Magias Contrárias (EM REVISÃO)

09 - O Jantar

Claire

Após o som do soar da campanhia se esvanecer por todo cômodo, Blaise e Myllene dialogaram brevemente e compuseram juntas a mesa de jantar. O móvel quadriculado estava coberto por uma toalha esbranquiçada com pequenas gardênias douradas enfeitando o tecido, sobre ele as taças de vidro arredondadas somavam pontos na elegância do ambiente, e sobre ela se encontravam os canapés, grande parte marcados com pequenas mordidas, mais da metade consumida por James.

Claire se questionou internamente sobre a aparição inesperada de Myllene em sua casa. Porém, seus pensamentos foram cortados pelo tilintar agudo do talher de porcelana contra a taça de vidro nas mãos de Clarissa, todos miraram a atenção sobre a anfitriã, Claire sentiu suas mãos trêmulas ao imaginar o possível discurso que seria feito a seguir. E, confirmando suas suposições sua mãe adotiva olhou ao redor e fixou seu olhar doce em seu marido.

—Obrigada a todos por virem, antes de servir o jantar, gostaria de dizer umas palavras sobre John, e vou resumir isso em uma história. Quando eu ainda era moça, minha mãe costumava me levar ao parque no centro da cidade para brincar nos balanços, íamos sempre antes do pôr do sol para que não houvesse ninguém ocupando as gangorras — sua risada fraca foi tempo suficiente para Claire cogitar a ideia de revelar o que ouvira a ela — um dia, eu cheguei e os dois únicos balanços estavam ocupados, por John e claro Johnson — os olhos benevolentes de Clarissa encontraram os olhos tristonhos de Mylene — minha mãe pensou em ir embora, mas eu resolvi ficar e esperar um pouco para ver se algum deles desistia e liberava a minha vaga, e não se demorou muito para que John desistisse e viesse até mim "Imagino que queira balançar um pouco" — Clarissa simulou a voz jovem do marido e riu de si mesma — ele já tinha quinze anos na época, eu era mais nova, estava com doze, mas naquele momento, eu o amei, e sabia que um dia seria feliz ao seu lado, John você sempre foi o homem mais bondoso e forte que eu já conheci em minha vida, obrigada por tudo, é uma honra ser sua esposa e feliz aniversário.

  Claire quis gritar naquele momento, um nó enorme se formou em sua garganta, ela nem conseguiu aplaudir, muito mesmo ouvir as falácias em forma de agradecimento de seu pai, ficou atônita por alguns instantes, só conseguiu se mover quando a mão gélida de Blaise tocou seu ombro de relance, o olhar impaciente de sua irmã fez com que o corpo de Claire se movesse agilmente para longe da mesa e em direção a cozinha.

—O que tá havendo? — Blaise propeliu as palavras velozmente, e então Claire percebeu que seus olhos estavam emergidos por lágrimas.

— Eu só fiquei emocionada, não é nada — Claire mentiu. Pois sabia que se Blaise descobrisse a verdade ficaria extremamente decepcionada, o pai sempre fora seu ídolo.

  Sem muitas delongas, as gêmeas ajudaram a mãe a compôr a mesa, o cardápio estava bastante vasto, o arroz branco bem soltinho fora colocado na ponta do lado direito da mesa, próximo do local onde Petúnia e Banjamin estavam sentados. Na lateral, fora colocado Truta rosa no papillote e legumes, a receita preferida de John e como prato principal estava um lombo assado, com batatas assadas e saborosas ao seu redor. Os olhos de James se esbugalharam instantaneamente.

— O Jantar está servido, bom apetite a todos — Clarissa declarou, e James foi o primeiro a se levantar para cortar o lombo e se servir.

—Um momento — a voz grossa de Joseph fez com que James se sentasse novamente, sua expressão facial denunciava sua irritação — eu tenho uma surpresa para todos — O coração de Claire acelerou freneticamente, um aperto no peito indicava que a surpresa de Joseph não seria tão agradável — Todos sabem que meu grande sonho é fazer medicina junto com Claire, porém...

—Vive na oficina trocando pneu, falando nisso, eu preciso trocar o do meu carro garoto, pode buscá-lo depois? — Petunia interrompeu, Benjamin gargalhou automaticamente com o comentário inconveniente de sua vizinha.