Aniversário

47 9 2
                                    

Na sexta-feira, era aniversário de Bree. Os outros seis sabiam disso porque ela havia repetido essa informação centenas de vezes desde o café-da-manhã de segunda-feira.

– Precisamos fazer alguma coisa. – sussurrou Lena, assim que Bree fechou a porta do banheiro e pôde-se ouvir a água do chuveiro caindo.

– É mesmo, ela tá falando nisso o dia todo. – concordou Meg.

– Mas o que podemos fazer? A gente nem se conhece direito, como vamos saber do que ela gosta? – perguntou Astrid.

– Ela é famosa, deve ter alguma entrevista dela na internet. – insistiu Lena.

E foi assim que eles acabaram transformando a sala de estar do dormitório em uma sala da renascença, algo de mais de dois mil anos atrás. Aparentemente Bree era obcecada por coisas dessa época e grande parte de sua habilidade de investigação vinha do quanto ela havia estudado História.

– Surpresa! – gritaram todos quando ela entrou no apartamento na sexta à noite.

– Ah meu Deus! Vocês lembraram!

– Como se a gente fosse esquecer com você repetindo tanto isso! – disse Astrid. Ela estava usando um longo vestido azul claro que combinava perfeitamente com seus olhos.

– É... Pois é... – disse Bree e depois riu – Ai gente, obrigada, sério, eu realmente não tava esperando por isso!

– Que isso, Bree! Vem cortar o bolo! – disse Meg, que estava usando um longo vestido rosa claro.

Bree se aproximou da mesa e Clarisse apagou a luz. Ela fechou os olhos, desejando ter amigos como aqueles para sempre.

No seu colégio anterior, ela não havia tido muitos amigos. Não havia tido nenhum, para falar a verdade. Os poucos que haviam surgido se afastavam pouco tempo depois. Ela nunca havia entendido porquê. Talvez por sua inteligência acima da média e habilidades especiais que um dia fariam que ela entrasse na LATT. Mas agora, talvez, as coisas finalmente tivessem mudado.

Ela assoprou as velas e quando fez isso, sentiu outra pontada em seu peito, um pouco mais fraca dessa vez. Bree ignorou a dor e continuou com a festa.

Quando passou da meia-noite, porém, a dor tronou-se insuportável e ela resolveu dormir para ver se passaria.

– Ei pessoal, eu tô bem cansada, a gente teve umas aulas meio chatas hoje, acho que já vou dormir, tudo bem?

– Ah, não, a gente não vai te deixar dormir. – brincou G. e todos riram.

– Pode ir, Bree. E desculpa não termos comprado nenhum presente. – falou Jo.

– Tudo bem, a festa foi o melhor presente que vocês poderiam ter dado!

Ela se afastou da mesa e foi para seu quarto, onde deitou e, incrivelmente, logo caiu no sono.

***

Bree estava presa na parede por algemas eletrônicas. Ela estava suada, machucada, e completamente assustada. Estava sozinha, não havia nada que pudesse fazer. Como ela tinha sido tão estúpida?

O garoto loiro em sua frente fazia barulhos metálicos conforme os materiais que estava limpando batiam contra a mesa de metal. Então, após alguns minutos, Adam virou-se para ela, segurando uma faca fina.

– É uma pena que seja só você, mas vou aproveitar a oportunidade mesmo assim. Além do mais, se seus amigos estivessem aqui, eu provavelmente não conseguiria controlar todos vocês.

– Eles vão chegar.

– Então vamos aproveitar enquanto não chegam.

Ele se aproximou.

– Eu não acredito que você fez isso com a gente! Com a Clarisse!

– Algumas coisas precisam ser sacrificadas por um bem maior.

Adam aproximou a faca da testa de Bree e ela gritou, fechando os olhos e tentando se soltar das algemas.

***

Lena acordou arfando e suando novamente, mas dessa vez não saiu correndo para o corredor. Mais um sonho extremamente real. Mas dessa vez, um pouco improvável, não? O que um garoto do quarto ano estaria fazendo mantendo Bree presa numa parede e provavelmente torturando-a?

Devia ser uma daquelas situações em que você associa acontecimentos recentes e os junta num único sonho. Fazia sentido. Ela havia ido recentemente à festa de Adam, o garoto do quarto ano, e naquela noite eles haviam feito uma festa para Bree.

Era isso. Apenas um sonho.

Ela rolou na cama e fechou os olhos.

Mas não parecia apenas isso.

***

Com a luz entrando pelas frestas da persiana de sua janela, Bree acordou na manhã seguinte. Ela se remexeu na cama, a dor em seu peito não mais a incomodando, e abriu os olhos.

E foi aí que ela entrou em pânico.

Seu quarto estava repleto de criaturas de diversos formatos, cores e expressões. Parecia que ela havia entrado em um quadro abstrato.

A princípio, ela encarou a cena, boquiaberta, sem saber o que fazer. Porém quando uma das criaturas (um monstro cinza e peludo de seis olhos) saltou em sua direção, ela gritou, protegendo-se com os braços.

Bree não sentiu impacto algum e não viu o que tinha acontecido, pois havia fechado os olhos no momento do impacto. Segundos depois, a porta de seu quarto se abriu revelando seus amigos, assustados.

– O que aconteceu? – perguntou Meg.

Bree abriu os olhos aos poucos e percebeu que seu quarto estava vazio. Ela abaixo os braços lentamente e olhou assustada para seus amigos.

– Eu... Não sei exatamente... O meu quarto estava cheio de monstros... Ou algo assim... Eu...

– Provavelmente foi só um caso de paralisia do sonho. – disse Lena e todos olharam para ela – Sabem? Quando você abre os olhos entre o estado de sono e o estado acordado, e as imagens da sua mente se manifestam, fazendo você pensar que está vendo coisas.

– É, provavelmente foi isso. – concordou Astrid.

– Vamos voltar a dormir, por favor, eu tenho um compromisso amanhã. – disse Clarisse, já se dirigindo a seu quarto.

– Se precisar de alguma coisa pode chamar. – disse Jo, antes de seguir os outros e ir para seu quarto também.

Bree engoliu em seco e deitou-se novamente em sua cama. Aquilo definitivamente não tinha sido um caso de paralisia do sono. Havia sido real demais. Mas o que havia sido, então? E como ela explicaria isso a seus amigos? Eles provavelmente a achariam maluca e se afastariam dela como todos em sua antiga escola faziam. Ela não podia arriscar.

Guardados A Sete ChavesOnde histórias criam vida. Descubra agora