Jungkook estava em seu chuveiro, se perguntando o que tem de tão interessante no sufocante tédio da dor, o que há de tão interessante na realidade para alguém querer contar sobre sua própria vida em um livro, o que há de cativante nisso? A princípio decidiu que queria narrar apenas a dor e sua retumbante repulsa pela humanidade, após pensar mais um pouco decidiu que contaria tudo, do tédio ao clichê, convenhamos, até na vida real há um pouco de fantasia, aquela pitada cruel de romance.
O cheiro de asfalto e gasolina queimada presentes no ar durante toda a extensão do dia era salpicado em minhas narinas, vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, não era de fato um incômodo mas não era agradável. Jungkook era o tipo de pessoa que se adaptava facilmente às situações e aos ambientes, mas não significava que os adorava.
A cidade grande sempre fora um sonho, desde pequeno sonhava com carros por todos os lados, arranha-céus luxuosos projetados pelos mais ambiciosos arquitetos e engenheiros, a agitação rotineira de uma cidade grande e toda a sua acessibilidade, desde pequeno sonhava com isso, mas conseguiu neste momento perceber que não é tão bonito assim quando se vive aqui. O ar é pesado, as pessoas egoístas e totalmente mau educadas, é tudo corrido e se seu dia tem exatas vinte e quatro horas, você precisa de mais para conseguir fazer o que deve; as pessoas são assim, sempre querem mais do que precisam. Não direi que Jeon Jungkook está aborrecido ou deprimido com sua vida, estaria mentindo se o dissesse, direi que está conformado com sua atual realidade.
Os dias tem se passado de forma monótona nesse sonho que é morar na capital, acordava todos os dias sentindo o peso do ar que respirava, ia para o trabalho que tanto ama -se é que compreendem a ironia- de lá para faculdade e da faculdade para casa e tudo se repete criando assim o que os adultos conhecem como o tédio da rotina, algumas vezes, como agora, acabava se atrasando.
É típico do ser humano criar expectativas e se decepcionar com as mesmas, há tempos desejou respirar poluição e desviar de rios de pessoas apressadas, parecia ser o máximo em sua mente mas na realidade é mórbido e frustrante, de início admirava tudo e todos, era um mundo mágico e cinzento, agora, apenas cinzento.
- Buceta!- exclamou ainda tropeçando, implorando para ficar de pé
As pessoas provavelmente não se incomodavam com palavras de baixo calão, não que não as dissessem para outras pessoas o tempo todo, mas não iriam parar seja lá o que estavam fazendo apenas para dizer o quanto reprovam aquela atitude, principalmente vinda de alguém tão jovem, não escondiam a expressão de desgosto quanto ao linguajar do rapaz, mas não se esforçariam para corrigi-lo.
O trabalho era simples, apenas se sentava atrás de um balcão e esperava as pessoas fazerem seus pedidos e o pagamento, ultimamente andava entediado pela falta de movimento no estabelecimento em que trabalha, contava os canudos duas ou três vezes ao dia, celulares não eram permitidos durante o expediente, logo, contar canudos era a única coisa a ser feita.
Cinquenta e sete canudos, estava impressionado, definitivamente impressionado, normalmente apenas quarenta canudos, no máximo quarenta e três eram colocados nos suportes, quando sentiu movimentação pode perceber um homem o olhando com um sorriso no rosto, segurando-se para não rir eu diria.
- Bom dia, o que vai querer hoje senhor- Jungkook dizia tudo da mesma forma monótona, sem entusiasmo, dessa vez tinha um tom de vergonha na sua voz, não muito explícito, porém existente
- Um capuccino grande e dois bolinhos com chocolate, para a viagem.
Preparou o capuccino apenas para não ter que ficar parado olhando para o garoto que permanecia sorridente do outro lado do balcão, Jungkook definitivamente o achou estranho
[...]
o dia seguiu monótono, como sempre, as mesmas coisas e quase as mesmas pessoas, as pessoas não olham umas para as outras, se mantendo no papel de protagonistas de suas próprias vidas e Jungkook não as julgava por isso, se mantinha também como seu próprio protagonista.
