Eu nunca havia tido sinais de claustrofobia em todos os meus 22 anos de vida, mas ali naquela caixa de aço em movimento eu sentia que estava quase sem ar, então sim, talvez aqueles fossem os primeiros sinais de um caso grave de claustrofobia ou eu só não sabia lidar com o fato de que estava sozinha naquele espaço limitado com aquela criatura de olhos verdes que tinha um cheiro incrivelmente bom e uma presença de certa forma intimidadora. Quem cheirava assim no fim do dia? Eu mal tinha cheiro de desodorante no fim do dia e ele continuava com aquele cheiro incrível, como se tivesse acabado de borrifar perfume. Enfim, prefiro acreditar que estava tendo uma crise claustrofóbica mesmo e que essa sensação de ar faltando iria acabar assim que eu saísse daquele elevador. Na minha cabeça a teoria louca de Maria Luiza ecoava poderosamente e eu implorava pra que o bendito elevador não inventasse de falhar justo hoje. Me fazia também uma nota mental de xingar aquela bruxa da minha amiga e colega de apartamento.
Era coisa da minha cabeça, mas eu poderia jurar que excepcionalmente hoje os quinze andares que nos separavam do térreo estavam muito mais distantes do que eu percebera antes, ou o miserável do elevador deveria estar com algum tipo de problema técnico que o deixava mais lento. Eu olhava incessantemente para os números no visor que indicavam os andares na parte de cima do elevador, enquanto o homem ao meu lado mostrava uma postura despreocupada digitando ao celular e encostado a parede oposta a que eu me encontrava, já eu parecia mais estar segurando do que me encostando na parede. Eu já encarava ansiosa a contagem regressiva dos andares quando finalmente a letra "T" que indicava o térreo surgiu no visor. Ajeitei meu blazer, que eu segurava dobrado sobre o braço, e a minha bolsa pendurada sobre o ombro esquerdo pronta pra sair dali e respirar direito. A porta se abriu e eu não sabia se saía primeiro, ou se deixava ele ir na frente, não queria correr o risco de esbarrarmos um no outro. Foi aí que ele tranquilamente estendeu a mão indicando pra que eu fosse primeiro e abriu um sorriso, que eu consideraria até indecente, naqueles lábios.
- A senhorita primeiro, por favor. - Disse gentilmente. Eu não disse nada só acenei com a cabeça e sai andando logo, sentia o peso dos olhos verdes sobre minhas costas e logo percebi sua presença ao meu lado, instintivamente olhei pra ele e pude ver que ele mantinha o mesmo sorriso, o qual eu podia jurar ter uma mistura de diversão e malícia.
- Senhor Styles! - Um homem de meia idade, que deveria ser responsável pela recepção do prédio naquele horário, o saudou e passou a olhar brevemente para mim sorrindo gentilmente, mas depois se direcionou novamente para o rapaz ao meu lado. - Que bom que os senhores conseguiram descer tranquilamente, hoje tivemos duas reclamações de que este elevador estava parando entre alguns andares, até pedi para colocarem um aviso de manutenção em cada andar para não ter problema de alguém ficar preso neste horário, mas acredito que os senhores o pegaram antes que o aviso fosse colocado. - Engoli em seco ao ouvi-lo terminar de falar. Maria Luiza iria ser incrivelmente xingada hoje.
- Obrigada por nos avisar James, mas achei a viagem de elevador até o térreo hoje excepcionalmente tranquila e normal. Não tivemos nenhum problema. - Eu podia jurar que ouvi ele sussurrar acrescentando um "Infelizmente" ao fim da frase, mas resolvi deixar pra lá, com certeza era coisa da minha cabeça, quem ia querer ficar preso no elevador àquela hora? Provavelmente só seríamos resgatados no dia seguinte pela manhã, nenhuma empresa de manutenção trabalharia aquele horário.
- Que bom que chegaram ao térreo em segurança, amanhã pela manhã a equipe de manutenção já estará aqui para solucionar o problema. Uma boa noite para o senhor e para a senhorita! - James sorriu por fim voltando-se para o telefone da recepção que tocava.
- Até amanhã senhorita Fay, tenha uma ótima noite. - Só percebi que ele me olhava no instante em que ouvi a sua voz rouca acompanhada de um sorriso com aquela mesma mistura, me pergunto se ele fazia isso propositalmente ou se não sabia sorrir de outro jeito. Ele nem esperou que eu respondesse e se virou caminhando até a porta grande que indicava a área de estacionamento do prédio. Eu só tentava digerir a surpresa e curiosidade de entender como ele sabia meu sobrenome. A parte mais racional de mim dizia que era óbvio já que eu era provavelmente a mais recente contratada da empresa que era metade dele e de sua família, o homem deveria conhecer seus funcionários. "E as funcionárias então, melhor ainda." Minha mente fazia uma piadinha não me deixando esquecer daquele dia no banheiro. Mas algo me dizia que isso não era tudo, será que ele procurou saber sobre mim depois da primeira vez que nos vimos? Será que preciso me preocupar com futuros problemas relacionados á isso? Ou ele já me conhecia antes? Não queria nem pensar na possibilidade de ter problemas, essa oportunidade na empresa era muito importante pra mim. Eu nunca saberia a não ser que perguntasse a ele, e isso não era uma coisa que eu estava totalmente disposta a fazer.
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Ride - HS
عاطفية"Been trying hard not to get into trouble, but I.. I've got a war in my mind.. So, I just ride, just ride.. I just ride, I just ride.." Lana Del Rey Seguir em frente, deixar tudo que te liga a um passado que não faz mais parte de você, seguir sozin...