Capítulo 8: Rascunho

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Chegava no parque um pouco antes do horário combinado, compensando pelo atraso do último encontro. Era um ambiente agradável, cercado de árvores e plantas, alguns animaizinhos corriam por ali e pessoas interagiam, alguns grupos fazendo piqueniques, alguns apenas passeando.

Me sentia um pouco ansiosa, talvez por querer ver Lucas, talvez por quase me lembrar dos passeios que tive naquele lugar. Já conhecia aquele parque, desde pequena, e sabia que era um lugar no qual já passeei com Alice algumas vezes.

Respirava fundo enquanto caminhava, tinha cheiro de mato, alguns insetos, mas era bom. Me sentava em um banco, olhando para o céu.

Estava sol, mas não tão quente quanto deveria estar naquela época do ano. Eu estava com um vestido leve colorido, parecia que Eliandre sabia onde eu iria quando o escolheu.

Tentava me lembrar melhor daquele dia, estava com Miguel, Alice e Lucas por ali, perto de onde sentava agora. Lembrava de Miguel se deitando na grama e chamando Alice para olhar as nuvens, lembrava de Lucas jogando pedrinhas no lago e de como eu estava hesitante em tentar beijá-lo pela primeira vez.

Afastava os pensamentos enquanto via o rapaz aparecendo novamente olhando para seu relógio.

- Está atrasado. - Eu implicava, sorrindo.

- Você é quem chegou cedo demais.

Caminhávamos um pouco entre as árvores, ao lado dele sentia um misto de conforto e ansiedade, mas estava cada vez mais claro para mim quem ele era.

Olhava para o lago, as pedrinhas no chão, e o rapaz as chutava sutilmente, assustando alguns pássaros que pulavam no chão.

- Nós já viemos aqui antes, não? - Eu perguntava enquanto evitava demonstrar alguma intenção.

- Já, algumas vezes. Suas memórias já voltaram?

- Um pouco. Eu só tive um pequeno... Flash.

- Um "flash"? De que?

- Nada demais. - Eu evitava revelar muito naquele momento. - Fui visitar minha irmã hoje e acho que ela me lembrou de um passeio.

- Alice? Ela tá bem? - Lucas parecia surpreso.

- Bem... Não, ela ainda está em coma. Mas ela parece estar melhorando.

- Eu espero que sim... Eu sinto saudades deles.

Lucas colocava as mãos nos bolsos da bermuda, procurava alguma coisa para olhar ao redor, então eu parava perto do lago e me sentava na grama, e ele continuava em pé.

- Você não vai sentar?

- Não, eu gosto de ficar em pé. - Ele respondia, pegando algumas pedrinhas no chão.

- Me desculpe por ontem, Lucas. Eu acho que fui insensível.

- Tá tudo bem, Rê. Não esquenta.

- Não, é sério... Eu acordei tão atordoada que achei que fosse a única que tivesse com problemas, mas eu não sou. Na verdade sou a que menos tem problemas agora, não me lembro de nada e passei os últimos meses dormindo.

- É, e eu espero que a soneca tenha valido a pena. - Lucas arremessava gentilmente a primeira pedra no lago.

- Eu não estava pensando no que vocês estão lidando... Você e minhas mães... Você passou dois meses sem ver nenhum de seus amigos, deve ter sido difícil.

- Um pouco. - Ele respondia, olhando para mim pensativo. - Na verdade foi um choque tão grande que eu não consegui absorver até agora. Mas eu não estava sozinho, Rê. Eu tenho amigos, eles me ajudaram a passar por isso sem entrar em desespero. Você não precisa se preocupar comigo.

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