Capítulo 19 - Não saia daí

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Orange; Audi preto; segunda-feira; 5:40 da tarde;

Any teria ficado surpresa ao ver Noah entrar na rua errada, a caminho de sua casa. Teria ficado surpresa ao saber que fora de propósito, mas não ficou. Não ficou porque no fundo sabia o que ele pretendia fazer.
Ou não.

Claro que não.

Porque ficou extremamente surpresa ao olhar pro lado, assim que ele estacionou, e ver uma mansão abandonada. 

Um cara normal a teria levado ao cinema. Um cara normal a teria levado ao parque de diversões. Um cara normal - um geek talvez, mas não um cara normal - a teria levado para uma feira de quadrinhos. Mas com certeza, um cara normal nunca a teria levado a uma mansão abandonada. Sério. Qual era a dele?

- Ahn... Eu perdi alguma coisa? – perguntou inocentemente. 

Noah apenas riu, o que a fez levantar uma das sobrancelhas.

- Sério, Urrea. Tudo bem você desviar do caminho da minha casa pra me levar... Sei lá, pra jantar, mas me trazer para frente do portão de uma mansão abandonada? É muito estranho... Até mesmo pra você.

- Desculpe. – ele disse, embora ainda sorrindo. – Eu queria te mostrar esse lugar. – o sorriso desapareceu subitamente e seu olhar ficou vago. – Não sei por quê. Só quis.

- E esse lugar é o que, exatamente? – Any voltou seus olhos para a construção.

O portão de finas lanças negras guardava uma enorme casa de três andares, ao fundo. A mansão tinha as janelas escuras e as paredes num tom já gasto de salmão. Alguma gosma verde escorria do telhado, indicando a falta de limpeza do local. 
Além do abandono, a residência tinha um vento mais fresco, mais sombrio. Algo naquela atmosfera era capaz de arrepiar Any até o último cabelo. Aquela casa parecia não apenas solitária... Mas morta.

O céu concentradamente mais cinzento por trás dos salgueiros do jardim apenas reforçava aquela sensação.

Por que Noah a havia levado ali, afinal? Quero dizer, que tipo de pessoa tinha fantasias com aquele lugar?

- Eu morava aqui. – ele disse. - Até ano passado.

‘Cruzes’ Any pensou, mas recompôs sua feição séria rapidamente.

- Hm. O que aconteceu aqui pra você se mudar? – olhou-o curiosa.

Noah fez alguns segundos de suspense, devorando-a com o olhar como se não quisesse perder nenhum detalhe de sua reação.

- Um assassinato. – ele deu de ombros.

Depois abriu a porta do carro e o contornou com a mesma tranquilidade que teria se tivesse dito: “Você viu o jornal essa manhã?”
Mas isso não assustou Any. Assustou, aliás. Mas não o fato de ele ter dito as palavras daquele modo. A garota sabia muito bem que, quando as pessoas se importam demais com algo, gostam de demonstrar que não ligam, como uma defesa natural. 

Assim como Noah fez naquele momento.
Isso não a assustou. O que realmente era apavorante era o fato de ele tê-la levado pra lá. 

Assim que o menino abriu a porta, ela o olhou com uma cara que o mesmo julgou estranha, fazendo-o gargalhar.

- Sério, por que me trouxe aqui?

Noah parou de rir se sentindo um completo idiota. Os impulsos de suas vontades o haviam levado a dirigir até aquele lugar. Era seu desejo levá-la à mansão... Mas estava nervoso... E ria. Ria porque achava graça nas caretas da garota e ria porque estava inteiramente ansioso.

- Por que me trouxe aqui, Noah? – Any voltou a perguntar.

O rapaz ficou um tempo em silêncio, depois respondeu, com uma solenidade fria na voz.

Ópera [✓] | adaptação noany Onde histórias criam vida. Descubra agora