O Senhor das Trevas Não Vem Trabalhar Hoje [Completo]

10. Coração

Quando a moça ruiva avistou o Senhor do Abismo fez uma aceno para ele.
Primeiro ele, hesitou, mas em seguida foi até ela.
– Fiquei muito feliz por você ter vindo – falou, tentando soar confiante.
– Ah, claro – disse ela nervosa e outra vez olhou para o ambiente, segurava com força a alça da bolsa. – Que festa... diferente você está dando.
– Obrigado – respondeu O Imperador do Terror, aparentemente sem perceber que ela não tinha necessariamente feito um elogio.
– Deseja beber algo?
– Claro, por que não?
Imediatamente uma taça de vinho surgiu na mão dela. A moça tomou um susto tão grande que quase que o copo foi ao chão.
– Gostaria dar uma volta?
A moça deu de ombros, em um gesto que queria dizer: “Já que eu tô nessa, fazer o que né?”
Caminharam pela casa e com surpresa ela observou o Monstro da Água, que tinha bebido tanto que caiu no sono em cima do balcão. Um grupo de quatro zumbis que assistiam TV e bebiam refrigerante, o vampiro Mikael, que agora estava jogando uma cantada em uma das fadinhas. Quando a moça ruiva viu o orc dançando a música de Os Embalos de Sábado à noite, não aguentou e tomou seu copo de vinho em um gole só.
Chegaram ao quintal dos fundos, que era bem amplo, com algumas árvores e o chão ladrilhados com pedrinhas brancas. Nina brincava com o chupa cabra pelo quintal, correndo de um lado para o outro.
– Eu quero lhe dar um presente – começou a falar o Lorde das Trevas. Era isso, ele iria fazer sua melhor jogada.
– Presente?
Eles chegaram em um ponto do quintal aonde havia uma jaula com um bode dentro.
Ele fez um gesto indicando a jaula.
– É sério isso? Meu presente é um bode? – o tom dela estava em algum ponto entre a raiva, o desespero e a surpresa.
– Pra que eu iria querer um bode?
– Para você sacrificar para Xinout, e assim ter uma boa colheita o resto do ano – respondeu ele como se essa fosse a coisa mais obvia do mundo. – Sabe, eu tive que colocar ele dentro dessa jaula, porque meu chupa cabra matou os dois últimos.
A moça simplesmente a encarou com a boca aberta.
– Isso está realmente acontecendo?
– Claro que está. E agora que eu fiz todas as formalidades exigidas eu tenho que lhe perguntar: Deseja se unir a mim em matrimonio?
De novo ela ficou em silêncio, como se processasse tudo aquilo, então perdeu completamente a calma.
– Você é louco? O que se passa dentro da sua cabeça? Me convida para uma festa com zumbis e orcs e fadas, me dá uma cabra pra eu sacrificar e então me pede em casamento?
– Na verdade é um bode.
– Um bode – repetiu ela com os dentes cerrados, os olhos dela pareciam faiscar de raiva. – Nunca mais fale comigo! Nem sequer olhe para mim, sua aberração monstruosa! – Em seguida saiu apressada.
O Senhor do Mal ficou sem saber o que fazer. Pensou em ir atrás dela, mas a moça parecia tão nervosa. Talvez isso não fosse uma boa ideia.
Decidiu procurar Mikael, ele também tinha sido rejeitado há pouco e talvez pudesse lhe dizer como lidar com a situação. Como processar esse sentimento tão estranho que ele sentia em seu peito. Com um rápido teleporte procurou ele pela sala, mas não achou. Então olhou na cozinha e no banheiro que estava aberto, mas sem ninguém. Foi até o quarto e abriu para porta. Encontrou Mikael deitado na sua cama com uma fada. O cobertor encobria a nudez deles.
–É sério Mikael? Na minha cama?
– Foi mal mano, mas a gente precisava de um lugar mais sossegado.
O Senhor do Escuro fechou a porta sem falar nada. Se sentou na escada e ponderou. Tudo estava dando errado. Tudo mesmo. Por que isso estava acontecendo?
Da escada ele viu a moça ruiva tentar abrir a porta para ir embora e não conseguir.
Algo estava errado. Ele não tinha selado a porta com magia e ninguém mais tinha a chave para trancá–la.
Foi então que aconteceu. Tudo ficou escuro e houve uma explosão de luzes giratória. Ouviu-se uma risada digna de um filme de terror. Uma silhueta surgiu. Era a de um homem. Alto e imponente.
– Olá, meu filho. Se importa se eu participar dessa festa?