❀ Capítulo 6 | O Som do Silêncio ❀
Eram oito da manhã quando Lana chegou com um pacote de pão fresco e um cachorro.
Ou melhor: um cachorro cor de caramelo suja e fedida. Seus olhos esbugalhados e as costelas visíveis denunciavam seu estado deplorável de terror e fome. Deveria ter mais ou menos cinco meses.
- Lana! - Marcela deu um salto do sofá da sala. - O que é isso?
- Uma cadela, meu amor - Lana disse com uma expressão debochada. - Estava encolhida e perdida na estrada. Não duraria muito.
- Que fofa... - Liam se aproximou, sorrindo para a cadelinha assustada. Ela abanou o rabo levemente para ele. - Ela precisa de um banho.
- Boa ideia, Liam. Você poderia fazer esse favor para mim? - perguntou Lana, deixando-a no chão enquanto tirava a jaqueta. - Mais tarde a levarei ao veterinário. Ah, e o nome dela é Laila.
- Laila?! - Marcela ainda olhava para o cachorro no meio da sala. - Esse nome não significa... escura como a noite? Ela é castanha.
- Seu nome não significa marciana, alguma coisa do tipo?
Marcela franziu o nariz em uma careta.
- Significa jovem guerreira - Marcela replicou. - ''Dedicada ao deus Marte''
- Muito inconveniente - Lana puxou-a pela cintura, abraçando-a. - Deveria ser dedicada a Vênus, a deusa da beleza.
Liam fez um som de vômito, pegando a cadela no colo delicadamente.
- Eu vou subir antes que eu vomite todo o café da manhã - ele murmurou, deixando-as sozinha no momento-brega-de-todo-casal.
Quando Laila já estava de banho tomado e em sua nova cama - Liam havia pegado um velho edredom, colocando-o em uma caixa vazia - ele se jogou na cama e abraçou o travesseiro. Zeus estava deitado sobre sua estante, observando a nova criatura da casa. Só era possível ouvir o som da chuva de verão caindo do lado de fora, deixando-o um tanto sonolento. Mas sabia que não iria conseguir dormir; mal tomara café da manhã. Liam às vezes odiava ser ansioso demais para tudo. À tarde, ele iria com Marcela fazer a matrícula na nova escola. Apesar de não ser um evento grandioso, ele se sentiu ansioso. Não sabia se, naquele caso, era um sentimento bom ou ruim - mas só a ideia de ter que voltar à escola, mesmo que fosse uma nova, deixava-o desanimado. Ao mesmo tempo, ele queria ter a oportunidade de conhecer novas pessoas - quem sabe fazer amigos. Afinal, era o ensino médio.
Tentando se esquecer daquilo, Liam pegou seu celular e abriu o Google. Lembrou-se de Lana e Marcela discutindo sobre nomes e teve uma súbita vontade de pesquisar sobre o seu. William. Ele não sabia o que significava exatamente.
Após clicar em pesquisar, uma foto de William Shakespeare apareceu. Ao lado, o significado do nome William: o que deseja proteger. O garoto teve vontade de rir. Ele mal conseguia se proteger a si mesmo. Tirando o fato de que tinha batido em seu colega após se irritar e ouvi-lo ofender Raul; aquilo fora mais por um impulso irritadiço que para proteger alguém de fato. Mas, pensando por outro lado... Liam faria de tudo para proteger sua irmã. Faria de tudo para proteger sua mãe e todos que ele amava, mesmo que aquilo significava machucar a si mesmo. Não era por isso que havia escondido as cicatrizes e suas lágrimas por tanto tempo?
Talvez ele fosse realmente protetor. Ou talvez fosse apenas um idiota.
Liam acabou adormecendo após o último round interior. Acordou bem na hora do almoço, lembrando-se de imediato da maldita matrícula que fariam após a refeição. O garoto bufou e saltou da cama, ainda sentindo-se exausto.
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O Som do Silêncio
Teen Fiction2 | Em meio a abruptas mudanças de vida e novos sentimentos, William se vê diante a uma luta incansável contra a depressão e a ansiedade. Apesar disso, Liam sempre tentava mostrar-se forte o suficiente para ocultar suas dores. Mas algo - mais especi...