Capítulo 9: Parágrafo

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Rosa me encarava enquanto eu revirava o armário, procurando por alguma roupa legal. Era estranho, conhecia todas aquelas roupas, eram as minhas preferidas no ensino médio, mas nenhuma delas me atraía mais.

Todas muito normais e "comportadas", nenhuma realmente parecia ser quem eu era, e tudo o que eu queria naquele momento era expressar quem eu era.

- Você já tá saindo de novo? - Dizia minha mãe, claramente não querendo que eu fosse embora.

- Não... Eu vou passar a noite aqui. - Eu dizia tentando ser gentil com Rosa. - A não ser que você não queira.

- Que bobagem, Renata! Por que eu não iria querer?

- Eu tô só brincando, mãe. - Eu respondia implicante, quase esquecendo que Rosa não entendia bem o meu humor. - Eu sei que você sentiu saudades, me desculpe. Mas eu precisava muito desse passeio.

- E você vai me dizer o que foi fazer?

- Vou. - Eu me virava para ela, me encostando no armário. - Eu fui em um encontro com um amigo, depois dormi na casa de Lili, fui visitar Alice no hospital, dei um passeio no parque, voltei para a casa de Lili para buscar uma coisa e agora estou aqui em casa.

- Foi em um encontro? - Ela questionava com um tom rígido.

- Sim... - Eu respondia ainda pensando se seria uma boa ideia ser sincera com minha mãe. Estava acostumada a não dizer o que fazia com medo da reação dela. - Mas não é nada demais.

- Como assim "nada demais"?! - Gritava Rosa. - Você acabou de sair do hospital e já tá por aí se exibindo?

- Me exibindo?! - Eu questionava, mas não ficava irritada, apenas achava engraçado, tentava segurar o riso. - Fala sério, mãe. Só fui ver um amigo.

- E por que não me contou?! - Ela estava claramente irritada.

- Mas eu to contando. Pra ser sincera, nem eu sabia o que ia fazer até chegar lá.

- E você acha isso engraçado?! - Ela reclamava.

- Um pouco. Você não acha?

- Você quer apanhar, garota? - Dizia ela em tom de ameaça.

- Por quê?

- Você acha certo isso? Ficar saindo assim?

- Eu acho. - Eu olhava para Rosa entendendo exatamente por que a gente discordava. - O que tem de errado?

- Eu não tô criando você pra ser assim não! - Ela apontava para mim, irritada.

- Tá bom, mãe... - Eu olhava para ela tentando continuar calma. - Me desculpe, mas... Eu sou assim. Por que estamos brigando por isso? Eu não fiz nada demais.

- Não, Renata, você não é assim! Eu não te criei assim!

- Eu não sou obrigada a ser você, mãe. - Eu respondia, já irritada.

- Você tá muito abusada, garota.

- É. Talvez eu não devesse ter te contado mesmo.

Eu olhava para Rosa tentando me acalmar de novo. Sabia que isso ia acontecer, eu contaria para ela o que fiz e ela iria brigar comigo sem motivo algum. Queria conseguir entendê-la, mas não conseguia.

Olhava para a janela, pensando se voltar para aquela casa naquela noite era realmente uma boa ideia. Não tinha motivos para ter voltado, apenas achava que não devia sumir de lá. Mas eu estaria errada se o fizesse?

Rosa continuava me olhando, esperando um pedido de desculpas que eu não daria. Eu sabia que ela estava irritada por minha culpa, mas não achava que ela estava certa.

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