A segunda-feira começou agitada para Camila, seu café estava muito cheio. Muitos executivos tomavam café da manhã lá e como o feriado de ano novo havia caído no domingo, a segunda estava começando a todo vapor. Ela entrou e cumprimentou alguns frequentadores assíduos e que haviam se tornado conhecidos, depois entrou para sua sala. Dinah já estava lá a esperando.
- Bom dia! Como foi de passagem de ano? E parabéns! – sorriu lhe entregando um presente com um cartão.
- Obrigada.
- Sei que não é dada a comemorações efusivas. Desejo tudo de melhor nessa vida pra você, muita saúde e sorte, principalmente no amor.
Camila que ainda tinha um sorriso no rosto, o desfez em segundos.
- Nossa! Pela sua cara, sua passagem de ano não deve ter sido nada boa.
- Não foi de todo ruim, poderia ter sido melhor. E a sua?
- Maravilhosa! – falou pausando cada sílaba. – Primeiro passamos em casa e depois fomos à praia e ficamos por lá até amanhecer.
- Que disposição hein? – Camila ouvia, mas já ligava o computador.
- Também dormimos o domingo todo praticamente.
- Eu também dormi ontem o dia todo, descansei, repassei minha agenda desse ano e agora estou atualizando meus compromissos.
- Como cheguei mais cedo, fiz isso aqui. Você tem uma festa de um ano essa semana.
- Sim, eu ia te perguntar. Você havia me falado, só não lembrava a data.
- É logo na primeira semana, a mãe da criança ligou cedo hoje pra saber dos preparativos. O que vai fazer?
- Será tudo mini, criança adora essas coisas. Então os salgados serão pequenos e os doces também. Eles não querem nada chique, mas pediram uma quantidade maior. Então será servido salgado de festa e depois de cantar o parabéns, vou fazer um mini churrasco. Preciso saber como está o estoque de carne.
- Essa semana vou comprar mais.
- Peça filé bem macio e inteiro, aqui eu oriento o pessoal como quero que cortem. Vou colocar em cumbucas com vinagrete e farofa de alho.
- E os doces?
- Ela pediu espetinho de jujuba, vou incrementar isso, porque ta básico demais. Talvez coloque um bombom de fruta na ponta.
- O que está olhando aí? – Dinah perguntou curiosa, pois Camila estava em um site de notícias e havia muitas fotos de cidades alagadas.
- Minas Gerais está embaixo d’água. E pelo que vejo a cidade onde minha família mora também.
- Será que estão bem?
- Não sei, mas não vou me preocupar, afinal, dizem que merda não afunda. – falou com ironia.
- Deus do céu! Você virou o ano pior do que pensei. – Dinah não sabia se ria ou se brigava com ela.
- Pra que vou me preocupar com eles? Quando passei dificuldades aqui, eles não quiseram saber como eu estava.
- Ta bom, mas não precisa ser tão ruim. Não vou te julgar, mas pega leve, o ser humano não precisa retribuir da mesma forma. Ser superior é receber os tapas e devolver em carinhos.
Camila olhou pra ela com uma cara de interrogação.
- O ditado não é esse, mas é por aí. – Dinah falou. – Vou ligar para o açougue e te retorno. Já volto.
Depois que a secretária saiu, ela ficou pensando. Dinah estava certa. Era melhor que eles, pois não tinha o coração ruim. Era apenas solitário e assim deveria permanecer. Saiu do site de noticias e entrou no do banco. Como sempre fazia, olhava toda a parte financeira do café, do buffet e a sua. Dinah também, mas ela só tinha acesso a da empresa, a conta de Camila não. Como boa mineira, era desconfiada e se resguardava em algumas coisas. Movimentou as aplicações, tirou extratos e após checar tudo fechou o site. Estava terminando de fazer uma lista de compras quando Dinah entrou na sala.
- Dinah, gostaria que fizesse um favor pra mim.
- Pode falar.
- Procure saber como estão as estradas para Minas e se o pessoal da transportadora que nos presta serviço pode levar um caminhão até lá.
Dinah escutava atentamente.
- Se puder, quero que faça uma compra desses itens aqui. – estendeu o papel.
A secretária pegou e viu que se tratava de itens de higiene, fraldas, alimentos não perecíveis e leite em pó.
- Pode deixar que providencio agora. – saiu sorrindo. – É, ela não é tão ranzinza assim. – falou pra si mesma.
Em questão de uma hora estava tudo acertado, o caminhão sairia do Rio no dia seguinte de manhã.
Camila almoçou no café mesmo, preferiu comer uma salada. Dinah saiu com Cristina, mas voltou rápido. As duas entraram no café e avistaram achef ainda almoçando.
- Isso aí, foi as forras no final de semana e agora tem que segurar a boca. – Cristina brincou.
- Ei Cris! Como vai? – se levantou pra cumprimentá-la.
- Bem, graças a Deus.
