CAPÍTULO XXXI

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20 de março de 1824.

O tempo temido chegou e Arthur se foi, como eu esperava. Desta vez, ele anunciou sua intenção de fazer uma curta estada em Londres e passar pelo continente, onde provavelmente ficaria umas poucas semanas; mas não devo esperá-lo pelo lapso de muitas semanas: agora sei que, com ele, os dias significam semanas, e semanas, meses.

30 de julho

Ele voltou cerca de três semanas, bem melhor de saúde, certamente, do que antes, mas ainda pior em temperamento. E, ainda, talvez, eu esteja errada: eu é que estou menos paciente e indulgente. Estou cansada de sua injustiça, de seu egoísmo e de sua incorrigível depravação. Gostaria que bastasse uma palavra mais amena; não sou um anjo e minha corrupção ergue-se contra isso. Meu pobre pai faleceu na semana passada: Arthur se irritou ao saber, porque ele viu que eu estava chocada e triste, e temeu que tal fato arruinasse seu conforto. Quando falei de ordenar meu luto, ele exclamou, 'Oh, odeio preto! Mas, porém, suponho que você deva usá-lo por um momento, pelo bem das normas; mas espero, Helen, que não pense ser seu dever obrigatório compor seu rosto e suas maneiras conforme suas funéreas vestes. Por que você deve suspirar e gemer, e eu ficar desconfortável, porque um velho cavalheiro em –shire, um estranho perfeito a nós dois, julgou apropriado beber até a morte? Aí, agora, declaro que você está chorando! Bem, deve ser afetação.'

Ele não compreenderia meu comparecimento ao funeral ou ir por um dia ou dois para animar a solidão do pobre Frederick. Era muito desnecessário, ele disse, e eu era exagerada ao desejar isso. O que era meu pai, para mim? Eu nunca o vira, apenas uma vez quando eu era um bebê e bem sabia que ele não dava a mínima para mim; e meu irmão, também, era pouco mais do que um estranho. 'Além disso, cara Helen', ele disse, me abraçando com afeto bajulador, 'não posso me privar de você por um único dia.'

'Então, como você passou sem mim estes muitos dias?' eu disse.

'Ah! Então eu estava vagueando pelo mundo, agora estou em casa e a casa sem você, minha divindade doméstica, seria intolerável.'

'Sim, enquanto sou necessária ao seu conforto; mas você não dizia isso antes, quando me urgiu a abandoná-lo, para que pudesse escapar de sua casa sem mim', devolvi; mas antes que essas palavras fossem exprimidas pela minha boca, eu me arrependi de tê-las emitido. Parecia uma acusação muito pesada: se falsa, um insulto muito grosseiro; se verdadeira, um fato deveras humilhante para ser lançado assim de chofre. Mas eu poderia ter me poupado daquela momentânea pontada de autorreprovação. A acusação não lhe despertou nem vergonha ou indignação: ele não tentou refutá-la ou se defender, mas apenas respondeu com uma longa, baixa e gostosa risada, como se visse toda a discussão como uma inteligente e alegre pilhéria do começo ao fim. Certamente esse homem me fará odiá-lo, por fim!

Sine as ye brew, my maiden fair,

Keep mind that ye maun drink the yill.

Sim; e eu beberei até o final: e ninguém, além de mim mesma, deverá saber quão amargo é para mim!

20 de agosto

Fomos devolvidos novamente à nossa posição original. Arthur praticamente retornou à sua antiga condição e aos seus hábitos; e eu descobri ser o melhor plano fechar meus olhos para o passado e o futuro, pelo menos no que tange à ele e viver apenas para o presente: amá-lo quando eu puder; sorrir (se possível) quando ele sorrir, ficar alegre quando ele estiver alegre e disposta quando ele estiver disposto; e, quando ele não estiver, tentar torná-lo; e, se não obtiver resposta, suportar, desculpar e esquecê-lo o melhor que eu puder, e conter meus próprios impulsos maus para não agravar os dele; e, ainda, embora assim eu ceda e contribua às suas mais inofensivas propensões à autoindulgência, faço tudo que está em meu poder para salvá-lo do pior.

A moradora de Wildfell Hall (1848)Onde histórias criam vida. Descubra agora