CAPÍTULO XXVIII

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25 de dezembro.

No último Natal, eu estava noiva, com o coração transbordando de júbilo pelo momento e cheio de ardentes esperanças pelo futuro, embora misturadas com medos e agouros. Agora, sou uma esposa: meu júbilo está aquietado, mas não destruído; minhas esperanças estão menores, mas não esvaecidas; meus medos aumentaram, mas não foram totalmente confirmados, ainda; e, graças aos céus, sou também mãe. Deus me enviou uma alma a educar para o bem e me deu um novo e mais tranquilo júbilo, e esperanças mais fortes para me confortar.

25 de dezembro de 1823.

Outro ano se foi. Meu pequeno Arthur vive e viceja. Ele é saudável, mas não robusto, repleto de gentis brincadeiras e vivacidade, já com afeição, e suscetível a paixões e emoções que durarão antes que ele possa encontrar palavras para expressá-las. Ele herdou o coração de seu pai, finalmente; e, agora, meu terror constante é que ele não seja arruinado por aquela indulgência impensada de seu pai. Mas devo me guardar da minha própria fraqueza, também, pois nunca soube, até agora, quão fortes são as tentações de uma mãe para mimar seu filho único.

Busco consolo em meu filho, pois (posso confessar a este silencioso papel) tenho muito pouco em meu marido. Ainda o amo; e ele me ama, de seu próprio jeito – mas, oh!, quão diferente é o amor que eu poderia ter dado e que, uma vez, esperei receber! Quão pouca real simpatia existe entre nós dois; quantos dos meus pensamentos e sentimentos são tristemente enclausurados em minha mente; quanto do melhor e do mais superior de mim está, de fato, descasada – condenada tanto à insensibilidade e ao amargor na sombra sem sol da solidão ou a muito degenerar e se esvair pela falta dos nutrientes neste solo insalubre! Porém, eu repito, não tenho direito de reclamar; apenas deixe-me declarar a verdade – um pouco dela, pelo menos – e ver, depois, se outras verdades, mais obscuras, irão manchar estas páginas. Completamos, agora, dois anos juntos; o 'romance' de nossa ligação já se esgarçou. Certamente, eu teria agora descido ao menor grau das afeições de Arthur e descoberto todos os males de sua natureza: se houvesse alguma mudança posterior, deveria ser para melhor, pois já nos tornamos mais acostumados um ao outro; com certeza, não desceremos além do que isso. E, se descermos, posso suportar isso bem – tão bem, pelo menos, quanto tenho suportado até agora.

Arthur não é o que se chama, comumente, de um homem mau: ele tem muitas boas qualidades; mas é um homem sem autocontrole ou altivas aspirações, um amante do prazer, dado a diversões bestiais: ele não é um mau marido, mas suas noções de deveres matrimoniais e confortos não são as minhas. A julgar pelas aparências, sua ideia de esposa é algo a amar alguém devotamente e a ficar em casa a esperar pelo seu marido, e entretê-lo e cuidar de seu conforto de todas as maneiras possíveis, enquanto ele escolhe ficar com ela; e, quando ele está ausente, para cuidar de seus interesses, domésticos ou não, ela deve esperar pacientemente pelo seu retorno, não importa o quanto ele possa estar ocupado neste entretempo.

Logo na primavera, ele anunciou sua intenção de ir à Londres: seus negócios exigiam sua presença, ele disse e já não podia mais se demorar. Ele expressou seu lamento por me deixar, mas esperou que eu passasse meu tempo com o bebê até que ele voltasse.

'Mas por que me deixar?' eu disse. 'Posso ir com você; estarei pronta quando quiser.'

'Você não levaria a criança à cidade?'

'Sim, por que não?'

A coisa era absurda: o ar da cidade certamente não cairia bem à criança, e em mim, que estava amamentando; as horas tardias e os hábitos de Londres não me fariam bem sob tais circunstâncias; e, no todo, ele me assegurou que seria excessivamente incômodo, prejudicial e inseguro. Rejeitei suas objeções o melhor que pude, pois tremia com a ideia de ele ir sozinho e sacrificaria praticamente tudo por mim mesma, quanto tanto por meu filho, para evitar isso; mas, por fim, ele me disse, claramente, e de certa forma a me testar, que não iria comigo: estava cansado das noites insones do bebê e precisava ter algum repouso. Propus quartos separados; mas ele não quis.

'A verdade é, Arthur', eu disse, por fim, 'você está cansado de minha companhia e está determinado a não me ter ao seu lado. Você poderia ter dito isso de uma vez.'

Ele negou; mas eu imediatamente deixei a sala e corri para o quarto de meu filho, para esconder meus sentimentos, se não pudesse aliviá-los, ali.

Eu estava muito ferida para expressar quaisquer insatisfações adicionais com os seus planos ou com tudo o que se refere ao assunto, novamente, exceto pelos arranjos necessários relativos à sua partida e à conduta dos negócios durante a sua ausência, até o dia anterior ao de sua viagem, quando o exortei, com sinceridade, a tomar cuidado consigo mesmo e a se manter distante do caminho da tentação. Ele riu com a minha ansiedade, mas me assegurou de que não havia motivo para isso e prometeu seguir o meu conselho.

'Suponho ser inútil marcar um dia para o seu retorno?' eu falei.

'Ora, não; dificilmente eu possa, com as circunstâncias; mas esteja certa, amor, não me demorarei.'

'Não quero que fique como um prisioneiro em casa', repliquei; 'não devo rosnar com a sua presença por meses a fio – se você pode ficar tão feliz por tanto tempo sem mim – dado que eu soubesse que você estava seguro; mas não gosto da ideia de estar lá entre seus amigos, como você os chama.'

'Ora, ora, sua tonta! Você acha que eu não sei me cuidar?'

'Você não soube, da última vez. Mas DESTA, Arthur', acrescentei, sincera, 'mostre-me que sabe e me ensine que não preciso temer em confiar em você!'

Ele bem que prometeu, mas de uma maneira como se estivesse buscando consolar uma criança. E ele manteve sua promessa? Não; e, portanto, não posso nunca confiar em sua palavra. Amarga, amarga confissão! As lágrimas me cegam enquanto escrevo. Foi logo em março que ele partiu e não retornou até julho. Desta vez, ele não se importou em dar desculpas, como antes e suas cartas eram menos frequentes, mais curtas e menos carinhosas, especialmente depois das primeiras semanas: elas vinham mais e mais espaçadas, e mais sucintas e descuidadas a cada vez. Mas ainda, quando eu deixava de escrever, ele reclamava de minha negligência. Quando lhe escrevi com rispidez e severidade, como confesso que frequentemente fazia no final, ele culpava minha dureza e dizia que já bastava espantá-lo de sua casa: quando eu tentava a suave persuasão, ele era um pouco mais gentil em suas respostas e prometia regressar; mas aprendi, por fim, a desconsiderar suas promessas.

A moradora de Wildfell Hall (1848)Onde histórias criam vida. Descubra agora