noite” no Whatsapp. Mas meu celular estava silencioso, não havia nenhuma mensagem dele. Nathan não podia estar tão chateado comigo a ponto de não ir à festa amanhã, né?

 Esperava que não, pois precisaria da sua ajuda para fugir.

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