Twenty-Two

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As fracas ondas de luminosidade e calor do sol tentavam em vão sair entre as nuvens que dominavam o céu acima da floresta afundada na neve e no gelo.
Afinal, havia retornado ao sonho do rio onde a maldição havia lhe deixado cair na água congelante, e ainda no mesmo lugar com gelo partido.
Mas não era isso que fez Lauren uivar de horror e se arrastar pelo barro misturado com neve e capim seco, e sim ver a maldição lhe fitando, agachada ao seu lado.
-M-mas que droga é essa!? - berrou enquanto encarava aquele ser sem-vida, sentindo a umidade penetrar em suas roupas e gelar a pele. -Por que estou aqui de volta?! Você me odeia a esse ponto?!
-Nossa, não sabia que era possível alguém ser tão grosseiro assim -disse a maldição, o desgosto desenhado em seu rosto. -Se esqueceu que fui eu que salvei você de morrer? Notou por acaso que estou te salvando de novo?
"O que?? Me salvando?",  tentou ligar os pontos, "Mas eu estou bem e não estou correndo nenhum risco. Me lembro de estar na floresta com o Ren, eu persegui aquela mulher que nos roubou, a perdi de vista e...".
Então um estalo ecoou em seus pensamentos.
-Aquela mulher nos atacou?
-Sim, e seu amiguinho fedorento também. Por que acha que está aqui?
"O Ren me atacou?! Não pode ser verdade, por que ele me atacaria? Acho que só faria isso se...".
-O que aconteceu lá fora? Eu deixei você assumir o controle de novo como?
Sua cópia levantou e se aproximou alguns passos, o que a deixou com o coração mais disparado.
-A mulher cheia de olhos jogou uma pedra com força em sua cabeça e acertou em cheio, aí quando você apagou, eu assumi.
-E por que Ren me machucou?
Apenas o silêncio e um desvio de olhar foram suas respostas. Tamanho era a quietude que a jovem voltou a ouvir com limpidez o som da correnteza do rio.
Era um som relaxante, mas que no momento trazer mais suspense para seu cérebro.
"Aquela vez que Ren me acertou com a foice não foi acidental, ele queria testar algo. Só que desta vez.... O demônio fez alguma coisa e ele de certo tentou impedir".
-Aquele cachecol de pele fedido golpeou sua cabeça sem motivo -diz sua sósia na defensiva. -Eu estava tentando pegar aquela ladra, e quase a segurei, mas Ren do nada surgiu e...
-Ei, você... Atacou a ladra?!
Lauren se levantou devagar, sentindo o frio lhe castigar com brutalidade.
-Eu... Tive de a perseguir e tentar a capturar, mas só consegui arranhar as costas dela -sussurrou com a voz rouca, sem tirar os olhos das águas em movimento. -Nada sério...
-N-Nada sério?! Você machucou outra pessoa! Matar não é uma opção!
Então viu a clone revirar os olhos por detrás dos cabelos brancos e emaranhados.
Que raiva!
-Matar pode não estar na sua lista, mas está na minha e é uma opção que me agrada -respondeu com amargor, virando-se para sua hospedeira. -Sério que você está querendo que alguém como eu não mate? Droga, não sei como pude achar que ter você como corpo poderia ser bom. Realmente quero ir embora, porém não posso... Por que é que ainda te mantenho viva se é você que me aprisiona aqui, ora?
"O que? Ela está pensando que deveria me deixar morrer para se libertar? Mas não há garantia, certo? Eu tenho que a manipular também! Mas que raciocínio horrível é esse?".
-Sério que você vai fazer isso sem ter garantia? E se não funcionar? Pode acabar morrendo ou ficar presa ao meu corpo. É loucura!
Os olhos amedrontados de Lauren se cruzaram com o olhar duro do demônio.
O que estava vendo além de frieza naqueles olhos vermelhos como sangue? Poderia ser esperança? Desejo ou sonhos de liberdade? Não esperava encontrar tais sentimentos naquele lugar.
-Posso não ter garantia, mas me diga como descobrir sem ao menos tentar.
"E agora? Tenho que a convencer a não me deixar morrer com algum argumento realmente válido. Mas qual?".
-E se eu disser que a gente está tentando te tirar de mim? Creio que meu irmão achou a solução, e nós vamos testar. Por favor, espere ao menos nós tentarmos antes de tomar uma atitude impulsiva dessas!
-Pare de implorar por sua vida como uma idiota! Estou decidido a fazer isso, mas já que vão tentar logo... Droga, vou deixar que tentem.
Um sorriso de alívio cresceu no rosto de Lauren, que dera uns poucos passos na direção da clone.
-S-Sério? Que bom! Ainda bem...
-Vou deixar que tentem, porém não vou mais curar suas feridas quando eu não estiver no controle, caso falhe sua suposta solução.
-Certo. Sem sucesso, sem cura. Entendi.
-E não vou pegar leve quando rolar qualquer chance de eu assumir o controle. Se VOCÊ acha que pode me segurar, está muitíssimo enganada.
-Okey, okey, aceito seus termos. Agora me deixe voltar sã e salva. E eu te agradeço por me curar outra vez.
"Mesmo que eu não goste dela, devo admitir que estaria morta se não fosse por ela".
-Vá embora de uma vez.
Subitamente um redemoinho de vento, sujeira e neve envolveu a garota, bloqueando sua vista. Ela gritou, tentando se proteger da poeira que machucava seu corpo, ainda que em vão.
Quando percebeu, estava novamente em seu quarto, no mundo real. Takumi estava sentado aos pés da cama, em silêncio. Sua máscara de gato se encontrava ao lado, em cima das cobertas.
Suas palavras ecoaram pelo quarto, sendo estas um sussurro frágil no ar.
-Isso tudo é culpa minha.

Máscaras e Demônios (Revisando)Onde histórias criam vida. Descubra agora