first chapter.

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2013.

Hoje eu acordei com a luz do sol invadindo minha janela e indo direto para o meu rosto. Mas era um daqueles dias em que havia apenas luz do sol, o calor não se fez presente, e aquela brisa da manhã fazia os meus pelos se arrepiarem.
Olhei para o lado e vi meus amores Ana e Leon dormindo, serenos. Me levantei pois quis continuar admirando o sol e sentindo a brisa de Berlim que era única. Fui a varanda e vi lá ele, que também estava acordado admirando o sol e sentindo a brisa, e fiquei me perguntando sobre sua vida. Um homem tão misterioso, que não sabia o nome, mas apenas seu olhar entregava sua dor e solidão.
Ele era um homem perdido. Despertei dos meus pensamentos quando vi ele virando para entrar e apenas disse:
- Bom dia. – Sorri de canto.
- Bom dia Claudia, dormiu bem? – O mesmo pergunta com os braços cruzados sentindo um leve frio.
- Dormi, esqueci as cortinas abertas de novo e acabei acordando com o sol. E você?
- Mal dormi, fiquei acordado. Pensando... – Ele passa por mim entrando em nosso apartamento. Vou atrás dele.
- Pensando? No que? – Perguntei curiosa, pensando que ele iria falar algo sobre sua vida que era mais um tiro no escuro para mim.
- Em nada. Vai querer ovos fritos de café da manhã?


5 anos antes.
[...]
Hoje era dia de trabalho. Arrumei toda a mala colocando as maquinas fotográficas e esperando meu marido e meu filho se arrumarem também. Iriamos para um lago e estava ansiosa, pois adorava fotografar os patos na água, cisnes e gaivotas.

- Você está linda cariño. - disse Sergio, meu marido.
- Linda? Aonde? - dei uma risada fraca, e o beijei. Estou vestindo um vestido branco solto, e sandálias, era um dia quente.
- Você está sempre linda. - ele abraça minha cintura do jeito que eu mais gosto e fico encarando seus belos olhos verdes.
- Mamãe!!! - Carlos vem puxando meu vestido e saio do abraço de Sérgio para pegá-lo no colo. - Vamos logo, não quero chegar tarde no lago.
- Você tem razão querido, vamos mesmo. - Meu filho sai correndo, pegando na mão de seu pai e eu fico sorrindo olhando os dois e sabendo o quão sortuda e feliz eu sou por tê-los em minha vida. Pego o equipamento e vamos para o lindo lago.

Chegamos rápido, estava meio vazio mas ainda tinha algumas famílias fazendo um pequeno piquenique. Pegamos uma área coberta pelas árvores, e enquanto eu arrumava tudo para começar a fotografar meu marido pegava alguns aperitivos para dar as tartarugas do lago.
Eles estavam lá. Apenas jogando alguns pedaços de frutas para as tartarugas. Sorrindo. Sendo felizes. E eu fotografava aquele momento como se fosse o último... Não sabendo que seria o último.
Sergio tinha ido a uma lojinha que tinha por ali, comprar alguns chaveiros que Carlos amava colecionar. Enquanto o próprio ficava alimentando as tartarugas, e eu estava longe tirando fotos a distância...
Infelizmente meu pequeno escorregou e acabou caindo no lago, não tínhamos ideia da profundidade e sabíamos que nosso garoto de 6 anos não fazia ideia de como nadar. Eu corri o mais rápido que pude e pulei na água, mas não estava mais vendo ele. Sergio chegou e percebeu meu desespero e a falta que Carlos fazia e pulou também. Não encontramos ele.
Chamamos bombeiros, policiais, tudo e encontraram o corpinho dele. Meu querido bebê. Eu me senti impotente, por que tinha que estar tão longe naquele momento? Como pude deixá-lo sozinho? A culpa invadiu meu peito e eu não conseguia parar de chorar e nem olhar para meu equipamento fotográfico. Sergio os guardou, e fomos para casa enquanto meu filho era levado ao IML. Precisávamos juntar forças para o enterro dele, e foi a coisa mais difícil que fiz em minha vida.

Eu e meu marido passamos a noite juntos, mas após o enterro ele não falou comigo. Eu sabia muito bem o que aquele silêncio significava.
Ainda no cemitério, eu disse:
- Eu sei que foi minha culpa.
- Ótimo. - ele disse em um tom ríspido.
- Eu realmente sinto muito... - Comecei a chorar novamente.
- Sentir muito não vai trazer nosso filho de volta. - ele saiu de lá o mais rápido possível, e eu fiquei fora de casa o dia todo.
Quando cheguei notei que ele havia me deixado.

Após uma semana, descobri que Sergio tinha se suicidado. Eu perdi meu filho e meu marido para uma estúpida foto. Nunca mais toquei em uma câmera fotográfica, até hoje.

2013.

10.000 noches en ninguna parte. Onde histórias criam vida. Descubra agora