Dois horários a menos do que o de costume por falta dos professores da universidade e Jeon já sabia o que faria com o tempo livre, na sala de equipamentos eles alugam telescópios astronômicos para os alunos do curso, como uma biblioteca/ laboratório astronômico.
- Olá Margareth, estás esbelta como uma flor que acaba de desabrochar- disse erguendo uma sobrancelha em uma tentativa sugestiva de sensualidade
- Sai andando pirralho
Margareth e Jungkook tinham essa boa relação desde que o segundo citado descobriu que alugavam telescópios, margareth não tinha esse tratamento em especial com o Jeon, ele tentara construir uma amizade meses atrás mas a senhora ocidental, enrugada de cabelos grisalhos e olhos azuis sempre o repeliu, assim como todos os outros alunos. Na visão de Jungkook uma senhora de sessenta e cinco anos deveria estar fazendo crochê ou tomando chá da tarde com os netos a essas horas, mas Margareth não era uma senhora e sim uma velha comedora criancinhas, por isso estava por ali, odiando a todos que respiravam perto de si. Sem mais delongas subiu os quinze degraus de escada que levavam até o telescópio que tinha não apenas costume de usar mas apego emocional, e sim Jungkook sabia quantos degraus tem a escada, não era louco, apenas entediado.
Os telescópios não trocavam as lentes então por isso Jungkook sempre pegava um com uma lente ocular de 60mm. Haviam três desses na faculdade e ninguém nunca os alugava. já estava no armário de número treze, onde o telescópio que havia apelidado carinhosamente de Marte ficava. As mãos já estavam se estendendo quando um garoto pouco mais baixo entrou em sua frente também estendendo as mãos e agarrando justamente o telescópio que geralmente usava, achava que Marte e ele tinham um relacionamento monogâmico mas aparentemente marte se aluga para o primeiro que o pega.
- Ahm... Licença? Garoto?- Jungkook disse tentando chamar sua atenção
- Pois não?- era o garoto do capuccino grande
- Bom, eu normalmente, uma vez por semana, uso esse telescópio que você pegou, é meio que um lance nosso, sabe?
- Lance? com o telescópio? - o garoto estava com o rosto totalmente torto, confuso eu diria- Você é doido?
- Não???- respondeu jungkook mais como uma pergunta do que como afirmação- Olha tem outros dois telescópios idênticos ali, mas é que eu gosto do Marte
- Ta... Marte é o telescópio?
- Sim, oras, quem mais seria?
"pff óbvio que Marte era o telescópio" pensou ridicularizando o garoto a sua frente
- Ok- o garoto disse entregando o Marte ainda exitante por estar perto do garoto jeon
- Muito obrigado...?
- Jimin, Park Jimin- ele estendeu a mão e Jeon, de acordo com o livro de etiquetas, deveria fazer o mesmo mas Marte estava como um recém nascido em seu colo, o garoto recolheu a mão ao perceber que as do mais alto estavam ocupadas- e você é...?
- Jungkook, Jeon
- Nos vemos por aí então, Jungkook- o garoto disse assim que recolheu outro telescópio da prateleira treze
acenou com a cabeça e seguiu de volta pelas curtas escadas até Margareth, não tivera tanta dificuldade como das primeiras vezes, pegava marte desde o início do ano, quase todos os finais de semana e feriados.[...]
nos dias difíceis Jeon gostava de se distrair, não era fumante mas raramente ascendia um cigarro, gostava de sua própria presença e apreciava o som da solidão, mas em alguns dias era doloroso, alguns dias desejava se tornar um planeta inteiro e não ser apenas restos de colisões entre asteróides, flutuando pelo vazio de seus próprios pensamentos.
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Como Sua Vida Seria Melhor Em Marte| jjk + pjm
FanfictionJeon Jungkook é um amante do agonizante tédio da dor, sarcástico e irônico narra seu próprio romance gay, sem frescuras e flores jungkook conta sua própria realidade nua e crua jikook| +18| r&n