📢AVISO: A narração do Jungkook pode conter conteúdo sensível. (escrevi todo o capítulo ouvindo Unmade do Thom Yorke, porque pensei que combinava bastante, caso queiram ouvir está ali na mídia do capítulo)
Jungkook
Não aconteceu com o mesmo efeito dramático que um meteorologista chamado Lorenz, percebendo que pequenas alterações como fazer cálculos com algumas casas decimais a menos causavam uma completa transformação no padrão das massas de ar, testando um programa de computador que as simulava... ou como um matemático polonês, na década de 70, notando que os fractais, figuras geradas a partir de fórmulas que retratam matematicamente a geometria da natureza, desenvolvidos por ele batiam com as equações de Lorenz e com essa junção vindo a percepção de que o caos parecia estar na essência de tudo, moldando o universo.
Mas o resultado foi o mesmo, tudo estava fora de controle.
Quero dizer, se havia relação entre eventos caóticos que nada tinham a ver um com o outro eu acreditava que podia haver uma estranha ordem por trás da aparente imprevisibilidade das coisas.
E isso tudo ficou muito evidente para mim ao chegar em casa e ver o meu pai sentado em minha cama com os olhos fechados e o último livro que eu havia pego na biblioteca, Anything could happen sobre o seu colo. Com toda certeza, aquele tinha sido o momento mais assustador de toda a minha vida.
No mesmo instante, minha mente passou a trabalhar diversas possibilidades as quais, se tivessem ocorrido com toda certeza poderiam evitar aquilo. 1 - não ter me descuidado e deixado o livro à mostra, mesmo que eu estivesse distraído com tudo de bom que estava acontecendo não deveria ter baixado minha guarda. Devia ter previsto que eu mesmo descobriria uma maneira de me auto sabotar. 2- talvez não ter deixado a porta do quarto destrancada ou até a opção mais efetiva de todas, não levar pistas para casa
Talvez inconscientemente eu sempre tive a vontade de que eles soubessem, afinal, aquelas pessoas eram minha família e por isso tinha deixado que isso acontecesse... mas naquele momento eu não saberia responder.
Assim que eu entrei ele abriu os olhos. Eles estavam em um tom de castanho muito mais forte que o normal e eu senti toda sua raiva verter como se de repente um líquido viscoso de ressentimentos estivesse inundando todo o quarto e envenenando cada metro quadrado.
Depois disso as coisas passaram como um borrão.
Lembro de alguns móveis voando e se estraçalhando na parede, lembro que mamãe passou o tempo todo chorando na porta pedindo para que meu pai parasse com o que estava fazendo e em alguma parte de mim que não estava inerte, uma parte bem profunda, foi doloroso pensar que foi necessário chegar a um extremo desses para que ela pudesse demonstrar apreço ou melhor medo pelo que poderia acontecer comigo. Esse pensamento quase me fez soltar uma risada amarga, mas me contive.
Não houve nenhuma agressão física tecnicamente falando, mas senti como se cada molécula minha tivesse sido esmagada, mastigada e depois cuspida. Era uma dor excruciante, ainda que tivesse ficado o tempo todo apenas assistindo e ouvindo em silêncio.
Estava entorpecido, em um misto de sensações terríveis. Não soube muito bem como administrá-las e nem sabia qual eu deveria deixar prevalecer, então optei pela apatia, era a mais segura de todas até então. Mas depois percebi que não tinha sido minha melhor escolha pois assim que aquilo tudo passou, esse sentimento permaneceu como uma erva daninha, segurando e impedindo que os outros sentimentos ruins pudessem sair, a raiva, a angústia a tristeza... e isso consequentemente fez com que eles tomassem proporções cada vez maiores até que chegou um momento em que comecei a pensar que talvez eu merecesse tudo aquilo.

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Cartas para ninguém ↝jikook←
Fanfiction[CONCLUÍDA] Jeon Jungkook sempre foi viciado em histórias de outras pessoas. Ele amava ler e frequentava a biblioteca quase abandonada de sua cidade. Era amigo do bibliotecário, Jung Hoseok, então se sentia confortável para escolher ler todo tipo de...