Onze

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  Com toda certeza já não sou mais eu, mesmo que pareça, agora, há uma sombra, que se arrasta atrás de mim.
Posso sentir o antigo Vênus saindo por minhas entranhas.
Agora serei culpado por cada morte que acontecer, cada gota de sangue e cada lágrima derramada por causa desse maldito jogo.

Estou no Hall de entrada e o sol se põe aos poucos enquanto eu o observo pela janela.

Ouço um som de piano vindo do corredor onde há várias salas de aula, a maioria dos alunos estão na grama do lado de fora observando o pôr do sol.
Caminho seguindo o sol e percebo que vem da sala de música, um lugar grande com instrumentos e cadeiras, janelas altas e paredes em tom creme, as luzes estão acesas e para minha surpresa, Jonathan está no piano.
O observo e ele percebe minha presença, parando imediatamente de tocar.

— Ah! É você.— Seus olhos me encaram e logo se desviam de mim de volta para o piano.
Cruzo os braços e encaro a parede a minha frente.

— Isso me lembra do meu pai.— Digo.

— Ele tocava piano?— Jonathan pergunta e sinto seu olhar curioso e interessado sobre mim.

— Flauta.— Digo e me sento ao seu lado no banco estufado em fente ao piano.

Jonathan fica em silêncio, seus dedos parecem suaves pela primeira vez, e com um leve toque ele tecla uma nota aguda do piano, que se estende por toda a sala me deixando com a impressão de que o som nunca vai parar.

— Parte da nota ainda pode ser sentida, mesmo depois que o som se vá.—

— Eu não o sinto, nem sua coragem, nem sua força, não sinto nada.— Sem pensar, minha olhos se enchem.

— Se você libertar-se de si mesmo, poderia ver do que é capaz, e pode fazer isso hoje.—

— Vênus.— garota loira que vive grudada em Jonathan apareceu de repente chamando por mim.

— Sim.— Disse com um olhar confuso.

— Precisa se vestir, é o desafio de Clãs.— A loira disse séria, seus olhos azuis e sua roupa preta são estonteates, pela primeira vez percebo que mechas pretas brilhantes balançam eu seus cabelos dourados enquanto ela anda.

— Você e Jonathan combinam.— Puxei ussunto enquanto subíamos as escadas.— Quer dizer, você é praticamente a sombra dele.—

— Ah, não! Quer dizer, eu gosto dele e somos noivos desde a infância, mas sei que ele não sente o mesmo por mim e agora que seus pais se foram, ele está livre para decidir se quer continuar com isso ou não.— Ela disse cabisbaixa e pude sentir verdade no que dizia, a loira é mesmo apaixonada por Jonathan.— A propósito, sou Isabela, ou Isa como preferir.—
Ela sorriu de forma meiga e amigável.

— Como deve saber, sou Vênus.— Sorri.

— Ou Vêe.— Ela continuou sorrindo.

— Olha, não se preocupe com Jonathan e essa coisa de noivado, quer dizer, somos tão jovens e a vida é tão curta, acho que você deveria pensar, se é isso que VOCÊ quer.— Disse e finalmente chegamos no quarto.

— Obrigada.— Ela disse e eu sorri.

Lucas não está no quarto, a luz está acesa e a mesma roupa branca da noite de ontem está sobre a cama, limpa e passada.
A observei com nervosismo e me vesti sem muita cerimônia.
Me encarei no espelho pela última vez antes de sair daquele quarto com atmosfera incrivelmente melancólica.

— Se vestiu rápido.— Isa comenta me observando com cautela e um pequeno sorriso.

— Quanto mais cedo você tira uma bala, mais cedo a ferida cicatriza.— Talvez essa não seja a frase certa, parecia mais um tumor, que continua crescendo e apesar de tira-lo, ele sempre reaparece num lugar diferente

Os alunos que estavam na frente do internato, agora já não estão mais, uma pequena garoa respinga sobre a grama e ameaça se intensificar enquanto Isa e eu caminhamos para os prédios.

Tudo aqui é igual, a fogueira, a música, mas algo está estranho, talvez os olhares ou a música, não sei bem.

— Precisa subir, Henrique está esperando você no Clã do Fogo.— Isa diz próximo aos prédios e percebo que tenho que seguir sozinho daqui pra frente.

Lucas, Kira e Jonathan não parecem ter chegado, ou eu apenas não os vi.
Mas seus olhares fazem falta.

— Olá meu pequeno jogador.— Henrique me cumprimentou com um sorriso maligno, sentado em uma cadeira.
Está sem camisa e usa uma calça preta rasgada com botas também pretas.

Está sozinho ali.

Há na sua frente uma mesa pequena de madeira e peças de um jogo de xadrez.
Há uma câmera num tripé, numa parede atrás de si, piscando uma luz vermelha.
Henrique segura seu microfone e logo a música lá embaixo para.

Todos olham para cima e Henrique se levanta.
— Estamos aqui para o início, para a entrada esperada de um sangue jogador, sangue de Vênus Willians.— Gritos e aplauso vem de baixo.— Vênus!— Henrique vira-se para mim.— Sua escolha definirá seu Clã até o fim de sua vida aqui.—
Em nossa frente há 4 peças: um peão, um rei, um cavalo e a rainha. Ele quer que eu escolha uma, mas qual escolher? Se é que isso importa.

Meus olhos encararam as peças, não é uma escolha difícil, mas a escolha certa, pode significar minha sobrevivência aqui, em meio ao caos.
Os gritos e vibrações que vinham lá de baixo de uma plateia eufórica, agora cessou.
Todos observam a mim e a meus dedos que dedilham o ar sobre as peças.

O peão, sacrifício, primeira peça usada, começo.
Bispo, diagonal, poder, ao lado do rei e da rainha.
O rei, a peça mais importante do jogo.
A Rainha, a peça mais poderosa, qual escolher?

Minha voz grita em minha cabeça, e seguro firme minha peça, a peça preta brilhando com o reflexo das luzes ali, eles gritam, todos gritam, eu fiz minha escolha, estou oficialmente no jogo.

— Escolheu bem.— Henrique diz com um pequeno sorriso, talvez decepcionado, mas satisfeito por saber que já não tem mais volta pra mim, não depois disso.

Me Chame De Vênus Onde histórias criam vida. Descubra agora