Secret

509 27 6
                                    

Não conseguia tirar Lauren de minha cabeça. O jeito que ela me botava medo, o teu jeito provocativo. Ela não sentia culpa de nada, ela não sentia culpa de ter tirado a vida de uma mulher inocente. Eu não sei o que mais me horrorizava: o fato dela ter matado aquela mulher ou de ao menos não se importar com isso. Mas Céus, porque uma babaca tinha que ser tão linda? Ela parecia um anjo moreno, mesmo eu sabendo que ela não era exatamente assim por dentro.

Eu não deveria estar pensando em assassinas enquanto eu já tinha problemas o suficiente para cuidar. Daqui a pouco eu deveria ir para ao grupo de apoio para eu poder conversar sobre meus problemas e me abrir para os que, supostamente tinham os mesmos problemas que os meus.

Eu odiava esse grupo de apoio, eles me faziam ficar presa naquela sala durante umas duas horas, e eu me sentia sufocada, eu odiava me abrir com as outras pessoas, elas não precisavam saber da minha vida e tão pouco eu da vida delas.

Abri minha gaveta e peguei outra caixa de cigarros e comecei a andar para a sala. Pelo jeito, não fui a primeira a chegar, eu consegui ver pelo vidro alguém sentado em uma cadeira, mas ainda não tinha conseguido identificar quem era. Entrei na sala e pude ver quem estava lá, Lauren Jauregui, sendo mantida por algemas e vigiada por dois seguranças. Será que ela era tão perigosa assim? Comecei a sentir algo que não sabia exatamente o que era, algo entre horror e compreensão, eu não conseguia entender.

A aula de apoio começou. A Sra. Lucy pediu para nós fazermos duplas com quem mais entediamos dessa sala e conversar. Chamei a menina do meu lado, acho que seu nome era Hannah, porém antes que pudesse completar minha frase, ouvi uma voz atrás de mim.

- Eu vou ser sua dupla, bebê. - Lauren disse para mim, o que me fez arrepiar. Ela de novo.

Pude ver que suas algemas tinham sido retiradas de seu pulso, porém seu pulso havia pequenas marcas vermelhas.

- Eu não te entendo e tão pouco te conheço. - disse.

- Ótima oportunidade, não acha, bebê?

Queria responder não, porém minha consciência era mais forte que minha vontade, então apenas balancei os ombros.

Ela pegou a cadeira que estava do meu lado e colocou na minha frente. O que ela queria de mim?

- Você tem medo de mim. - ela disse.

- Eu não tenho medo de você.

- Você não precisa ter medo de mim, bebê. - ela disse debochadamente.

- Além do fato de você ter matado uma mulher inofensiva? E já disse que não tenho medo de você, porra.

- Ui, ficou estressadinha, calma ai. Estou apenas começando.

Respirei fundo e ignorei essa última fala para não perder o meu juízo ou minha consciência.

- Me conta sobre você, bebê. - ela disse colocando algumas mexas do seu cabelo para trás.

- Bem, eu não gosto que estranhos me chamem de bebê, em primeiro lugar.

- Desculpe, Camila Cabello. - ela cuspiu

- O que você quer comigo? - eu perguntei

- Não vá se achando muito importante. Você me deu um cigarro, estou apenas retribuindo o favor.

- Favor? Eu não preciso que você me entenda.

- Você é tão louca quanto eu.

- Além do fato de você ter tirado a vida de uma mulher inocente?

- Você tentou tirar sua própria vida, do que você ta falando? Você é tão louca quanto eu.

Essas últimas palavras me atingiram e senti minha garganta secar e meus joelhos fraquejarem. Quis falar alguma coisa, berrar, mas a única coisa que saiu da minha boca foi saliva. Tentei me recuperar e disse em um tom mais baixo do que planejava:

- Como você sabe disso?
- Eu sou louca, não é verdade? Eu sei de tudo. Eu sou o "diabo".
- COMO VOCÊ SABE DISSO? - eu gritei e todos que estavam no salão me olharam

Um vazio pairou no ar. Seus olhos se fixavam no chão e ela parecia culpada.

- Os arquivos. Eu estava olhando arquivos de "homicídio" para procurar os meus, quando achei os de "suicídio", e seu nome e mais de alguns estavam lá. - ela disse com um certo de tom de culpa. Percebi que ela tinha parado com seus joguinhos, ou era isso que eu achava.

- Você é louca. - foi a única coisa que consegui gritar antes de sair correndo para fora da sala e ir para o gramado.

Isso era um segredo. Um segredo que agora uma assassina sabia e podia fazer o que quiser com ele. Consegui manter esse segredo por todo o tempo que estava aqui. Cada vez que alguém me perguntava o que eu fazia aqui, eu inventava uma desculpa diferente. Não que ninguém daqui já tinha tentado se suicidar, mas era diferente. Eu sentia vergonha de ser uma suicida. Acredito que minha mãe teria preferido que eu fosse uma psicopata do que ser uma suicida.

Peguei um cigarro e o acendi. Expirava a fumaça de uma forma meio dolorosa, como minha primeira vez que provei um cigarro. Lágrimas começaram a escorrer pelas minhas bochechas e simplesmente não consegui parar, até que vi um segurança vindo em minha direção.

SuicideOnde histórias criam vida. Descubra agora