Sussurro

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Quando diz que sou só eu, minhas pernas fraquejam, e quando me toca, sei que vou cair se não me sustenta.

                                🌊

Deito na cama, cubro-me com o trapo velho e me encolho, tentando não pensar em nada, mas quanto mais tento, pior fica. Certos pensamentos queria poder descartar, joga-los fora e nunca mais ter contato com eles, contudo, são sempre esses que mais aparecem.

– Podemos dividir a cama? Está muito frio – Pergunta Cally, e Zora está ao seu lado.

Assinto, e as duas colocam-se ao meu lado, jogando por cima de nós seus cobertores, assim nos deixando mais aquecidas. Não consigo dormir, não consigo não pensar. Não sinto sono, e muito menos sossego. Minhas meninas já dormem, aquecidas e aconchegadas, parecem duas crianças. Me levanto, meus pés tocam o chão gelado e o vento adentra pela janela, rápido, pego meu casaco e o visto, além de pegar meias quentes e as colocar nos pés. Vou até a janela e observo a madrugada. O céu estava brilhoso, lembrava-me os astros de um par de olhos que já observei algumas vezes. Olho para baixo, encontrando alguém, que jurei ser algum monitor, mas era ele. O garoto de astros, o garoto de todas e, ao mesmo tempo, de nenhuma. Pergunto-me de onde tirou o cigarro que fuma, mas vejo o quão belo fica banhado nessa paisagem de estrelas. Ele me vê, fita-me por longo tempo, sorri em convite. Sei que me chama. Sei que me quer lá embaixo, com ele.

Balanço a cabeça. Não aceito, e ele ri. Diretamente para mim, ele olha e faz gestos, pedindo mais uma vez, vem até aqui, e se houver mais um pedido, não saberei negar. Suspiro, sabendo que de qualquer forma eu iria aceitar. Ele sorri quando saio da janela, e sorrio também quando ele já não pode me ver. Visto chinelos e tento não acordar minhas meninas, colegas de quarto. Os corredores nunca foram tão silenciosos quanto agora, e qualquer som me afunda num lugar como esse. Passo em frente a sala do doutor, lembro do que escutei hoje, e aqui, escuto mais. Escuto vozes, e sei que alguém o faz companhia. Não porque não quer, mas porquê gosta. Tenho medo de saber quem.

Deixo o prédio, o vento forte faz meu cabelo voar e minha pele arrepiar. E ao longe, vejo ele. Sorri quando me vê, dá um trago em seu cigarro e joga no chão, vindo até mim. Ele vestia-se de preto, dos pés a cabeça, sua boca vermelha em contraste com sua pele clara, e sua pele contraste com sua roupa. Encolho meu corpo na blusa, pois está muito frio.

– Vai me pedir pra sair, de novo? – Ele pergunta, chegando mais perto.

–  Se precisar – Eu recuo sua aproximação  e ele apenas ri.

Não recuar significa que não temo seu toque, e não quero que ele pense isso. Não quero que me toque, achando que o quero. Mesmo sendo atraída, me arrependerei se algo acontecer entre mim, e os seus astros perfeitos.

– Vem.

Ele diz, dando-me as costas. Sigo seus passos, mantendo distância segura. Não sei quanto tempo ele anda e o acompanho, pois me perco em como seu passo e tranquilo. Como seu cabelo voa junto com seu andar, como suas coxas ficam perfeitas em sua calça escuras e em como suas tatuagens fazem com que ele pareça bem o que é, um libertino, uma perdição. Quando para, estamos em frente a grade que fecha o internato. Era longe de qualquer um dos prédios, e era suficiente para que ninguém nos interrompe-se. Também era onde eu me deleitava todas as noites que o sono não vinha. Era onde a vista era perfeita. Ele olha para mim, e sorri.

– Você vem aqui quando não tem sono, não é? – ele pergunta, mas não respondo – Já vi você aqui antes.

Olho para ele, com as mãos nos bolsos, o cabelo caído e charmoso, seus olhos, sua boca. Cada pedaço do seu corpo é medido pelos meus olhos, e desvio meu olhar para o céu, que me lembra ele, de qualquer maneira.

