Capítulo 2

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Gwen

Assim que abri a porta da entrada de casa senti um arrepio da cabeça aos pés, o silêncio ensurdecedor, era como se eu passasse em um portal, do mundo normal pra algo que nem eu mesma entendia. A energia era definitivamente pesada e me sugava assim que entrava no local.

Havia ligado para o dono do apartamento mais cedo e o mesmo foi bem solicito, me explicou tudo e então fechamos um acordo logo após terminar de resolver a papelada da casa onde cresci. 
Suspiro cansada e caminho pela casa, indo até a cozinha onde coloco uma lasanha congelada no micro-ondas, logo lembro da minha mãe, ela odiaria ver como estou me alimentando mal. E esse pensamento me faz rir um pouco.

Subo para o meu quarto mas no corredor escuto sussurros vindos do quarto onde minha mãe faleceu, meu corpo todo estremece e então ignoro, afinal deve ser apenas coisa da minha cabeça. Já no meu quarto, organizo os documentos em uma pasta e sigo para o banheiro da minha suíte onde tomo um banho rápido, com a toalha em mãos, seco meu corpo aos poucos e observando meu reflexo, não me olhava no espelho a alguns dias, meu corpo estava mais magro, estava pálida, era estranho me ver tão apática.
Visto algum pijama de mangas compridas antes de descer novamente até o térreo e comer a lasanha que estava morna. Após a refeição lavo as coisas que sujei e volto para o meu quarto, onde me afundo na cama repleta de cobertores, precisava dormir urgentemente do mesmo jeito que precisava resolver todas as minhas pendências. 

A noite passa lentamente e tomada pelo cansaço acabo pegando no sono em meio aos livros da universidade, uma noite conturbada com pesadelos,  sonhos tão vividos que quando abro os olhos consigo sentir a dor dos socos que recebia. Ao amanhecer me levanto sem ânimo algum, mas ainda assim coloco uma música animada para tocar no celular e abro as janelas da casa, deveria fazer uma faxina espiritual e organizar minhas coisas para a mudança.

Começo pelo meu quarto. Roupas, sapatos, meus diversos livros e pequenas decorações que enfeitavam aquele ambiente. Todos eles eu coloco em uma caixa de papelão grande, organizando assim por partes tudo, arrasto as caixas e malas com roupas e sapatos pelo corredor até conseguir empilhá-las ao pé da escada, suspiro antes de fazer um rabo de cavalo no topo da cabeça antes de pegar o meu celular para convocar a ajuda necessária. Mando uma mensagem no grupo dos meus amigos perguntando quem viria para a minha mudança.

As respostas que se seguiram me alegraram e me deixaram animada:

"estou a caminho" - Kate

"vamos mais tarde, a Kalsey está de ressaca, ela está insuportável" - Wendy

"eu vou, não aguento mais ver esses seres jogando FIFA, o Andy vai também!" - Caleb

"Eu vou antes que o Caleb arranque as minhas bolas" - Andy

E em alguns minutos meus amigos estão em casa e começamos a arrumação, Kate ficou com a cozinha, Caleb com a sala e Andrew com a biblioteca. Eu, fui para o quarto da minha mãe, sua suíte estava tão irreconhecível para mim, uma das paredes ela fez questão de pintar de amarelo, pois segundo a mesma remetia a felicidade e bem nessa parede ela pendurou fotos nossas. Levo minha mão ao peito e suspiro pesadamente sentindo meus joelhos fraquejarem. Ao caminhar pelo cômodo paro em frente ao seu guarda roupas e toco nos tecidos, o cheiro de seu perfume se fazia presente como nunca e aos poucos levo suas peças para a cama, onde as dobro cuidadosamente. Tinha a noção de que ela iria preferir que eu doasse suas coisas, então aos poucos coloquei tudo em caixas e em alguns momentos não pude conter o vazio no meu peito e deixei a tristeza transbordar, aquela dor, era maior que tudo que imaginei, como se um buraco no meu peito acabasse de ser aberto.

Após separar suas coisas limpei o nariz que insistia em ficar escorrendo e fui para o andar de baixo com suas caixas em minhas mãos, sentindo o peso do que aquilo significava, me dirigi rapidamente para outras funções e acabei ajudando Andrew com os livros por fim liguei para o caminhão da mudança, definitivamente era uma despedida, nossas poucas coisas encaixotadas mais rápido do que eu imaginei, o caminhão levou a maioria das coisas para o apartamento e as coisas que não iam para lá, foram destinadas à doação.

- Você tá bem?

Kate pergunta me olhando com pesar nos olhos, estava parada no meio da sala de estar vazia, tendo comigo apenas minha mala imaginária com lembranças, a garota veio até mim e me abraçou e não consegui segurar as lágrimas que transbordaram dos meus olhos e desciam pela minha bochecha sem vergonha alguma. Me sentia fraca, mas eu estava de despedindo da casa onde cresci, da casa onde vi minha mãe passar os melhores dias da sua vida e os piores.
Senti o abraço de Caleb e Andy também, me sentia como uma boneca de porcelana quebrada, precisava colar os pedaços novamente.

O tempo passou rapidamente e a casa ficou vazia, Caleb quis ficar comigo e os outros foram embora após os meus eternos agradecimentos, o rapaz arrumou o cabelo para a lateral e segurou na minha mão sorrindo como se dissesse que ficaria tudo bem. E tenho certeza que ele está certo.

- Eu sei que minha mãe não está mais aqui, mas você me ajuda a limpar a energia da casa?

- É claro! Depois a gente pode ir comer um lanche né? Estou morrendo de fome.

Ri da sua cara e concordei antes de pegar em minha mochila o material necessário.

Nós acendemos incensos e eu usei meus cristais para a limpeza, tudo o que me foi passado por minha mãe. Afinal, ela estaria sempre comigo e sei que está orgulhosa dos pequenos avanços que ando fazendo com a minha vida. Repito as palavras para a limpeza enquanto caminho pelos cômodos espalhando o incenso por cada canto, dando uma atenção maior aos quartos. Fazendo ao final uma meditação finalizando tudo, conseguia sentir a casa com a energia leve e tranquila, como era antes, a família que vir morar aqui vai ser muito feliz.

Após colocar meus pertences no carro, tranquei tudo, respirando aliviada que tinha dado tudo certo. Caleb como um ótimo amigo, me fez ficar animada com os planos que o mesmo fazia para o futuro, seguimos para a república com o rapaz cantarolando comigo, ao chegarmos pedimos pizza e convocamos os rapazes para uma disputa no Just Dance, disputa essa que vencemos. 

E assim que Caleb enfiou um pedaço da comida na boca, decidi que precisava fazer aquilo.

- Eu preciso te perguntar... Você quer dividir o apartamento comigo?

O rapaz parou por um tempo e engoliu a pizza antes de abrir um sorriso genuíno.

- Sem o Andy, sem a bagunça daqui.... Graças a Deus.

Eu já tinha a plena noção que o quarto dele continuaria aqui, nunca vi tamanha parceria entre os meninos daqui, também estava ciente de que provavelmente ele passaria mais tempo fora do que realmente no apartamento, mas era bom saber que teria companhia, estava feliz com isso. 

FederkleidOnde histórias criam vida. Descubra agora