2° NEON

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O alarme do celular inútil dispara as 18H
Acordo assustada e vejo o horário

— Minha nossa falta apenas 1 hora para a reuniãozinha de boas vindas do Jason— digo levantando e arrumando minhas coisas.

Estava dormindo na biblioteca lendo um conto de 2009, 31 anos atrás, sobre vampiros, era sucesso na época, não sei como algo tão ruim virou febre, vampiros romantizados? eles destruíram meu mundo, abominação!

Vou em direção ao meu amigo Flacco que estava na biblioteca para pedir que ele cubra meu turno no hospital

—Flacco! —Digo sorrindo com uma cara de piedade

—O que você quer? — Diz ele parando de devorar um livro de ficção cientifica e olhando para mim

—Quero que me cubra no trabalho essa noite, por favor— digo passando a mão em sua cabeça

—O que vou ganhar com isso? — Diz ele fechando o livro e se levantando

—50% do meu salário dessa noite— digo revirando os olhos

—80% e negocio fechado— diz ele cruzando os braços

—Flacco! — digo boquiaberta e assustada

—Faço de graça bobinha—Diz ele sorrindo e se sentando

—Por isso que eu te amo Flaccozinho— digo sorrindo e saindo enquanto beijo sua cabeça

Caminho com pressa até meu quarto.
O bunker é enorme, basicamente uma cidade em baixo da terra, deve ter levado anos para fazer o planejamento tanto arquitetônico quanto estrutural, os Estados Unidos e o resto do mundo teria planejado tudo isso quando o vírus surgiu? creio que não.
O bunker tem de tudo, de parque aquático a uma universidade, mas, tudo é tão cinza e monótono, nada de lindo. A ala dos dormitórios é a maior ala, a 20 anos atrás cada casal, homoafetivo ou heteronormativo ficava em uma ala, era 2500 dormitórios, cerca de 5000 pessoas, atualmente existe 12 mil pessoas nesse bunker, capacidade máxima? 5000, por isso todo ano uma pessoa é sacrificada para o bem de todos, o bunker tem data de validade e tudo indica que esse dia está chegando.
Chego ao meu quarto, é um pequeno cômodo no andar mais baixo e mais quente do bunker, basicamente o dormitório dos meus pais quando eles eram vivos era algo de deuses, eles que planejaram é claro, tinha TV bem grande, geladeira duas portas e uma cama suspensa térmica, meu berço e meu enxoval era totalmente feito a mão e de melhor qualidade, quando eles morreram tiraram tudo de mim, e fui pulando de casa em casa até Greta me acolher no dormitório dela, quando Greta sumiu o que me restou foi a doce amarga casa dos Clark, e quando eu fiz 15 anos comecei a trabalhar como serviçal do bunker, limpando chão e tudo mais, as pessoas olham para mim e me encaram como se eu fosse um animal, talvez tenham pena ou talvez sabem da minha historia, a única garota órfã no bunker, consegui um cantinho com paredes rachadas e que fazia um baita calor, mas era meu e ninguém iria me tirar de lá.
Abro meu guarda-roupa e deparo com roupas masculinas, blusões e mais blusões.

— Queria ser atraente como minhas amigas— digo enquanto me encaro no espelho e giro meu corpo.

Eva sem duvidas iria com o vestido mais bonito, Aly iria com o vestido mais curto e apertado e com certeza Louise iria com um short que apertasse sua bunda e uma blusa curta que apertasse seus peitos. Não poderia ir como um rapaz, não mais.
Saio do quarto e olho o celular são 18H22 subo as escadas infernais ate o dormitório de Eva, meu "dormitório" fica no 2339 o de Eva fica no 301, seria uma malhação ate chegar lá.

— Realmente eu joguei pedra cruz— digo cansada e tremula ao chegar no dormitório de Eva enquanto bato na porta me apoio nela.
— Eva? —diz Helga em um tom surpresa saindo da porta e fechando para que eu não entre. — Algum problema— diz ela olhando para ambos lados no corredor.

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