Seventeen

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-Deixe-me ver se entendi direito -o olho verdadeiro de Takumi adquiriu um tique em meio a tudo o que havia sido contado. -O Ren, O REN, foi levado por um encapuzado que invadiu o acampamento do nada, sendo que temos uma entrada mágica. E quando você o seguiu, o cara sumiu no ar, como se nunca tivesse existido.
Lauren assentiu incessante, os pés batucando o chão.
-Desculpa por eu não conseguir o impedir... E-Eu queria...
Ainda tentando engolir o ocorrido, Takumi se levantou do banco da cozinha. Após deparar-se com a jovem gritando na floresta a convenceu a voltarem para a barraca para poderem conversar melhor, porém parecia que a história não entrava em sua mente, simplesmente não descia.
"Como é possível Ren ser pego do nada?!".
-Não precisa se desculpar, não havia como você impedir sem que ele a visse.
-Você sabe o que o pegou? -ela esfrega os punhos nos olhos.
-Na verdade não é o que, e sim quem.
-Você sabe quem o pegou?!
-Não sei, mas acredito que seja um caçador, talvez até aquele que mora aqui perto.
-Bom, menos mal, não? Se ele é humano... Mas como pode ter certeza de que é um caçador?
-Ren e eu temos mais problemas com caçadores e bruxas, no máximo. E tem uma coisa, ele deve saber muito sobre yokais, já que apagou o Ren. Até onde sei só tem um meio de apagar um Kamaitchi, e é com uma agulha de prata na nuca.
-Isso é quase absurdo de tão esquisito que é -ela abaixou a cabeça e suspirou fundo. -Estamos enfrentando uma pessoa com aquela técnica de entrar nas sombras que conversamos, não?
-Isso, mas eu não entendo... Quem na longa lista que temos de inimigos pode...?
-Tem um papel no gramado -a garota de cabelos brancos se ergueu e foi para fora. -Já volto.
Ele a observou ir lá fora, agarrar um folheto entre as pedras e voltar correndo, já encarando o papel ao chegar.
-O que tem errado? Por que você ficou tão... -assim que viu o cartaz com a cara de Lauren estampada em suas mãos, não pode conter um bufo. -Mas que porcaria.
-Tem algo escrito atrás.
Virou o papel, o coração acelerando na hora.

Minha cabana, em uma hora.
Se atrase e terá consequências.

-Mas que porcaria! -berrou e amassou a folha quando a forçou a entrar no bolso.
-Foi ele, certo?
-Foi.
-Não pode ser. Parece até mentira.
-Mas não é. Como é que ele nos achou tão rápido?
-Eu não tenho ideia! Pode ter sido por estarmos nessa parte da floresta ou...
-Bom, isso não importa agora. Temos que ir depressa!
-Sim, sim! Mas como vamos o convencer a deixar Ren em paz?
-Acho que você já sabe lá no fundo como vai ser -Takumi cruzou os braços, sentindo as unhas entrarem no tecido de suas luvas. -Ele vai querer o meu fim, provavelmente.
-M-Mas e se quiser uma troca? Eu posso...
-Você pode, mas será que ele vai acreditar?
-Eu farei o meu melhor para que ele me ouça -Lauren assumiu uma expressão séria, mais do que firme.
"Que bom que está determinada. Eu não tenho ideia de como convencer esse cara a deixar o Ren sair dessa vivo!".
-Eu te ajudo de qualquer forma. Mas e aí? Vamos logo!
-Tá, me fale o que temos que levar.

