third chapter.

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2009

Fazia um ano que meu marido e filho haviam morrido e eu simplesmente me afundei. Como não trabalhava mais com fotografias, arranjei alguma coisa meia boca para não ficar sem dinheiro mas cai numa depressão horrível.
Todos os dias, o tempo todo eu queria morrer. Eu queria que tivesse sido eu ao invés do meu filho, e ainda hoje quando algumas pessoas me pedem para fotografar aniversários, batizados, casamentos e afins uma parte de mim morre mais por dentro.
Eu comecei a beber um mês depois da morte deles, e não parei mais. Fiquei uns 3 meses apenas nisso, bebendo, passando noites fora de casa passando mal, mas não parava porque simplesmente era a única coisa que me deixava viva. Me trazia uma alegria momentânea e me fazia esquecer dessas tragédias horríveis. Eu sabia que era minha culpa.

Eu parei de beber durante a semana por conta do trabalho, mas continuava todos os finais de semanas, de sexta a domingo. E era mais um final de semana de 2009, fui para uma balada nova em Berlim, era grande e parecia ser ótima. Como sempre ia sem alguma companhia e criava amizades noturnas, que apenas duravam aquela noite ou no máximo um sábado a mais. Porém, aquela noite de sexta ia mudar minha vida pra melhor.

Já havia passado da meia noite e eu já estava no meu sétimo shot de tequila, além das outras doses de whisky que havia tomado. Resumindo: eu já estava bêbada além da conta.
Porém, eu comecei a sentir fortes dores no estômago, e vomitei nos lixos que estavam nos cantos da balada. Acabei desmaiando e acordando em um quarto no outro dia. Claro que acordei assustada mas acordei bem...
Eu levantei e sai do quarto porque estava escutando algumas vozes vindas de fora, e quando segui aquelas vozes vi duas pessoas. Um homem e uma mulher.
- Olá moça - disse o homem com um sorriso reconfortante.
- Oi... - eu disse tímida. - Desculpa mas quem são vocês?
- Eu sou a Ana e esse é o Leon - a mulher me respondeu apontando para a poltrona para me sentar.
- Eu sou a Claudia. Mas como eu vim parar aqui? - perguntei me sentando onde Ana havia indicado.
- Bom, vimos você passando mal ontem e já estávamos de olho em você, simplesmente você desmaiou e reparamos que estava sozinha. Ai pegamos você e trouxemos pra casa, trocamos sua roupa suja e deixamos você dormindo. - disse Leon.
- Muito obrigada, nossa. Nunca tinha acontecido isso comigo... Mas eu já vou para minha casa, não quero incomodar mais. - eu falei me levantando.
- Você não incomodou, nós decidimos te ajudar porque te vimos sozinha mas você tem alguém para ligarmos? É melhor você não ir sozinha. - Ana falou levantando também e ficando na minha frente.
- Não tenho ninguém... Mas tudo bem.
- Fica com a gente - o homem com o sorriso reconfortante também ficou parado em minha frente, segurando a mão de Ana.
- Vocês são um casal? - perguntei olhando as mãos dadas.
- Temos um relacionamento aberto, sabe? Uma coisa mais poliamor - ele respondeu beijando a mulher. Eu fiquei em silêncio apenas observando a cena e pensando o quão eles foram gentis e bons comigo, e o quão cansada eu estava de ficar sozinha.
- Bom... Se não for incomodar, eu fico com vocês. - eu disse sorrindo.
Eles sorriram de volta e me abraçaram, eu me assustei com aquele afeto físico logo de cara mas fiquei aliviada. Era a primeira vez que me sentia assim em um ano.
Depois desse dia, Leon e Ana viraram minha família. Era eles por mim e eu por eles. Viramos esse poliamor juntos, íamos a baladas juntos, tomávamos banho juntos... com eles superei os meus medos e voltei a viver novamente. Com eles amei e senti amor, com eles a culpa diminuiu e eu voltei a ser feliz como era.
Meus meninos estavam em meus pensamentos o tempo todo, e as vezes ainda sentia toda a dor da morte deles, sentia culpa, tinha pesadelos. Bom, eles eram a minha vida. Foi extremamente difícil conseguir viver depois disso, mas eu consegui graças a esses dois.
E tenho certeza que se não fossem eles aquela sexta feira a noite, eu teria me matado lentamente cada fim de semana a mais.



esse foi um pouquinho maior, voltei no tempo de novo.
me digam o que acharam! ♡

10.000 noches en ninguna parte. Onde histórias criam vida. Descubra agora