Cartas na mesa

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Percorremos o caminho até onde Shikamaru supostamente estaria, só pra constatarmos que já tinha ido embora – fato que me agradou sobremaneira.

A noite agradável e fresca convidava a um passeio, uma fuga das vielas abarrotadas de barracas e pessoas impedindo que aproveitasse sua presença. Sutilmente, comecei a andar em direção à saída do festival e fui seguido por ela.

- Achei que ia te encontrar com o Naruto e o resto do pessoal...

Provoquei, um pouco para puxar assunto e muito para sondar o que fazia com o Kiba em um local tão reservado, um interesse que desisti de camuflar sob o argumento de uma simples preocupação.

Só que ao invés de receber a resposta, precisei me contentar com um sorriso discreto acompanhado de um rápido olhar de lado, e foi o suficiente para confirmar minhas suspeitas anteriores sobre o flerte. Se era assim, por quê estava indo embora comigo?

A brisa levantou os cabelos de Sakura e trouxe seu perfume, menos doce do que eu supunha: tinha um toque cítrico, um quê que destoava da doçura e instigava a descobrir seu cheiro, percorrer os caminhos onde seria mais apreciável.

Descobrir e admitir o desejo por ela tinha sido fácil, de tão óbvio se apresentou, e tão agridoce: o erro, o antiético nesse devaneio maculava o sentimento puro que nutria.

- Para onde vamos?

Agora, chutava pedrinhas pela rua, tão menina... Essa mescla de imagens fudia qualquer raciocínio claro que eu tentava estabelecer.

- Pensei que soubesse. Estou acompanhando você.

Sua gargalhada alta e franca encheu a noite e meu peito.

- Então estamos perdidos, porque também não sei para onde estamos indo!

Perdido estava eu.

Parei e cocei a nuca, desarmado. Não tinha exatamente um plano quando a afastei da multidão, exceto aproveitar sua companhia.

- Quer voltar?

As duas esmeraldas brilharam com um ardor que eu desconhecia e logo depois, apagaram em uma expressão de decepção contida.

- Não... Já deve estar no fim.

- Kiba pode estar esperando...

A menção a desconcertou por um momento; por fim, apenas deu de ombros e continuou andando, enchendo minha cabeça de dúvidas impossíveis de calar.

- Pareciam estar se dando bem...

- Estávamos.

- Posso te levar de volta.

De repente, um traço de irritação passou a acompanhar cada fala e olhar de Sakura.

- Acha que preciso de sua escolta? Não sou mais criança, Kakashi.

A ausência do título me deixou atônito; não que eu fizesse questão dele, mas porque isso deixava claro que ela falava comigo, o homem, e não o sensei ou Hokage. As implicações dessa conclusão me assombravam.

- Sei disso, Sakura.

Respondi tão tranquilo quanto consegui, e ela interrompeu os passos duros que dava e voltou aqueles olhos bonitos para mim.

- Então porque me trata como uma? Porque... Me olha como uma?

Uma a uma, baixávamos nossas cartas, revelando um jogo perigoso.

Me nota senpai!Onde histórias criam vida. Descubra agora