Capítulo 5

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Genevive - (Passado)

O meu vestido champanhe balançava à medida em que eu corria pelo campo, me sentia como uma adolescente um pouco desajeitada que não tinha problemas. Mas a verdade é que no auge dos meus 15 anos descobri toda a história da minha família com a bruxaria, e foi então que decidi desenvolvê-la para manter a mesma sob controle, me escondi de todos como minha mãe mesma me ensinou antes de simplesmente sumir.

- Vai ficar aí perdida nos pensamentos e correndo como uma louca?

Cassandra me fitava com as mãos na cintura, seus cabelos pretos longos balançavam com a brisa fresca da manhã de verão. Cassandra é minha única prima e parente, a mesma é seis anos mais velha do que eu e ela me ajuda em tudo depois que minha mãe sumiu. Somos como irmãs.

- Não está sentindo essa energia? Esse dia maravilhoso?

Me aproximo e seguro em seus braços a levando junto comigo para uma dança esquisita por alguns segundos antes que a mesma se solte do meu aperto e faça a carranca para me repreender.

- Se eles nos virem, você já sabe.

Bufo e concordo com a cabeça, volto a pegar a cesta com os pães e ervas que acabara de comprar na feira. Arrumo os meus cabelos e então caminho com a moça ao meu lado até a nossa casa. A porta de madeira range levemente ao abrirmos antes de entrarmos. Me aproximo da nossa mesa e deixo a cesta, as mãos habilidosas da garota mais velha já retiram tudo o que compramos e a mesma se vira para guardar as coisas no nosso armário.

- Você não pode se atrasar, precisa ir até o castelo, a limpeza vai ser feita na sala de jantar, hoje eles irão fazer algo grande.

Cassandra me fita após guardar as ervas nos frascos esperando minha resposta que vem apenas com um aceno de cabeça. Rapidamente arrumo o meu vestido antes de amarrar o avental em minha cintura.

- Te vejo logo.

Me despeço da garota deixando um beijo em sua bochecha antes de começar o caminho rumo aos meus afazeres, andar pelas ruas calmas da cidade me acalmava e de certa forma me deixava assustada. Meu trabalho se consistia em cuidar da limpeza do castelo praticamente todos os dias e cuidava dos machucados dos feridos que ocasionalmente apareciam quando não estava lavando o chão do local.
E em meio aos meus devaneios cheguei rapidamente ao castelo onde fui recebida pelas minhas companheiras, então rapidamente comecei os serviços que correspondiam à metade do local, ou seja, trabalhava até a exaustão. Estava com os joelhos doendo de estar naquela posição enquanto esfregava o chão do salão principal quando ouvi o rei conversar com o padre da cidade no corredor ao lado do salão. Aquilo certamente me incluía e então me aproximei aos poucos do corredor enquanto esfregava o chão sujo e pude ouvi-los mais claramente.

- A área para a fogueira será erguida na próxima semana e em seguida começaremos a procurar essas malditas que destroem nossa cidade.

- Irei mandar os meus melhores cavalos com meus melhores soldados.

E foi então que um puxão forte nos meus cabelos me tirou do chão.

- Está bisbilhotando sua rata imunda?

Estava tão atordoada com a dor causada pelo puxão que senti a minha voz sumir, então apenas balancei a cabeça negando veemente e levantando as minhas mãos que ainda seguravam a esponja suja de sabão.

- Eu acho bom!

As mãos do rei puxam meus cabelos mais uma vez e então o mesmo usa sua força para me jogar contra o chão de pedra causando um impacto forte em meu quadril e ombro que logo começam a latejar, meu rosto bateu levemente na aspereza das pedras causando uma ardência imediata. Me apresso em começar a esfregar o chão novamente enquanto os homens se afastam.

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Ao sair do castelo com algumas moedas passo na feira da cidade e compro alguns tecidos para um futuro vestido que faria, e sigo meu caminho pelo bosque, iria visitar Alana antes de retornar. Precisava conversar sobre o que acontecera e precisava tratar das contusões e do ralado em meu queixo antes de voltar para casa.

Assim que passo pela porta vejo Alana conversando animadamente sobre um livro com alguém, deixo os tecidos sobre a mesa e me aproximo dos dois que conversavam próximos da janela.

- Oi Genevive, meu Deus, quem te bateu?

Sorrio para a garota e então meus olhos encontram os do rapaz que segurava um livro. Seus olhos cor de mel me olhavam com gentileza e então ele os desviou para o meu queixo.

- Ouvi a conversa de quem não devia e agora estou assim.

Dou de ombros e me sento em umas das cadeiras próximas da mesa.

- Cassandra vai te matar!

Concordo com a cabeça e então arrumo os meus cabelos antes de arquear a sobrancelha para o rapaz de cabelos num tom de loiro escuro, quase um castanho, seus cachos brilhavam com a luz do fim da tarde.

- Sou Erwin Gallagher.

- Genevive McCarthy

Seus lábios se curvam em um sorriso e então ele faz um aceno com a cabeça.

- Erwin veio me emprestar um de seus livros. Ele trabalha na biblioteca da cidade.

Meneio com a cabeça escondendo o meu entusiasmo, amava ler e estudar. Não tínhamos tanto acesso aos estudos, os poucos livros e professores eram para os homens ricos. Via ali uma oportunidade de buscar o conhecimento que poucos tinham.

- Isso é interessante. Alana, eu preciso daquelas ervas que te trouxe para passar nesse machucado. Você ainda as tem?

A garota concorda e vai até seu armário em busca das mesmas.

- Sabe Erwin, Genevive é a mais inteligente das moças que eu conheço. Ela ama estudar e bisbilhotar a conversa dos outros ao que parece.

Sua risada me faz balançar a cabeça e revirar os olhos antes de voltar o meu olhar para o rapaz que me encarava de forma curiosa. Sou interrompida quando a garota deixa o frasco com a espécie de pomada em minhas mãos. Uma mistura de aloe vera com camomila, iria acalmar minha pele e ajudar com a cicatrização, passo uma pequena quantidade em meu queixo.

- Você ficou sabendo da novidade?

Os dois me olham e por um momento hesito.

- Vão construir um novo entretenimento para a cidade. Vai ser mórbido.

Eles me olham confusos e então balanço a cabeça antes de me levantar da cadeira, senti minha cintura latejar com o movimento abrupto.

- Estou indo, antes que escureça.

- Tudo bem, você vem amanhã certo?

Meneio com a cabeça e seguro os tecidos que havia comprado a pouco e então caminho até a porta de madeira, aceno antes de sair. Meus pés começam a me levar na direção da minha casa, o céu se mesclava em tons de laranja, rosa e azul escuro. Já era possível observar a lua crescente, era bom.

- Genevive, ei. Espere!

Me assusto quando uma mão segura em meu braço e me vira. Os olhos cor de mel de Erwin me fitam.

- Sim?

- Você é rápida!

Olho sem entender o rapaz, aonde ele queria chegar com aquela conversa?

- Não estou entendendo.

- É... Eu queria te emprestar esse livro, Alana comentou que você ama ler e quando você saiu eu só decidi agir.

- Você é estranho. Mas eu agradeço.

O sorriso do rapaz me faz sorrir e então ele me entrega o objeto.

Naquela noite os olhos dele não saíram dos meus pensamentos e eu tive a sensação em meu peito de que tudo mudaria. Não tinha certeza se seria para o bem.

FederkleidOnde histórias criam vida. Descubra agora