O homem confuso

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Abri os olhos sentindo um peso desagradável no corpo combinado com pontadas chatas na cabeça, e agradeci aos céus por ter bebido moderadamente: se estava assim depois de uns drinks, nem queria imaginar o que acontecia depois de um porre.

Teoria nenhuma prepara para as consequências da noite, mas ser médica ajudava no processo de recuperação. Me hidratei, comi algo leve, fechei ainda mais as cortinas e fui tirar um novo cochilo.

Bem, pelo menos tentei.

Porque foi só fechar os olhos que um rosto invadiu meus pensamentos, sutil e suave: podia ver Kakashi com tanta nitidez, quase como se estivesse na minha frente.

Sorri ao pensar que ele era realmente muito bonito. Gostaria de vê-lo sem barreira alguma. Será que beijava com a máscara?

Sem que pudesse evitar a curiosidade sobre cada pequeno aspecto se instalou de forma irreversível, como se tê-lo visto de forma diferente na noite anterior derrubasse um bloqueio interno e tornasse impossível voltar a olhar para ele da mesma forma que antes.

O sono já tinha evaporado mesmo, levantei para cuidar de alguns afazeres e afastar a ideia esdrúxula da mente – em algumas horas, teria plantão e a última coisa que queria era perder tempo com ideias mirabolantes.

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Agradeci por ser mais um dia típico em que as tarefas basicamente se desempenham sozinhas, corpo e mente agindo automaticamente para cumprir as funções.

Mesmo assim foi cansativo, a fadiga da noite mal dormida se acumulando sobre meus ombros. Mal podia esperar para chegar em casa e tomar outro banho, comer e dormir.

- Testuda! Já está indo pra casa?

Interrompi a caminhada tão desanimada que sequer tive forças para devolver a implicância.

- Tô destruída, Ino. Preciso descansar.

Ela me avaliou com uma expressão de deboche que logo cedeu lugar à pena genuína ao confirmar a veracidade da minha reclamação.

- Caramba, na próxima te faço parar na terceira, combinado?

Ri da promessa sabendo que assim que estivéssemos em uma mesa de bar de novo, a loira me incentivaria a beber como se o mundo acabasse no dia seguinte.

Que resistência era essa que Ino, Tsunade e alguns outros tinham com bebida?!

Subitamente, me dei conta que nunca tinha visto Kakashi beber. Quer dizer, não tanto a ponto de perder o rumo.

Claro que como Hokage nem podia se dar ao luxo desse tipo de excesso, mas mesmo nos tempos do time 7, sempre foi um homem comedido.

Homem.

De forma estranha, o título correto sumia de mente com frequência deixando apenas a noção perturbadora de que sim, ele era apenas um homem afinal.

- Sakura?

- Oi? Fala...

- Você tá mal mesmo hein? Vai dormir, não era nada importante.

Os olhos azuis abriram assustados quando a encarei um pouco furiosa. Sou curiosa, esse tipo de coisa para mim é a morte.

- Fala logo.

- Bem, o pessoal está combinando de ir junto ao festival no fim de semana, você vem também?

- Que pessoal?

- Bem, os de sempre, e o Kiba está por aqui...

Então entendi.

Me nota senpai!Onde histórias criam vida. Descubra agora