Como eu estava proibido de sair e ir até Finn, Finn veio até mim.
Ele rolava pelo lençol da minha cama e esfregava-se nele como um anjinho de neve, dizendo nunca ter experienciado tamanha maciez. Engraçado, pois na noite passada eu pude sentir o aconchego mais fofinho sobre o meu rosto na sua própria pele. Será que ele não possuía tato?
— ... E foi por isso que demos o nome do nosso cachorro de Fred. – Finn terminou de contar toda a sua ligação com o cantor Freddie Mercury e como sua mãe amava Queen.
— A gente podia ouvir juntos essa banda, parece bem legal. – Sugeri.
— E é! Temos um tanto daqueles CDs grandões e pretos deles na sala de casa.
— CDs grandões? Você quer dizer discos de vinil, não é?
— Acho que sim. Aqueles que tocam na vitrola.
Eu realmente me sentia um chato perto dele, sem nada de interessante para mostrar ou conversar. Jolivet morava em uma casa de praia, tinha um avô legal, um ótimo gosto musical e verões exóticos para uma nova história a cada ano. Conjunto de características e pertences que anulava qualquer indício de chatice em suas conversas, seja qual for o assunto. Mas acho que mesmo vivendo em uma cidade chata e caótica como a minha ele daria um jeito de criar aventuras surpreendentes e cativantes.
Nossos corpos estavam inteiramente deitados na cama, deixando apenas nossas cabeças para fora e os cachinhos de ambos balançando à poucos centímetros do chão.
De cabeça para baixo, consegui ver algumas conchinhas esparramadas pela superfície do armário onde guardava as minhas roupas. Imediatamente lembrei da minha "surpresa" para ele e o sentimento de auto-desinteresse foi substituído por puro entusiasmo.
— Finn, me mostra o seu pulso. – Pego um fio quase cheio de conchas.
Ele me mostra o seu pulso e contornando o projeto de pulseira ao redor dele, percebo que é muito mais fino do que eu pensava. Tiro algumas conchinhas que sobraram e faço dois nós bem fortes na ponta.
— Fiz duas pulseirinhas com as conchinhas que você me deu. Como é muito difícil furar sem quebrá-las, minha mãe ajudou colando-as. – Coloquei o utensílio em volta do seu braço e um outro que já estava pronto no meu.
Finn me agradeceu da forma mais fofa e inesperada possível: beijando várias vezes o meu rosto.
— É muito lindo! Agora podemos carregar a nossa amizade pra qualquer lugar que formos.
Aquilo realmente alegrou-o, e automaticamente sua alegria contaminou-me também. Sua amizade tornava-se aos poucos parte de mim. Não queria que aquelas férias acabassem nunca, e, por mais que minha imaginação fértil me fizesse fantasiar diversas situações com o meu amigo, nenhuma delas assemelhava-se comigo deixando Finn e a praia.
Após a entrega do presente, começamos a brincar de detetive, o primeiro jogo de tabuleiro que achei no baú do meu quarto.
E embora o assunto sobre família já tivesse cessado faz tempo, uma dúvida brotou na minha cabeça.
— Finn, me desculpa perguntar, mas você tem um pai? Não me falou sobre ele ontem. – Indaguei, receoso.
Ele largou a carta que estava na sua mão e um sorriso abriu nos seus lábios — reação contrária da qual eu esperava.
— Meu pai vai estar na TV amanhã! Quer ver ele? – Perguntou empolgado.
— Na TV? Tipo... em um programa?
— É, num campeonato.
Aceitei o segundo convite que recebi do garoto naqueles dias. O resto da tarde foi apenas eu, Finn e jogos, até ouvirmos ele sendo chamado pelo avô e consequentemente voltando para o seu sobrado.
Horas depois a noite caiu, porém sua dupla essencial denominada "sono" traiu-a e a mim também pela primeira vez, então restando-me ir até a janela do quarto ver se a lua estava tão bonita quanto na noite anterior. Mas o sobrado de Finn tampava-a, o que não era algo tão ruim, já que a janela do seu quarto de frente para a minha estava aberta, sendo possível vê-lo admirando o meu presente e contando quantas conchinhas coloquei no elástico.
Havia guardado um pouquinho dos meus sentimentos em cada uma — os quais Finn afirmou serem construídos durante a amizade que o mesmo entregou-me numa simples concha. Mas confesso que fiquei com medo de não couberem nas curvas quase retas e espirais tão pequenos das valvas coletadas.
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𝐀𝐒 𝐄𝐒𝐓𝐑𝐄𝐋𝐀𝐒 𝐌𝐄 𝐂𝐎𝐍𝐓𝐀𝐑𝐀𝐌, 𝗳𝗮𝗰𝗸
FanfictionEram apenas crianças com seus pés enterrados na areia da california, brincando com conchinhas de todas as formas, sorrindo um para o outro sempre que o sol aquecesse seus coraçõezinhos naquele verão. Não tinham noção do que suas palavras significava...