[Resoluções]

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O sábado fazia-se festivo para a comemoração do casamento de Mário Mendonça de Sá e Camila Assunção. Antes da despedida até o reencontro no altar montado no jardim, os noivos deram-se carinhos e afeições.

− Amo-te, minha doce Camila. Daqui a algumas horas estaremos casados.

− Amo a ti também, querido Mário – sorriu a gentil senhora. – Estou ansiosa para o tão aguardado momento.

− A ansiedade a mim também pertence – confessou Mário, alegremente. – Tanto que não tive tempo o suficiente para dedicar-me à calorosa recepção aos nossos convidados.

− Eu tampouco, querido. Na verdade, notei, esta manhã, um silêncio muito desconfortante à hora do desjejum. Será que algo acontecera aos nossos hóspedes?

− Sabes muito bem que Otávio e Augusto não se dão, pois disputam o coração de Irene.

− E Laura costuma ser calada.

− Exato! – assentiu o homem. – Assim, minha flor, nada de incomum.

− Mas percebi que Augusto, ao invés de focar sua atenção à Irene, observava Laura com certo ar de dúvida. Laura, por sua vez, mirava a Otávio, como se o censurasse. Irene tentava chamar a atenção de Otávio, por meio de olhares sugestivos, mas o rapaz manteve-se sério durante todo o tempo que permanecemos juntos. Não os acompanhei no café da manhã por um período prolongado, porém, o pouco que fiquei, estes detalhes não passaram despercebidos a mim.

− Acreditas, pois, que algo ocorrera?

− Acredito que sim.

− Bem, seja lá o que for, não devemos nos intrometer – concluiu Mário, aplicando um beijo cândido em sua futura esposa. – Os problemas aos jovens pertencem.

Na biblioteca, Otávio concentrava-se em sua leitura, embora, constantemente, remoía-se pelas palavras árduas de sua amada. Como se seu pensamento houvesse tomado forma, Irene aparecera à sua frente, fechando a porta do ambiente para que pudesse ter uma conversa em particular com o doutor.

− Querido, pensei que iríamos conversar para acertarmos o nosso plano.

Afastando os olhos de sua leitura, Otávio mirou à Irene, perplexo.

− O que queres de mim? – indagou, furioso. – Enlouquecer-me?

− Otávio, por que falas assim comigo? – Irene espantou-se pela raiva do rapaz.

− Ora, não te faças de dissimulada!

− Eu não o compreendo, senhor! – disse, controlando as emoções. – Por que me tratas como uma qualquer?

− Porque tu trataste-me do mesmo modo.

Sem direito de resposta, Irene ficara sozinha na biblioteca, cujo local tivera a ausência da figura ressentida de Otávio. Não havendo ninguém para observá-la, a moça deixou-se chorar, confusa pelo ataque de raiva do homem que havia escolhido para ser seu amante. Teria Otávio se arrependido do plano?

Em seus aposentos, Laura enfeitava-se diante do espelho da penteadeira. Sonhadora, a moça ainda encantava-se pela carta de Augusto, esperançosa pelo dia que se tornaria a esposa do advogado. De súbito, escutara batidas na porta; rapidamente, ajeitou as madeixas e fora ao encontro do intruso que a despertara das fantasias. No entanto, para sua felicidade, a imaginação materializava-se à sua frente. À porta, Augusto pedira à moça para ter-lhe uma conversa em particular.

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