[Peraltice]

397 56 17
                                    


---

O verão de janeiro penetrava seu aroma quente na grande propriedade do senhor Mário Mendonça de Sá. Havia uma movimentação em sua residência, visto que logo celebraria seu casamento com a senhorita Camila Assunção. Estavam, deveras, muito enamorados. Amavam-se e não podiam mais adiar aquele matrimônio tão apetecido por todos ao redor daquele casal abençoado.

Mário encontrava-se agraciado na companhia de sua noiva. Desde o primeiro momento que seus olhos tiveram o deleite de deslizar pela bela estatura daquele anjo esculpido minuciosamente por Deus, amara Camila. Deveras, Cupido dera a flechada certeira, no qual ambos serviram como alvo daquele encanto delicioso. Camila, assim que conhecera Mário, amou-o e sonhou no dia em que sua esposa seria. Não tardou para o homem pedi-la em casamento e, do sonho magnífico, surgiu a realidade esplêndida.

Assim sendo, naquela sexta-feira de verão, véspera do casamento de Mário e Camila, os preparativos começavam sua agitação. Empregados punham-se a trabalhar arduamente na imensa residência do senhor Mendonça de Sá; tudo para que a festa ilustre ocorresse com a maior das perfeições.

Diante de tal cenário, convidados hospedavam-se na propriedade de Mário; pessoas que de longínquas regiões vieram. Dentre eles, Augusto Matias Novais, um jovem recém-formado na arte das leis. Outro cavalheiro ilustre era Otávio Pacheco de Melo, sujeito bonito e de bigodes lustrosos, médico respeitado da região interiorana de Campinas. Quanto às damas, estas eram a bela Irene e a gentil Laura.

Irene Penteado Gonçalves era filha do rico industrial Dorival Gonçalves. Amada e amante de Otávio, encontrava-se às escondidas com seu adorado pretendente, já que o pai era contra tal romance e desejava que Irene afeiçoasse pelo rapazote garboso que era Augusto. Este último ansiava pelo coração da jovem Irene e, com a ajuda do pai da moça, tentava afastá-la de Otávio e arquitetava jeitos dela se enamorar por sua pessoa. Contudo, a única coisa que Augusto conseguia era afastar ainda mais a jovem donzela.

Laura Nassau Guimarães, por sua vez, amava de toda alma a Augusto. Porém, este, cego pela obsessão que tinha por Irene, não notava a pobre moça tímida. Ela, em sua insegurança, apenas o observava de longe, sonhando com o dia que percebesse seu amor por ele e, finalmente, selassem um relacionamento apaixonante. Romântica, Laura deixava-se levar por suas fantasias pueris, iludindo-se mediocremente com a ideia de Augusto desejá-la como mulher.

Os quatros faziam parte do vasto público que celebraria o casamento de Mário e Camila, programado para o dia seguinte. Como eram de cidades distantes, foram honrosamente hospedados pelo senhor Mendonça de Sá. Cada qual com seu dormitório, podiam desfrutar dos luxos proporcionados pela grande residência.

Como o senhor Dorival Gonçalves não pudera antecipar sua ida às vésperas do casório, permitira que apenas a filha o fosse, com a promessa de ter sua presença no sábado, dia da cerimônia. Cauteloso, pedira a Augusto para cuidar da filha e ficar de olho no bastardo que queria desonrá-la. Qualquer aproximação de Otávio, Augusto tinha permissão de interceder por sua pura Irene. Alegre pela confiança depositada, o advogado garantiu pela segurança da senhorita em questão, afirmando rechaçar o intruso que atrapalhava seus planos de ter Irene como esposa.

Do lado menos pomposo da residência, observando esses curiosos personagens, um garoto muito traquina — inquieto como a idade o exigia — assistia aos enamorados com bastante graça. Achando-os ridículos por estarem envolvidos em uma trama descomunal, o menino acreditava que deveria ter sua participação naquele causo inexplicável aos seus olhos infantis. Bastava o casamento de seus patrões e seu romantismo pairando em um ar sufocante da quente cidade ribeirão pretana; o guri não precisava de mais delongas de casaizinhos tolos de outros lugares.

Amores TrocadosOnde histórias criam vida. Descubra agora