Capítulo Único

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Leo está congelando.

É uma tarde gelada de dezembro em Nova York. O natal se aproxima, centenas de pessoas fazem compras da última hora e as ruas estão lotadas - para uma multidão, também há quiosques de rua, barras de comida quente e jovens loucos por uma grana extra que se aventuram no frio para panfletar algum serviço inútil . Vestindo uma roupa de Elfo sob um casaco grosso e luvas de veludo, Leo sente-se completamente contaminado pela euforia de dezembro.

Uma parte ruim das festas? Tudo ficava lotado demais.

Shoppings, bazares, bares, padarias e até mesmo os cafés pequenos que cobram dois dólares por um copo pequeno descafeínado com creme (aquele que fica entre um falido escritório de advocacia e uma loja de roupas de um dólar). Leo estava esperando uma hora na fila apenas para um café e estava quase atrasado demais para uma apresentação dos Elfos Felizes do Papai Noel.

- Finalmente! - exclama Leo quando o muro em forma de gente saiu da sua frente. O cara olha torto para garotos de cachos, que quase se joga no balcão.

O atendente loiro sorri para Leo. Ele é novo , proposta. 

- Bom dia - ele cumprimenta. Seu cabelo loiro segue o corte militar, rente ao couro cabeludo com um pequeno topete. Os olhos azuis movem-se atrás de um óculos de armação dourada que parece grande demais para seu rosto anguloso, bronzeado e onde todas as imperfeições que ainda são bonitas: uma cicatriz no lábio superior, uma falha na sobrancelha, como manchinhas salpicadas pelo nariz - Posso ajudar?

Um café e um beijo, por favor ?,  pensa novamente.

É claro que ele não respondeu isso. Quase . Ao ser disso ele piscou para espantar o encanto com a beleza do outroe se endireitou tentando cobrir a roupa de Elfo por debaixo do sobretudo paranão passar vergonha na frente do homem.

- Um descafeinado com creme e canela, bem doce, por favor - pediu. Ele apertou os olhos para ler o crachá preso no uniforme - Jason.

O nome soou um pouco mais profundo do que deveria, o espanhol de Leo querendo se sobrepor ao inglês.

Jason sorriu mais uma vez.

- E você seria? - pergunta com a caneta e o copo na mão.

- Leo - dá uma risada nervosa - Na verdade é um apelido, mas todo mundo me chama assim.

- Leo - repete Jason em um murmúrio. Sua mão desliza a caneta sobre a superfície do copo com destreza, formando uma curva no 'o' que lembra um cachinho - Só isso Leo?

- Dois dólares dulzura - sacudiu as notas na mão - Quem sabe outro dia.

Como um observador num espetáculo, ele fixa seus olhos em Jason e o observa preparar seu pedido. O atendente é ágil, mas muito gracioso e se Leo notou como a bunda dele fica incrível naquela calça ninguém precisa saber. Não demora muito e Leo tem um copo de café fumegante em suas mãos, o calor se espalhando das palmas para o corpo todo. Ele dá um gole e suspira de prazer.

Não há nada melhor do que café para começar o dia.

- Toma - fala Jason de repente. As írises azuladas praticamente perfuram o rosto do outro, tamanha intensidade do olhar - Por conta da casa.

Leo fica surpreso. Não é todo dia que alguém lhe oferece bolinhos de graça, muito menos uma pessoa bonita.

- Valeu - gagueja corando, entregando suas notas amassadas.

- Tenha um bom dia Leo.

Leo dá um passo para trás e pisa no pé de uma criança. Ela começa a choramingar para o desespero dele e, para evitar a fúria da mãe da garotinha, ele só acena para Jason e sai correndo. O frio de dezembro lhe acerta em cheio e, apesar disso, ele só consegue pensar que precisa de uma desculpa para frequentar o lugar mais vezes.

Um desejo de NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora