“Sch-schiu, sch-schiu, sch-schiu, sch-schiu...”
Não sei exatamente quando acordo, mas quando o faço, é por causa de um barulho bem distante, que vai se aproximando da minha mente, como som de engrenagens começando a se moverem. Não, não: esqueça as engrenagens... Isto se parece muito mais com o chiado daquelas TVs antigas em um canal sem sinal — e não demora muito para que eu finalmente abra meus olhos...
Para ver absolutamente nada.
Meus olhos varrem todos os lados e só encontram uma negritude densa, massiva. Tudo é preto: abaixo de mim, acima de mim, dos lados... Não há NADA além desse negro eterno. Se eu pudesse comparar a um celular, diria que é quase como aqueles wallpapers pretos com apenas uma coisa no meio. É exatamente como me sinto: suspensa, levitando no ar.
Fechar meus olhos ou abri-los não faz a menor diferença.
— Ah, ótimo. – murmuro, direcionando meu descontento para aquele vazio espacial.
É quando noto que estou estou em cima de uma superfície. Sim, de fato: tudo é negro, e pareço estar levitando, mas definitivamente tem algo embaixo de mim. Pela posição que meus pés estão - confortáveis e estudados para frente - diria que estou em ma espécie de... Cama?
Tateio o lugar invisível abaixo de mim, e percebo pequenas ondas azul-escuras se moverem por onde quer que toco. É como se eu estivesse numa estranha realidade paralela onde meu quarto original foi substituído por uma cópia invisível dele.
“Oh, não. Será que eu... Morri?”
Em meu desespero, começo a me levantar da estranha cama invisível apenas para descobrir que estou cometendo um terrível erro; assim que saio dela, meu corpo começa a cair no vazio.
Meus gritos fazem ecos enquanto me debato na queda, procurando com as mãos qualquer coisa invisível para me segurar. Mas não tinha nada. Era só um buraco - um gigante, sem fim, onde meu corpo apenas caía, caía e caía.
Então o barulho voltou - mas não sozinho. Junto com aquele chiado estranho de TV que parecia assustador naquele escuro cegante, uma espiral, parecida à daqueles desenhos animados começou a girar - e meu corpo imitou, entrando naqurla dança anti-natural. Uma música - de caixinhas de música, onde geralmente uma bailarina fica girando no centro – também começou a ressoar cada vez mais alta à medida que eu caía em maior velocidade.
“Venha brincar em Neverland
Nós somos os seus amigos
Sempre encontramos a direção
Sua vida terá mais sentido”“Sch-schiu, sch-schiu, sch-schiu, sch-schiu...”
Todos os barulhos juntos já começavam a me enlouquecer, me forçando a fechar os olhos e pressionar minhas orelhas, com desespero
— ME DEIXA EM PAZ!
Então, tudo parou.
A música tinha ido embora; o chiado tinha se tornado silêncio... Senti meu corpo descer com delicadeza e tocar uma nova superfície - uma parecida com... Grama? E o que era aquela luz vermelha nos meus olhos?
Abri minhas pálpebras lentamente, ao mesmo tempo que descia meus braços pela lateral do meu corpo. Um sol vermelho claro estava no meio do céu, e logo abaixo dele, uma lua minguante o abraçava. Olhei ao meu redor: eu estava sentada em um jardim. Mas não era qualquer jardim: era um jardim amarelo, com centenas de olhinhos fixados em mim.
Espera... Olhos?
Olhei mais atentamente e vi: eram girassóis... com olhos. E eles piscavam, quase formando sorrisos em uma meia-lua deitada. Elas também se mexiam!
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Leve-me À Neverland
Short StoryUm pequeno conto coletivo para mostrar para alguém especial que ela pode e merece ganhar o mundo. Uma obra do Quinteto & Cia Plágio é crime. QuintetoFantastico5 24/06/2020