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Um conto de oh_viitor

O reflexo alaranjado do sol que rebatia na água do lago a minha frente, forçava-me a apertar os olhos. Embora eu já devesse estar acostumado com aquela paisagem, eu sempre fico maravilhado toda vez que a observo. Fechei meus olhos sentindo a brisa do entardecer e a leve coceira nas pernas causada pela grama verde, até que senti algo quente subir em minha mão. Eu estava tão envolto pelo pôr do sol, que não reparei se tinha alguém perto de mim, e mesmo tentando puxar o braço de volta para junto de meu corpo, ele segurou minha mão. Abri os olhos de forma preguiçosa e a imagem me surpreendeu imensamente. Era um rapaz. Ele me mandou um sorriso de forma desajeitada, seu cabelo castanho caía um pouco sobre o rosto, mas aqueles olhos verdes eram bastante familiares.

Seus cabelos desarrumados combinavam perfeitamente com suas roupas, que eram nada mais que uma camisa acinzentada, claramente maior que o necessário, com pontos mais claros e desbotados, e sua calça, que tinha uns desenhos feitos com caneta colorida. Eu deveria me sentir acuado, mas o som grave de sua voz era peculiar. Eu não consegui entender o que ele estava falando, mas seus dedos não deixaram de estar entrelaçados aos meus. Porém, eu o conheço, ou ao menos deveria conhecer. Sua risada era contagiante e as marcas de tinta em sua bochecha o faziam ficar mais fofo ainda, mas, com o cair da noite, uma dor imensa surgiu em minha cabeça e eu não conseguia mais focar em nada. Era como se um imenso peso estivesse em cima de mim, a voz sumiu de minha garganta e aquele garoto já não estava mais do meu lado. Tentei gritar o máximo que pude, e então...

— De novo, detesto ter pesadelos, quem era aquele cara? Ah, sei lá! — Acordei mais uma vez com a respiração pesada e os resquícios da dor que permaneciam em minha mente. A luz, que entrava entre as brechas da cortina, insistia em me acordar.

Naquela manhã, meu corpo estava pesado e querendo ficar mais umas seis horas deitado, mas precisava me arrumar antes de ir para a faculdade. No espelho, vi um Yolan totalmente descabelado e cheio de sono. Não pude deixar de sorrir, era realmente uma imagem engraçada. Enquanto escovava os dentes, um pequeno vulto me fez virar para a porta do banheiro, assustei-me pensando ser algum estranho invadindo minha casa, mas logo de manhã? Não faria sentido algum. Era um gato, seu pelo preto tinha um brilho prateado à luz do sol e seu olhar me focava, fazendo-me pensar que ele queria alguma coisa, mas o que seria?

— Oi, pequeno... Dom! — Ele me deixou afagar sua cabeça e ronronava com o carinho que recebia. Eu não lembrava de ter um gato antes, mas seu nome me veio tão claro na mente que talvez ele seja de algum vizinho. Não lembro bem, mas ele parece gostar de mim.

— Pode ficar o quanto quiser, pequeno, só não vá quebrar nada por aqui — disse a ele que miava em forma de reclamação.

Acho que era um gato orgulhoso, pois quando me afastei, ele parecia ter um olhar perdido, como se estivesse confuso com aquela situação. Ele quis me seguir de volta para o banheiro, mas eu fechei a porta antes que ele pudesse entrar.

Algo muito curioso me veio à cabeça quando me coloquei a pensar na aparição de Dom, porém não tive muito tempo para pensar, pois um miado dentro do banheiro me chamou a atenção. Era Dom sentado na tampa do vaso sanitário, olhando para mim como se quisesse me falar algo. Curiosamente eu perguntei:

— Como você entrou aqui, pequeno? Eu acabei de fechar a porta — disse olhando para Dom, que fechava os olhos num sinal de carinho, se aproximando da pia. Quando encaro seus olhos algumas imagens embaçadas vêm à minha mente, como sinais que me faziam relembrar meus pesadelos.

— Hum? Acho que eu estou dormindo tarde demais. Vamos tomar café, Dom? O que seu dono costuma te dar? Me conta? — perguntei a Dom, enquanto terminava de escovar os dentes e lavar o rosto. Ele me seguia até à cozinha tranquilamente, enquanto eu tirava algumas coisas da geladeira e ligava a torradeira. Dom me observava cuidadosamente, então me lembro que tinha um pouco de leite desnatado, pego uma pequena tigela e coloco para que ele tome calmamente.

O Assassino da Lua 🌒 DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora