Tudo começou quando me deparei que estaria condenado a passar o resto da minha vida sozinho, no apartamento em que eu morava há mais de 20 anos, que nas paredes continham fotografias da minha família e alguns velhos troféus que adquiri na juventude.
Nada mais faz sentido, não tinha mais televisão, rádio ou lia qualquer jornal. Às vezes, os panfletos de supermercado que achava na rua para aproveitar as promoções.
Meu passatempo era o prédio da frente. Após dois anos da partida da minha esposa e do meu filho, eu passava a maior parte do meu dia olhando para ele, pegava um café, sentava em minha poltrona e observava.
Eu não conhecia nenhum morador do prédio, mas sabia muita coisa sobre eles. Os horários de trabalho, as visitas, as festas, as brigas, os filmes que gostavam de assistir, os familiares que visitavam nas datas especiais, os aniversários, as traições, as mentiras, as culpas, os choros.
Moro em um apartamento bem discreto, passaria despercebido por qualquer um, janela sempre meia aberta, com uma cortina de seda antiga que ganhei de presente de casamento e um vaso de flores mortas que eu regava todos os dias. O edifício em que eu morava era de uma família italiana, dois elevadores para mais de 200 moradores e alguns corredores que certamente causaria medo ao se passar à noite. E, claro, três porteiros, todos com mais de 15 anos de prédio que se achavam donos do espaço. Um lugar nada convidativo para se morar tanto tempo.
Pois bem, tudo que você lerá será da minha percepção, não sei se inventei ou se realmente vi, confesso que é confuso, posso ter feito ligações erradas dos fatos ou inventado algumas partes para que me satisfizesse. Não fique bravo ao ler. Caso não entenda alguma, a culpa não é minha. Eu sei o nome de algumas pessoas, mas porque vi escrito em cartazes, panfletos ou porque me contaram. Mas garanto que os últimos 2 anos da minha vida têm sido aqui, da janela do meu apartamento, vivendo as vidas do prédio da frente enquanto espero o fim da minha.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O prédio da frente
Короткий рассказUma história observada, sempre, de um único ângulo, sem nenhuma certeza, apenas achismos de um atento observador. Não acredite em tudo que está lendo.