•Capítulo 2•

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ANTES

Eu ainda estava enjoada e tonta, mas firme e forte limpando toda a casa. Provavelmente todo meu abalo emocional e psicológico pela perda acarretou tudo que houve comigo. Já tinha limpado o banheiro e a sala, depois fui para a cozinha quando escutei movimento no sofá.

O homem acabara de acordar, depois de ter sido baleado por mim.

Me surpreendi por ter atirado em alguém? Claro. Mas não podia ser tão ingênua a ponto de achar que qualquer pessoa que aparecesse seria para me ajudar.

Um ano com Malcolm me tornou muito desconfiada.

Não demorei muito em observá-lo, continuei meu trabalho com afinco, precisava me livrar daquela sujeira toda e seguir com meus planos originais antes desse intruso aparecer em meu caminho.

Pouco tempo foi necessário para o homem estar ao meu lado, um tanto relutante e receoso.

- Não devia ter dormido. Me desculpe aparecer assim do nada, mas era o que o Sr. Samuels havia combinado comigo. – Quando ouvi "Sr. Samuels", estremeci. – Ele foi categórico quando me informou que a senhora poderia não querer me receber.

Me virei para a esquerda, finalmente podendo encarar os olhos do homem sem tanto receio. Minhas mãos se mantinham sob a água da pia, lavando a esponja cheia de sabão.

- Ele falou muito sobre mim?

Podia parecer bobo, mas qualquer lembrança, informação ou registro que Malcolm tivesse sobre o passado, eu queria saber. Tudo amenizava um pouco a dor excruciante que meu peito sentia sem cessar.

Ele assentiu.

- Me disse que era muito teimosa. – Deu de ombro com o ombro são. Depois estendeu a mão para o registro da torneira, cerrando a corrente de água da bica. – Eu não quero incomodá-la, mas estou aqui para ser útil e cumprir o que me foi determinado. Me permite ajuda-la?

Foi quando notei que meu olhar estava repleto de lágrimas. O homem me olhava com pesar, algo semelhante a pena.

Eu não estava nada bem. Definitivamente.

- Tenho como escolher? – perguntei, respirando fundo, enxugando a lágrima tentando me manter forte.

Ele abaixou o olhar.

- Infelizmente não, senhora Samuels. Precisará da minha ajuda por um tempo. – Depois elevou os olhos novamente, me fitando com mais intensidade. – Prometo ser invisível quando precisar. Sou bom nisso.

Assenti, sem alternativa e larguei a esponja, que até então, não tinha notado estar esganando com a mão. Passei por Joshua me pondo à caminho do quarto.

O lugar onde as lembranças vinham com tanta facilidade. Lá tinha as roupas dele, o cheiro dele, nossas fotos e suas cartas. Lá havia também a cama onde fizemos amor horas antes.

Onde consumamos o tanto que desejávamos um ao outro.

Ao fitar a cama imensa ainda bagunçada cheia de roupas dele, me joguei e me permiti despedaçar-me mais uma vez. Era como se eu não mais existisse e meus cacos estivessem espalhados pelo cômodo, procurando pela outra metade da minha alma.

Metade essa que não mais existia.

(...)

Não sei quanto tempo passou, mas eu acabei caindo em um sono repleto de lembranças ainda frescas na minha mente. Queria ter ficado lá, nas lembranças, mas a realidade é cruel e me trouxe de volta na primeira oportunidade.

RIVKA e o elo perpétuo (2) (AMOSTRA)Onde histórias criam vida. Descubra agora