- Senta gente. Já estou terminando.
- Sem pressa, almoçamos no shopping, Cristina queria trocar um presente de Natal.
- Minha família é assim, nunca dá presente, quando dá é do tamanho errado. – riu.
Cristina era mais alta que Dinah, não era gorda, mas tinha o corpo mais forte. Cabelos loiros e estava sempre bem humorada. Camila pensava que era por isso que Dinah não largava dela, era impossível brigar com Cristina. Depois que almoçaram as três subiram para o escritório e quando estavam entrando um funcionário falou antes que abrissem a porta.
- Camila, um rapaz veio pra entregar uma encomenda pra você. Como não queria te incomodar na hora de seu almoço, eu autorizei e o acompanhei a entrar na sua sala, está em cima da mesa.
- Ok, obrigada.
A sala de Dinah era conjugada com a de Camila, porém separada por uma parede de vidro, ambas as salas com cortina, pra dar privacidade às duas. A chef abriu a porta sem expectativa nenhuma sobre o que era. Em cima da mesa estava uma caixa muito bem embrulhada com um laço verde. - Nossa! Presente de Natal atrasado! – Dinah brincou.
- É seu? – a chef perguntou.
- Não.
- Ué, de quem será? – abriu o laço e destampou a caixa. Dentro havia uma orquídea com um cartão e ao lado outra caixinha e dentro dela um relógio lindíssimo de ouro branco com uma pulseira de couro.
- Que linda! Adoro orquídeas! Quem mandou?
Camila abriu o cartão e leu a mensagem: Desejo que seu ano comece com muito trabalho, bons negócios e mais conquistas. E que tudo venha acompanhado desse lindo sorriso que tens. Obrigada pela companhia, gostaria de tê-la ao meu lado novamente. Pode me dar essa honra?
- Mas que coisa… – balançou a cabeça negativamente.
- Quem mandou? Me deixa ver!
- Toma. – Camila jogou o cartão na mesa. – É daLauren.
- O que!?!? Como assim? Me conta isso direito! –Dinah estava perplexa.
- Nos encontramos por acaso na praia e aí choveu, ela estava a pé e eu de carro. Fomos até minha casa e lá ceamos, depois ela foi embora e só.
Dinah lia o cartão e embaixo em uma letra pequena estava a frase: Desculpe pelo beijo, mas foi irresistível! – leu para Camila. – Ah sim e esse beijo foi o que?
- O que?
- Não leu todo o cartão? – tentava segurar o riso.
Camila pegou o cartão de volta e viu a frase bem embaixo. Teve vontade de matar Lauren.
- É, rolou um beijo, forçado e depois ela se desculpou.
- To vendo, mas pelo visto foi um pedido de desculpa esfarrapado. – riu.
- Pare de rir! Não aconteceu nada demais e nem vai acontecer.
- Incrível! Metade das mulheres lésbicas da cidade querem ter um caso com Lauren Jauregui… – Cristina falou.
- E a outra metade já teve. – Camila completou a frase. – Não serei a estatística dela.
- Nunca poderia imaginar que teria alguma coisa com ela. – Dinah falou.
- Não tenho nada com ela!
- Sabe que formam um casal bonito?
- Que casal Dinah! Não existe casal e só não devolvo o presente porque acho deselegante, mas se quiser ficar pra você, pode ficar.
- Imagina, é seu e acho que deve guardar ao menos. Ela foi gentil e não faltou com o respeito. Deixe de ser infantil, aceite e agradeça.
Às vezes Dinah parecia ser mãe de Camila. Chamava atenção dela e repreendia quando fazia coisas praticamente inaceitáveis, como aquela por exemplo.
- Ta, ta bom! Vou agradecer e só.
- Vou te dar licença para fazer isso, mas quero detalhes depois.
- Eu preciso ir também, meu trabalho me espera. – Cristina e Dinah saíram deixando a chef sozinha.
Camila sentou em sua cadeira e apoiou os cotovelos em cima da mesa. Olhava para os presentes e pensava em quando teria ganhado um que não fosse da amiga e secretária. Ligou para Rio Quality e pediu pra falar com Lauren, se identificou e em segundos estava ao telefone com ela.
- Obrigada pelo presente e não precisava.
- Você merece mais do que isso. E não é frase clichê. Estou só agradecendo pela gentileza de ter feito companhia numa data tão difícil pra mim. Foi importante ter alguém e uma delícia esse alguém ser você.
Camila conseguiu se arrepiar com o que ela falara. Fechou os olhos respirando fundo ao mesmo tempo. Não podia se envolver.
“Não posso por quê? Na verdade não quero.”
VOCÊ ESTÁ LENDO
Medida Certa
Fiksi PenggemarCamila tem seu coração completamente protegido atrás de um parede de puro concreto e aqueles que tentarem se aproximar dele serão friamente desencorajados! Porem Lauren não vai desistir facilmente.. Esta fic é uma adaptação.