[Confusões]

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Tamanho fora o susto que a senhorita Laura Nassau Guimarães levara ao receber dois bilhetes de dois supostos cavalheiros a querer cortejá-la. Mais absurdo ainda eram os pretendentes: de um lado, o médio Otávio, cujo amor e devoção sempre foram de Irene; do outro, Augusto, a quem ela sempre amou, mas nunca havia sido retribuída, desde então.

Assim, naquele espanto, misturando-se com sensações nunca dantes acometidas pela dama, Laura ficara petrificada. Com as mensagens em mãos, releu a primeira.

− Oh, Céus, isso não pode ser verdade! Otávio sempre amou à Irene... Estranho, pois o garoto garantiu-me que Otávio havia pedido para entregar o bilhete a mim, e de forma sigilosa. Deus, será que ele apaixonara-se por mim? Ou, pior, sempre fora encantado por minha pessoa, e viu em Irene uma forma de aproximar-se de mim? Oh, minha cabeça dói! Nada faz sentindo, nem mesmo minhas suposições... O que Otávio quer comigo? Encher-me de perturbações! Ocupar-me com a culpa de ter roubado o amor da vida de minha amiga tão estimada! Que sujeito imundo e desrespeitoso.

Laura continuou a questionar sobre a inusitada declaração do médico. Cansada de cogitar hipóteses mirabolantes, foi ao bilhete seguinte, o qual lhe agradava mais, embora fosse muito inesperado.

− Augusto ama a mim? Oh, Céus, eu não poderia desejar nada mais maravilhoso! Mas, como? Quando? Eu nunca havia notado nada... Ele, sempre a almejar a mulher já pertencente a outrem; sempre a rastejar por Irene, subitamente, percebera que ama a mim? Isso é espantosamente absurdo! Não compreendo, mas meu coração não se aquieta e vejo-me em frenesi diante de tal fantasioso fato. Deus finalmente abençoara-me com tal graça divina?

Suas inquietações foram dispersas com a repentina chegada de Irene. Ao escutar a amiga bater à porta de seus aposentos, Laura logo escondeu os bilhetes e fora ao encontro da outra.

− Conversavas com alguém, querida?

− Comigo mesma.

− Pensamentos altos, Laura – observou Irene. – Espero que, ao relatar-te um segrego, tu não o divulgues com teus devaneios incriminadores.

− Um segredo? Não sei se suportarei mais emoções neste dia.

− A quais outros tu te referes?

− Ora, Irene, esqueças... Toleimas de minha parte.

− Então, chega de necedades! – sorriu a moça, jovialmente. – Senta-te, pois o segredo é de extremo teor.

− Oh, Céus, será que meus pobres nervos suportam saber?

− Estás deveras dramática, Laura – ralhou Irene. – Queres ou não saber?

− Conte-me – suspirou, jogando-se na poltrona.

− Otávio e eu fugiremos para casarmo-nos!

Irene, ao pronunciar-se, agitou-se em uma alegria infantil, dando pulinhos e batendo palminhas tolas. Laura, por sua vez, empalideceu-se e voltou a ficar em pé, diante da amiga.

− Não podes fazer isso, Irene! É arriscado e errado.

− Ora, parece que estou a conversar com meu pai – rebateu a filha de Dorival Gonçalves. – Não há nada de errado em casar-se.

− Às escondidas, há sim! Além disso, há outro problema...

− Não quero escutá-la, Laura! – Irene enfurecera-se com a amiga. – O único problema aqui é tua oposição quanto à minha fuga. Se não vais apoiar minha escolha, ao menos prometas sigilo. Meu pai deverá descobrir apenas quando eu for a senhora Pacheco de Melo.

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