– Há quanto tempo me observa? – Pergunto, sentindo seu olhar em mim.

Seu corpo perto mais uma vez, e ele se aproxima mais.

– Muito tempo – Ele diz, e olho para ele.

Para seus astros, para seu rosto próximo do meu, e é onde sei que não saberei correr. Estou perdida, paralisada em seu olhar, no calor do seu corpo perto do meu, do seu hálito fresco. Dele inteiro. Abro minha boca, porque quero falar, pedir. Mas nada sai. Não tenho forças para combater a vontade que me puxa para ele, para seu corpo.

– Pede – ele sussurra, tocando meu rosto – Que seja pra eu sair. Me pede qualquer coisa.

Ele toca meus lábios com seus dedos, acaricia minha bochecha com sua destra, fita minha boca assim como faço com a sua. Não consigo falar nada, não consigo pedir, que fique ou que vá. Me perdi quando me tocou, quando sussurrou pra mim, só pra mim. Aonde só eu podia ouvir.

– Então saia – Sussurro, fechando meus olhos.

Seu corpo pende para trás, quando vejo, ele não me toca mais, e nem está perto do meu corpo novamente. Somos apenas nós dois, distantes mais uma vez. Como deve ser. Suspiro, prendo-me no lugar, não consigo sair. Revivo por muito tempo a sensação do seu toque. Da sua pele tocando a minha.

– Eu te toco outra vez. Até que me queira – Ele diz, sentando-se no gramado.

É quando percebo que não, não vai acabar cedo. Abaixo-me do seu lado, buscando o seu calor de novo, por menor que ele seja. Sinto seu olhar em mim, cada canto do meu rosto é observado.

– Você é linda – Ele murmura, voltando a olhar para frente.

Abaixo a cabeça, deparando-me com meus próprios dedos, brandos e gelados. Não sei responder, não escuto elogios. Nada que eu tenha ouvido do doutor durante todos esses anos era elogio, era nojento. Agora, recebendo mesmo um elogio, perco-me no que quer que seja. Minha cabeça tenta compreender, onde foi que ele olhou, para atrair-se por mim. Ele é de todas, pode ter qualquer uma.

– Quer voltar? – Ele pergunta, é quando volto para mim mesma.

Olho para ele, tentando descobrir qual dos seus detalhes é o mais bonito. A pinta embaixo da boca, a cicatriz na bochecha, os brincos balançando. Cada detalhe o fazia ser o que era. O perfeito para todas.

– Gosto quando sussurra pra mim – Respondo, voltando a olhar para meus dedos.

Tenho vergonha demais para poder olha-lo, poder dizer essas coisas me deixa perdida.

– Diz de novo – Ele pede, sinto seu olhar sob minha pele. Eu balanço a cabeça, e sei que ele ri –Você vai ser a única a ouvir meus sussurros.

Ele diz, tão baixo, que quero chegar mais perto. Sei que é mentira, aonde ele, Jeongguk, sussurria em minha direção? Suspiro quando o olho, vejo-o medindo meu rosto.

– Mentiroso – ao ser acusado, e ele não parece achar divertido.

Sua mão tatuada toca a minha, e ambas geladas fazem calor juntas. Olha para mim, só pra mim, e se aproxima do meu ouvido. Sinto sua respiração bater contra meu pescoço, sua boca semiaberta, quero mais. Quero ele por inteiro.

– Só pra você – Ele sussurra.

Perco-me novamente, cada toque, menor seja ele, deixa meu corpo inerte em si. Ele se afasta, olha em meus olhos, mas não quero esse olhar, quero ele. Sua mão no meu corpo, sua boca em minha pele. Quero ele comigo. Deito minha cabeça em seu ombro, permito a mim mesma recair, ficar consigo até o sono vir, e no dia seguinte aceitar o destino. Sua destra toma meus cabelos, acariciam-no, me deixam sonolenta.

Sonho com astros.

ᴇᴍ ᴏᴜᴛʀᴏs ʟᴜɢᴀʀᴇs ɴᴀ ᴍɪɴʜᴀ ᴄᴀʙᴇçᴀ • ᴊᴊᴋ  ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora