Capítulo 3 - Adeus, Neves Olá, Irmã Angela - Perdão, Jesus!

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Antes dos sete anos já estudava em colégio de freiras, como as três irmãs. Irmã das Neves ficou para trás.

Não gostava muito do novo colégio. Achava sombrio, sério e em todos os lugares tinha um crucifixo. Não gostava de olhar para eles; tinha pavor dos pregos, da coroa de espinhos e da triste história "Dele."

Logo aprendi que sempre que me referisse a "Ele", tinha que ser com letra maiúscula, afinal, tratando-se "Dele", o pronome virava um substantivo próprio.

Até pensar "Nele" era com maiúsculas, concluí impressionada.

Para meu terror, a freira ensinou também que "Ele" era onipresente e onisciente o que, soube depois, significava que Ele estava em todos os lugares, de tudo sabia e via!

Isso não é justo, pensava sem coragem de falar alto. Afinal, "Ele" me veria cutucar o nariz, tomar banho, fazer xixi, fazer... bom, todas aquelas coisas que ninguém faz na frente dos outros.

Quando tentava falar disso com minha mãe ou irmãs, não entendia porque elas apenas riam e passavam a mão na minha cabeça.

Resolvi então recorrer ao meu pai, que sempre compreendia meus problemas.

Assim que ele chegou de viagem corri encontrá-lo como sempre fazia e, na primeira oportunidade expus meu dilema.

Meu pai, tranquilizador, logo ensinou: sempre que fosse fazer "aquelas coisas" era só pedir a "Ele" que fechasse os olhos um pouquinho, só até acabar.

Aliviada pensei que bem que as freiras podiam ter ensinado isso também. Afinal, se não admitiam tarefa incompleta não deveriam dar a "aula incompleta" também!

Bom, elas haviam ensinado também que "Ele" conhecia os pecados melhor que o seu autor, mas sempre perdoava desde que houvesse arrependimento sincero e o pecador, de joelhos, pedisse perdão.

Assim, tornou-se comum ser vista de joelhos, mãos em oração, murmurando algo muito baixinho:

- Já escovou os dentes?

- Já - ajoelhando e murmurando, "perdão, Jesus".

- Arrumou seu material?

- Sim - joelhos no chão.

- Sabe toda a matéria da prova?

- Sei - ai, meu joelho.

Crônicas de Humor ou DesesperoOnde histórias criam vida. Descubra agora