Capitulo Único

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― Você estragou tudo?

Andrew não precisa se virar. Ele sabe quem é ― é impossível não saber quem é. Eles têm a mesma voz. O que era surpreendente era que seu irmão se juntasse a ele no telhado naquele momento. De todos os momentos. Andrew bufou e encolheu os ombros enquanto se recostou mais na parede.

― Aparentemente.

Aaron suspirou e fechou a porta atrás dele, logo indo se juntar a Andrew.

― Engraçado, Josten disse a mesma coisa. ― Andrew reprimiu o desejo de se virar e o encarar. Reprimiu o desejo de estremecer com a menção do nome de Neil. ― E então? Quem fodeu isso?

"Não existe isso, Neil"

Andrew não disse nada. Ele pegou um dos cigarros que não se lembrava de ter ido comprar, a mesma marca ridiculamente difícil de se encontrar, mas que ele gostava. E Neil sabia que ele gostava, então encontrá-los não era um problema para ele.

"Eu disse que iria me cansar de você. Estamos melhor sem essa coisa"

― Eu disse que me cansei dele. ― Falou enquanto tragava a fumaça para seus pulmões. ― Então disse para ele ir embora.

― Por quê?

Mas esse era o problema, não era? Por quê? Por que ele diria algo assim a Neil? O que havia desencadeado? Algo que Neil fez ou disse?

Andrew quase riu do pensamento.

Não, não era culpa de Neil.

Foi Andrew quem fodeu tudo.

― O que ele disse? ― Foi a única pergunta que ele pôde pensar. Era a única coisa que estava em sua mente, ele queria avaliar o estrago que causou.

― Que empurrou você. Que devia ter ficado de boca fechada. Foi... estranho. ― Andrew se virou para encará-lo. Aaron deu de ombros. ― Nicky teve que ficar com ele. Se você perguntasse para qualquer um, ninguém imaginaria que ele estava mal ou qualquer coisa do tipo. Mas ― Acrescentou. ― ele estava quase dissociativo. Não o vimos assim nem mesmo depois de Baltimore, inferno ele não estava assim nem mesmo depois de voltar de Evermore e passar duas semanas no ninho. Kevin achava que ele voltaria quebrado e ainda assim, lá estava o idiota. ― Aaron passou a mão pelos cabelos. O corte era diferente do de Andrew, era mais curto e menos bagunçado. ― Por isso eu acho que foi você quem fodeu. Josten é um pé na bunda para todos, mas não para você.

― Você está certo. Fui eu.

― Bom, o que você vai fazer?

Um desejo seco de rir coçou na garganta de Andrew. Aaron e Neil eram parecidos, mais do que eles imaginavam e era por isso que eles se odiavam tanto. Os dois tinham a incapacidade de se manter longe dos negócios de outras pessoas, aparentemente.

Andrew odiava os dois.

Exceto que não.

E ele tinha perdido os dois.

Mas Aaron ainda estava ali.

― Eu quase enfiei uma faca no pescoço dele noite passada. ― Sua garganta estava seca. Doía. ― Eu estava dormindo, tive um pesadelo. Senti que tinha alguém na cama comigo, mas eu não o vi. ― Ele se lembrava da sensação do pânico, do amargo da bile subindo à garganta. O desejo de fugir, de se afastar antes que alguém o machucasse novamente. ― Eu não o vi lá. Era outra pessoa, um misto de rostos. Eu coloquei uma faca no pescoço dele, merda. Eu tirei sangue dele, Aaron.

O que garantiria que ele não cortasse a garganta de Neil algum dia? Andrew sentiu a raiva o engolindo como um banho de água gelada. Neil estava sangrando e olhava para ele como se a dor não estivesse lá. Ele olhava para Andrew, a pessoa que quase rasgou sua carótida com tanta preocupação que Andrew quis voltar a faca para si mesmo.

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