Tenho pouco tempo
para dizer o que preciso
e mesmo que fosse muito
ainda seria impreciso.
Deixo impresso meus papéis
por cima da tua cabeceira
não leias até que eu vá
e não leia-os depois.
Deixo escrito neles
sentimentos avessos
imperceptíveis até o agora
peço-te que no futuro
apenas sinta o por que de eu estar lá fora.
Eu escrevo esta carta
e deixo-a correndo
as pressas me retiro
dos teus futuros lamentos.
Não há mais tempo
éramos uma ampulheta receosa
sabíamos que estávamos a ir
mas a vida já era tão corrida.
E agora, não saberás o conteúdo desta carta
pois pedi que não a lesse
imagine meus motivos para ir embora
e eu saberei que lhe disse tudo que precisava.
Não deixe a porta aberta
e feche tuas janelas
pois hoje choverá lá fora
é onde eu estarei.
Mergulhado nas gotículas
esqueça-me em tuas partículas
tuas falas, tão ridículas
deixo-te sem ler a carta
para que te sinta também, como eu, aflita.