Me Chame De Vênus

Vinte e sete

É noite, e como sempre, noite de jogo.
Estamos indo para a clareira, Lucas está com luzes verdes no cabelo.
Camisa branca e uma jaqueta de couro sintético verde escuro, calça jeans preta e all star da cor da jaqueta.
Parece animado e nervoso.

Me olho pela última vez no espelho, blusa vermelha de mangas cumprida com uma jaqueta jeans branca por cima, calça preta e all star vermelho.
Kira surtaria se me visse agora.

- Vamos?- Jona abre a porta. Está usando uma camisa preta lisa, calça jeans também preta com uma correntinha presa na mesma e coturnos pretos opacos.

- Sim.- Lucas responde e saímos.

Atravessamos os corredores e vemos Isa na porta da escola, ao lado de Mio que usa uma roupa branca como a que usei na minha vez, ele está visivelmente animado.

Lucas e Jonathan os cumprimentam.

- Oi Isa.- digo apenas para ela, lançando um sorriso que ela devolve.

- O que estão fazendo aqui na porta?- Lucas pergunta.

- Milena pediu para que eu a esperasse.- Isa responde.

- Mio não pode se atrasar.- Jonathan fala e uma pontada de irritação me corrói. Ele não se importaria se soubesse oque ele fez.

- Já estamos indo.- Isa diz pensativa.- Quer ir com eles Mio? Acho que vai ser melhor.-

- Sim.- Mio responde eu reviro os olhos sem disfarçar e saio caminhando na frente.

Lucas vem atrás de mim andando rápido.

- Qual o problema? Pareciam ter se dado bem.- Lucas diz com uma das mãos pousadas sobre meu umbro enquanto caminhamos pela estrada de terra.

Gotas de chuva começam a cair, mas ninguém parece se importar.

- Só não fui com a cara dele.- digo por fim.

Como em todas as noites, há música e bebida á vontade, a maioria de nós parece usar a bebida para afogar toda a vontade que temos de sair daqui da forma fácil.

Estamos sentados, apenas Jonathan e Lucas estão em pé com os braços cruzados.
Mio teve a brilhante idéia de se sentar do meu lado, ele parece fazer de propósito, ele sabe que eu não vou contar, não sem antes ter uma prova concreta, mas temo que seja tarde de mais quando eu decidir abrir a boca.

- Por que você não gosta de mim?- Mio diz sínico e propositalmente alto, fingido ter dito alto por causa da música, mas eu sei que ele está fazendo drama para Lucas e Jonathan.

- Quem falou isso?- respondi forçando simpatia.

- Da pra notar quando alguém não quer você por perto.- ele disse novamente alto, Jonathan estava quase abrindo a boca pra falar comigo.

- Então por que ainda está aqui?- não aguentei e as palavras que estavam apenas na minha cabeça, escorregaram por meus lábios silabando para fora.
Eu me levantei e sai dali tentando apenas me afastar, Lucas e Jonathan gritaram meu nome, mas eu apenas os ignorei encarando meus pés enquanto caminhava.

Não fui tão longe, logo a voz irritantemente animada de Henrique, meu primo, viajou pelo ar até meu ouvidos, lanchei meu olhar de deboche para sua imagem no telão mesmo sabendo que ele não poderia me ver.

Continuei onde estava apenas ouvindo todo aquele circo de sempre, estou recostado numa árvore distante enquanto Henrique diz um discurso ridículo antes de sortear os jogadores de hoje.
Antes do sorteio, o vencedor da noite anterior escolhe um jogador de hoje.
Fernanda surge no lado esquerdo de Henrique pronta para desafiar um de nós.

- Henrique Willians. - ela diz calmamente e ele sorri indiferente.

- Assim será.- ele diz.- Hoje temos um novo membro em nosso tabuleiro, sangue de uma grande amiga, irmão de Kira.- Mio surge no telão ao lado direito do ruivo que parece animado.
Ele pega as quatro peças de xadrez e sem pensar o garoto novo segura o rei.
- Clã do Fogo!- Henrique diz animado e eu reviro novamente os olhos para tudo isso.- Como é regra que todo novato jogue depois de sua iniciação e apenas um jogador de cada Clã é permitido por jogo, eu terei que ceder meu lugar para que outro jogue, assim Fernanda líder do Clã do Sangue, escolherá outro.- Henrique diz provavelmente aliviado por de livrar de sua própria armadilha.

Fernanda parece observar bem todos ali.

- Revogo meu direito de jogar representando o Clã do Sangue e desafio Vênus Willians para jogar.- ela diz por fim e todos olham confuso entre si á minha procura.

Minhas mãos soam, meu corpo automaticamente começa a caminha atravessando a multidão para chegar ao prédio do Fogo, odeio tudo isso.

- Olá primo.- Henrique me cumprimenta sorrindo assim que me vê. Ele segura novamente o microfone perto da boca.- Hoje jogaremos Verdade Ou Desafio.- lá embaixo há uma euforia com gritos e aplausos animados, Fernanda passa por mim em silêncio saindo dali.- Os escolhidos ficarão presos num quarto vazio jogando verdade ou desafio entre si, sem água, comida ou direito de necessidades básicas como: ir ao banheiro.- Henrique sorri e la embaixo algumas pessoas parecem surpresa por um tempo.

Henrique enfia uma mão num pote transparente escrito Água e retira um papel.

- Karen Lins.- uma garota de cabelos lisos e completamente azuis surge em comemoração na multidão, como se aquilo fosse a notícia de sua salvação eterna, se é que isso existe.

Logo ela está ao meu lado ali encima.

Henrique enfia agora a mão em um pote escrito Terra. Eu tremo quando o nome de Lucas soa pelas saídas de som.

Eu não me importo de ser negligenciado de tudo isso, mas duvido que Lucas aguente.

- As regras são as seguintes: a cada 1 verdade, três desafios.
É proibido desafiar alguém a desistir de jogar, consequências haverão caso algum de vocês tente bancar o esperto.- Henrique sorri maligno como sempre.

Somos encaminhados para o prédio da Terra, as luzes são brancas e as paredes verdes, tudo é organizado e bem limpo, há livros em quase todas as paredes.

Subimos escadas enquanto eu observo os olhos de câmeras sobre mim.
Minha mente estala, me lembro que as câmeras filmaram alguém no dia da morte de Kira, a imagem ruim pode ser melhorada se a pessoa souber oque está fazendo e Lucas e inteligente o bastante para isso.
Só não sei como vou convencê-lo.

Estamos em quarto, há apenas três paredes, uma da porta e mais duas, falta uma parede e é possível ver o céu estrelado e a plantação de girassóis.
Estamos apenas os quatro esperando algum comando dos dois pequenos alto falantes na parede.
Há 5 câmeras de nos filmam de todos os ângulos, sinto cheiro de cigarro, para minha surpresa, Erick entra no recinto carregando uma garrafa de cervaha vazia e tragando seu cigarro.

Ele me observa e depois a Lucas que parece com medo.

- Vou supervisionar vocês até quando isso durar, sejam rápidos.- Erick diz e se senta na única cadeira que há ali. - sentem-se em círculo e comecem o jogo.-

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