******

A floresta parecia ser mais aberta na região em que se encontravam agora, provavelmente por causa de ser bem próxima ao Parque de Preservação Ambiental, onde a área era mais limpa e bem cuidada. Não havia tantas ervas daninhas, capim alto e arbustos espinhosos, mas em compensação havia várias qualidades de flores pela grama. Algumas estava óbvio que foram plantadas, já outras aparentavam ter nascido por acaso entre as pilhas de matéria vegetal em decomposição espalhadas no solo.
"Nos finais de semana, o pessoal da cidade vem para essa área para cuidar das plantas, passear ou passar o tempo. Não vim muitas vezes, mas sempre vim com Peter", Lauren recordou, a consciência pesando, "Nunca pude o visitar desde o dia em que se mudou para cá, pois sempre estivemos ocupados ou esquecidos. E às vezes sinto que Peter não é o mesmo, como se estivesse mais distante do que nunca".
Olhou para Takumi, sentindo as folhas secas e galhos se quebrando sob seus pés. Ele parecia estar mais tenso e quieto que o normal, tanto que chegava a assusta-la de vez em quando com algum bufo ou ao falar alguma coisa.
"Ele deixou que eu trouxesse minha máscara mesmo não estando tão confortável com isso".
O céu começara a escurecer desde o momento em que saíram, tanto que parecia um anoitecer.
Pedras de diversos tamanhos começaram a surgir pelo caminho, então Takumi fez um sinal, chamando Lauren para perto. Ele apontou para uma pedra, a qual havia um símbolo simples e meio bruto gravado.
Ainda com o fôlego abalado, a mais velha xingou baixo.
-Vejo que você reconhece isso.
-Sim. É um Anasazi, não é? Espanta criaturas.
-Sim, e espero que a coisa que é o motivo de eles estarem aqui esteja mais do que morta.
Avançaram uns cem metros e encontraram marcas de pneu no chão.
-Seguimos as marcas?
-Claro, tenho quase certeza de que vão nos levar direto até a casa.
Seguiram o rastro de pneus, o céu já tão escuro que transformara o dia em noite. Logo avistaram a cabana com as luzes acesas, como se aguardasse por sua chegada.
Era um chalé de madeira de dois andares com janelas que enfeitavam tanto a frente quanto saíam entre as telhas repletas de musgo. Ao lado havia uma garagem fechada com um portão, onde provavelmente estava o veículo responsável pelas marcas. Toda a área estava cercada por uma cerca de madeira simples, com um portão largo para a entrada do veículo e um portão pequeno para o chalé, tendo um carreiro de ladrilhos de cimento que levava até a porta.
A dupla parou de caminhar e ficou observando o seu destino, ofegantes.
"O chalé da minha vó. Faz tanto tempo que não venho...".
-Finalmente chegamos -Takumi disse ao focar em Lauren. -Ele já está em casa.
-Deve ter usado o carro para poder sair mais rápido, já que tem uma estrada não muito longe do acampamento que vai até a entrada do parque.
-Sim... Chegamos antes do prazo, certo?
-Sim, temos mais uns quinze minutos até acabar. Espero que Ren esteja bem.
-Eu também.
Um vulto passou pela janela frontal do primeiro andar, parou por poucos segundos e então sumiu de vista. Seu estômago se encheu de borboletas só de pensar no que estava prestes a acontecer.
-Ele nos viu, não? -a jovem perguntou, passando o portão menor. -O que vamos fazer?
-Ele vai vir aqui. Só espero que já não venha dificultando.
"Com Ren nas mãos e ameaçando de o matar diante de nós".
A porta da frente se abriu num estrondo e um homem atravessou-a passos largos e com a cabeça baixa, logo parando a alguns metros de distância da dupla. Ren estava adormecido e transformado em doninha, balançando de forma débil em uma das mãos do caçador, que com a outra empunhava uma faca, a qual Lauren julgou ser de prata.
O caçador ergueu a cabeça e fitou a jovem, seus olhos âmbar quase apagados se iluminando quando se arregalaram.
"Eu não queria acreditar, mas realmente é ele. É ele! O que raios pensa que está fazendo?!".
Seus olhos vermelhos como o sangue cruzaram com o olhar abatido de seu irmão.
-O que pensa que está fazendo?!
O rosto de Peter se contorceu de indignação, a cicatriz em seu nariz se tornando um linha frisada.
-Você deveria estar morta.

Máscaras e Demônios (Revisando)Onde histórias criam vida. Descubra agora