A praia estava ensolarada, porém os raios de luz não eram tão fortes a ponto de queimarem alguma pele exposta pela curta roupa de banho dos turistas presentes naquela manhã. Esse foi o argumento – com palavras menos sábias para uma criança de 9 anos – que usei para minha mãe não me lambuzar de protetor solar e me fazer entrar na água após longos minutos, quando finalmente estivesse seco. Mas nada do que eu disse adiantou e lá estava eu, sentado sobre uma toalha velha, com minha cara emburrada esperando o creme branco sobre o meu rosto secar.
O menino do dia anterior apareceu como mágica na minha frente, catando conchinhas de variadas cores e colocando os montes de areia mais fofinhos num baldinho com uma pá de plástico.
Era a minha chance. Tentei pensar em alguma coisa legal para dizer. Mas ele passou na minha frente:
— Pede pra sua mamãe comprar o protetor do peixinho, ele seca bem mais rápido. — Disse ao se sentar sobre a toalha também e ergueu o seu ombro para mostrar-me o peixe de papel vermelho colado na sua pele.
Queria responder algo, mas simplesmente travei. Ele era muito mais legal do que pensava. Ele era o tipo de criança que usava o protetor do peixinho!
— Se quiser eu posso te emprestar o meu, aí a gente usa juntos amanhã. — Continuou mesmo percebendo a minha quietude.
Quando ouvi isso, senti que um sorriso estava por vir. Eu ainda não havia falado uma palavra sequer e ele já pensava em conversar comigo no próximo dia. Percebi que ele também queria um amigo de verão, e estava tão ansioso para ter um quanto eu.
— S-sim, é claro... — Foi a única coisa que saiu da minha boca.
— Meu nome é Finn, e sou dono disso tudo aqui! — Disse a última frase com o peito estufado cheio de orgulho, mas no final deixou uma gargalhada escapar, demonstrando que estava apenas brincando.
— Meu nome é Jack, e quero ser amigo do dono disso tudo aqui. — Após as simples palavras, estendi minha mão esperando que fosse apertada pela dele.
Mas Finn virou-a com a palma para cima. Procurou no amontoado de conchinhas a mais cintilante e colocou-a sobre minha mão, empurrando levemente os meus dedos até que fechassem-na, de punho cerrado. Suas mãos um pouquinho maiores envolveram perfeitamente a minha.
— Minhas amigas me disseram que as conchas guardam coisas para sempre. Principalmente sentimentos. Acabei de guardar a minha amizade aí dentro, pra você nunca perder!
— Amizade é um sentimento?
— Eu acho que ao longo dela são criados vários sentimentos, não é?
— Faz sentido. — Abri um sorriso singelo.
Alguém poderia ter falado para o pequeno Jack que conforme o tempo passava, esses sentimentos poderiam tornar-se cada vez mais intensos. Esse pequeno spoiler o faria menos assustado no futuro. Mas talvez ter descoberto formas tão profundas de dois seres humanos se conectarem fora um processo do qual eu precisei ter sozinho. Ou não totalmente sozinho.
Ainda naquele dia, enquanto brincávamos com o seu balde moldado no formato de um enorme castelo de areia, pedi para ele me dar algumas outras conchinhas, pois queria fazer algo para nós. Não fiz questão de serem as mais bonitas que havia coletado, mas parecia que cada concha escolhida se tornava a mais linda quando tocadas pelas mãos delicadas de Finn.
Imaginei se aquelas mãozinhas tocassem o meu rosto ele também poderia ficar mais bonito. Porém não compartilhei aqueles pensamentos. Era muito cedo para as minhas bochechas serem tocadas por outro alguém. Ainda eram as "bochechinhas da mamãe", mesmo que logo seriam roubadas por um garoto de cabelos escuros e encaracolados.
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𝐀𝐒 𝐄𝐒𝐓𝐑𝐄𝐋𝐀𝐒 𝐌𝐄 𝐂𝐎𝐍𝐓𝐀𝐑𝐀𝐌, 𝗳𝗮𝗰𝗸
ФанфикшнEram apenas crianças com seus pés enterrados na areia da california, brincando com conchinhas de todas as formas, sorrindo um para o outro sempre que o sol aquecesse seus coraçõezinhos naquele verão. Não tinham noção do que suas palavras significava...
