꒰ 🌌 ꒱ quatro

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Minhas pequenas pernas começavam a se cansar do tanto que andávamos até o tal lugar que Finn mostraria-me. O vento batia nos galhos tênues e folhas aguçadas das amendoeiras da praia, em seguida batendo nos seus longos cabelos. Ele não parecia se importar muito, nem ao menos tirava-os dos olhos.

— Já estamos chegando?

Ele não respondeu, apenas pressionou os meus ombros para baixo para que eu desviasse de um galho que não havia visto no meio do caminho. Ao levantar novamente, pude ter uma das vistas mais belas de toda a minha vida. Havia uma clareira no meio das árvores praianas, apenas areia e um pano no centro; a luz do luar tinha a companhia de vários vagalumes voando sem rumo ou padrão de vôo, parecendo estrelas cadentes desnorteadas próximas de nós. 

Minhas poucas palavras para descrever algo tão belo me fizeram capaz de soltar apenas um "Uau" em aprovação àquela paisagem.

— Meu vô sempre me trás aqui nos meus aniversários. Mas é mais legal, nós acendemos uma fogueira e assamos os marshmallows do mercadinho. – Aponta para alguns pedaços de lenha em um canto da clareira. – Quer dizer, ele acende, eu fico só observando porque sou muito fraquinho ainda.

— Acho que os vagalumes estão perfeitos para apenas nós dois. – Sentei sobre o pano sujo de areia, questionando o significado das minhas próprias palavras.

Finn pegou um pote de vidro que já estava ali. Estendeu-o  no ar, prendendo alguns vagalumes ao enroscar a tampa e sentando ao meu lado, com a luzinhas verdes que facilitava enxergarmos um ao outro.

O emaranhado de galhos vindos da direita e da esquerda formava um perfeito arco à nossa frente. A lua era uma lasca brilhante, vista perfeitamente abaixo dessa "moldura" natural na posição que estava agora, deitado sobre o colo de Finn.

Suas coxas eram tão macias. O atrito que elas faziam com a minhas bochechas cheinhas era até melhor que o calor da lareira faltante. Suas mãos delineando as curvas dos meus cachinhos. Tudo era tão bom, mesmo que eu não reparasse detalhadamente.

— Vovô disse que eu posso trazer alguém para cá quando eu crescer, ele e vovó se encontravam escondido aqui quando eram adolescentes.

— Por que me trouxe? E por que agora?

— Você é o primeiro amigo que eu fiz aqui em anos. E eu já estou crescidinho, não? – Ergueu sua coluna para ficar mais esguio e esnobar-se.

— Não, Finn. – Ri baixo. – Mas acho que ele estava falando sobre crescer aqui. – Apontei o indicador centro do seu peito, referindo ao seu coração.

Ele apenas sorriu sem dentes. Era um coração aprendendo o verbo amar. Porém muito novo para entender a complexidade desse ato.

— Por que resolveu me chamar pra ser meu amigo? Eu nem fiz algo legal legal pra você.

— Elas me disseram que você seria um ótimo amigo, e que queria um. E estavam mais que certas.

— "Elas" quem?

Finn apontou para duas moças nadando bem longe de nós, no meio do mar. Acho que as vezes apareciam mais pessoas da água, mas estava escuro e bem distante para ter certeza.

— Está muito frio e tarde pra nadar! Elas não vão pegar um resfriado?

— Acho que elas não têm isso. Mas nós temos e já está na hora de voltar pra casa. Vovô e seus pais vão ficar preocupados! – Levantou cuidadosamente para não me balançar muito e estendeu sua mão para eu levantar. Também pegou o pote de vidro e soltou os insetos incandescentes.

No caminho de volta, encontramos Fred, o cachorro da pousada e do vô de Finn, solto pela praia. Íamos colocá-lo para dentro novamente mas o mesmo começou a latir, e o som estridente chamou a atenção de muitos hóspedes.

Luzes se acederam e a de uma lanterna ofuscaram os nossos olhos.  Parecia um flagrante criminal, como nos filmes. A mamãe era o policial, e a minha pena foi não poder sair do chalé no dia seguinte inteirinho, nem para brincar com Finn.

𝐀𝐒 𝐄𝐒𝐓𝐑𝐄𝐋𝐀𝐒 𝐌𝐄 𝐂𝐎𝐍𝐓𝐀𝐑𝐀𝐌, 𝗳𝗮𝗰𝗸Onde histórias criam vida. Descubra agora