Como Sua Vida Seria Melhor Em Marte| jjk + pjm

3

- Não pai, ainda não desisti do meu curso, porque o senhor implica tanto com o que gosto?- não era a primeira vez que tínhamos aquela conversa e sei que também não seria a última

- Você está louco, está se tornando um rebelde, Jeon. Só falta começar a usar drogas

- Vou colocar um piercing na sobrancelha e tatuar "vadia" na bunda, pode deixar- disse desligando o telefone e encerrando a conversa

É cansativo se justificar mesmo quando paga suas próprias contas, ter que explicar a todo tempo o que você gosta e tentar provar que aquilo te faz bem é exaustivo. Tudo que a mente moderna não consegue definir, ela considera como demência.

Minha família costumava me apoiar quando mais novo.

Eu queria ser um médico aos doze, aos quinze queria ser um engenheiro e aos dezoito me apaixonei pela astronomia, desde então eu sou um rebelde, para todos eles.

Eu costumava tomar café da manhã antes, mas quem tem tempo para tomar café da manhã hoje em dia? Todos estamos sempre com pressa, sempre atrasados, sempre precisando de mais tempo, acabamos não desfrutando de coisas simples como uma refeição descente, sentado a mesa de sua própria casa durante a manhã.

As folhas não se acumulam mais por onde caem. No outono os dias frios costumam se basear em ventos gélidos e fortes que levam as folhas para longe e exibem nuvens escuras e carregadas no céu.

Alguns dias tem sol, mas a maior parte deles é só cinza.

Meus dias preferidos são os frios e chuvosos no outono. Na chuva tudo é mais real, eu gosto das cores da primavera e dos sorrisos distribuídos nessa época fresca do ano, mas não me parece sincero, o frio e a chuva me parecem sinceros o suficiente para me fazer aprecia-los.

Hoje não é um dia chuvoso, mas é frio.

O dia é entediantemente monótono como todos os outros, as quartas eram tão entediantes quanto todo o resto dos outros dias da semana, e creio eu, que não sou o único por aqui com esse pensamento.

Quarenta e sete canudos e mais uma vez quando volto ao mundo, logo a minha frente o garoto Park, que quebrou meus ovos, está sorrindo, não diria que ele está me olhando pois seus olhos estão quase totalmente fechados até ele suavizar o sorriso. Nós conversamos pelo twitter desde o incidente na volta do supermercado mas não nos encontramos mais desde então.

-Bom dia mrs. Jeon o que estás a fazer nesta bela manhã?

- Mrs. Park terei que acusar, o senhor está sendo deveras sarcástico esta manhã, já que o senhor pôde ver que eu estava demasiadamente concentrado contando estes nobres canudos coloridos

Ele sorri.

- Quando acaba seu turno?

- Daqui a exatos... - fiz uma pausa para olhar em meu relógio- Quinze minutos, mas daqui a exatos vinte e três minutos eu tenho aula

- Podemos ir juntos, eu te espero

Alguns dias atrás, não me imaginava caminhando com outra pessoa, muito menos alguém que eu pudesse pelo menos chamar de colega, tenho amigos, claro, mas não são muitos. Hoseok é um estudante de dança, muito talentoso por sinal, e também um hyung muito atencioso, mas não temos nos falado muito desde que me mudei para Seoul.

É engraçado como não podemos nem escolher em quem confiaremos ou quem estaremos chamando de amigo, é algo natural, quase orgânico.

Só existe uma primeira vez para tudo, uma primeira caminhada com um potêncial amigo, um primeiro beijo, o primeiro cigarro, o primeiro amor e infinitas outras primeiras vezes, mas existem inúmeras últimas vezes e nunca sabemos quando será a nossa última vez número um em algo, por isso os loucos vivem intensamente, os desprovidos de inseguranças vivem o aqui e o agora como se fosse a última vez, os invejo por não conseguir fazê-lo.

É a terceira vez que converso com o Park pessoalmente, consideremos como a segunda já que na primeira só estava tentando salvar meu depravado telescópio que se aluga para qualquer um, mas é como se nos conhecêssemos a anos, o assunto era confortável, não era alguém anti-social mas não buscava companhia, sempre estive rodeado de pessoas vazias, logo, não me importava em estar sozinho.

- O que está cursando na Yonsei?- já havia visto o loiro no meu prédio mas nunca em uma das aulas

- Segundo período de cinema, e você?

- Segundo período de astronomia, você alugou um telescópio mas não faz astronomia...como conseguiu esse privilégio?

- Margareth e eu somos amigos- ele disse de forma simplista

- Margareth? Ela come criancinhas como é possível você estar vivo?

Park tinha o riso contagiante, se alguns dias atrás eu o ouvisse sem conhecê-lo acharia irritante, mas ao ver sua expressão, seus olhos comprimidos em finas linhas, algumas figurinhas que se formavam em seu rosto e seu dente levemente torto eu consigo o achar somente adorável.

Já havíamos chegado ao meu andar, nos despedimos brevemente por conta do curto mas significativo atraso e então seguimos por caminhos diferentes, eu segui pela direita e ele pela esquerda, cada um para suas respectivas salas.

Eu não sou o tipo de cara que não conversa com ninguém, eu só sou o tipo de cara que espera as pessoas virem falar comigo mas acho que pela minha expressão as pessoas pensam que não gosto delas, e estão certas; em parte.

Sou observador não um tagarela, então costumo observar o território para tentar me adaptar, mesmo que seja um processo lento. Sei as manias de algumas pessoas, sei algumas partes irrelevantes de suas vidas pelo que observo, e acredito que, seja melhor continuar só observando eu não me daria bem com a maior parte dessas pessoas.

Um cara da minha turma, Min Yoongi, me evita a todo custo depois de parar a minha frente, tentar dizer algo e sair correndo. Fiquei confuso mas o acho fofo, ele também é do departamento de música e tem minha admiração por isso, dois cursos de uma só vez não é pra qualquer um, definitivamente não.