PRÓLOGO

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Kleber estava na sala de reuniões da sua empresa, com os olhos fixos no telão que projetava um comercial elaborado pelo time de projetos. Eram imagens que seriam exibidas em todos os canais televisivos para divulgar e apresentar as qualidades do melhor metal do mercado alemão.

A propaganda mostrava uma família feliz ao entrar no elevador, demonstrando o quanto estavam seguros por adentrarem no ascensor feito com os metais da Metallurgic. O comercial também exibia vários momentos em família, onde eles expunham os diversos objetos feitos com o metal diferenciado da melhor qualidade.

— Sr. Kleber? — A secretária percebendo que o patrão estava com os olhos vidrados no telão, onde já havia finalizado a propaganda, chamou cautelosa dando duas batidinhas na mão do loiro que estava na grande mesa de tampo de vidro.

Bloch encarou Verena com os olhos gelados, e puxou o braço com brusquidão.

— Ficou tudo um lixo, bando de idiotas incompetentes — Kleber proferiu com frieza fazendo os funcionários arregalarem os olhos assustados. Todos tinham conhecimento de como o loiro era um homem grosseiro, cruel e insensível, completamente indiferente à dor alheia. — Quero outro projeto na minha mesa até o fim da tarde de hoje... Sem essas ceninhas falsas e hipócritas de família unida e feliz. — levantou da cadeira fechando os botões do terno com elegância. — Ou todos estarão demitidos — se virou encarando sua secretária seriamente. — A começar por você... — deu as ordens e saiu a passos largos de dentro da sala de reuniões.

Os funcionários ficaram indignados com a reação do patrão, estavam todos acostumados com o jeito intransigente dele, mas não imaginavam que um trabalho de semanas feito com tanto cuidado e dedicação seria classificado como lixo.

— Eu não aguento mais... Me sinto doente desde o dia que comecei a trabalhar nessa maldita empresa com esse homem louco. — a estagiária do setor de projetos desabafou com lágrimas nos olhos e saiu correndo já saturada de tanta pressão e grosseria.

— Ele está cada dia pior — Verena comentou já cansada.

Era uma funcionária muito competente e trabalhava como secretária de Kleber a mais de seis anos.

Todos os outros funcionários concordaram completamente perdidos, sem saber o que fazer para entregar uma propaganda completa para o chefe até o final daquele dia.

******

Kleber entrou na sua sala batendo a porta com toda força. Estava sendo atormentado por lembranças dolorosas de um passado que queria apagar da sua vida com todas as forças, mas que parecia perturbá-lo cada dia mais.

— Olha papai, fiz para o senhor — assim que ouviu o carro do pai chegar, o pequeno Kleber foi correndo para a sala todo feliz entregando o desenho que havia feito para ele de presente. — Esse é o senhor, a mamãe e eu. — indicou com o dedinho, todo sorridente.

— Mas que porcaria é essa?! — Joseph gritou com o filho fazendo-o arregalar os olhos assustado. — Enquanto você fica fazendo esse monte de rabiscos horríveis, Otávio está ganhando prêmios por ser o melhor aluno da escola. — falou nervoso amassando o papel e jogando longe com raiva, fazendo Kleber encher os olhinhos de lágrimas. — Maldito seja o dia que me envolvi com a vagabunda da sua mãe para ter um filho homem. Se eu soubesse que sairia assim, esse estorvo imprestável... teria tomado as devidas providências.

— Papai, a professora disse que eu sou um menino muito inteligente, e que aprendo rápido também. — contou ansioso tentando fazer o pai ficar mais calmo.

Ficava sempre triste com o jeito que Joseph o tratava, sempre com rispidez e grosseria. Nunca recebeu amor, carinho, atenção... Era sempre ignorado, maltratado e humilhado pelas duas pessoas que deveriam amá-lo de todo coração.

Achava que toda a falta de amor dos pais era por ele ser um menino agitado e gostar muito de brincar, por isso tinha resolvido mudar, não brincava mais e ficava a maior parte do tempo lendo e estudando para ser muito inteligente, mais do que Otávio, que era o coleguinha da escola que o pai mais gostava e admirava.

— Você não presta pra nada! Vai logo se arrumar que hoje vou te levar para a escola... E você vai ficar lá o dia inteiro até conseguir aprender alguma coisa que preste, e não esse monte de rabiscos horrorosos. — empurrou o filho com toda força em direção as escadas, fazendo Kleber cair torcendo o bracinho e gritar de dor.

O pequeno de apenas sete aninhos olhou para a mãe chorando com o rosto todo vermelho, e a viu passar direto com a bolsa pendurada no braço.

— Estou indo ao shopping e não tenho hora para voltar. — avisou com má vontade e saiu sem olhar para trás.

— Levanta logo desse chão e para de ser frouxo. — Joseph gritou nervoso.

Kleber levantou com dificuldade, e subiu as escadas aos soluços, sem conseguir entender o motivo de os pais não amá-lo.

******

O carro de luxo estacionou na porta do melhor colégio particular de Frankfurt, Kleber estava sentado no banco de trás com o pai, segurando o bracinho que havia torcido.

Joseph se remexeu agitado e ficou maluco ao ver Akilah, que era mãe do menino que tanto admirava, e esposa do seu maior inimigo, se despedindo do filho com beijos e abraços. Era apaixonado pela negra e não conseguia entender o motivo de ela preferir George ao invés dele, sendo que havia prometido o mundo para a mulher e declarado todo o seu amor.

— Está vendo aquela mulher, filho?! — Joseph perguntou para Kleber apontando na direção de Akilah, e viu o filho balançar a cabeça em afirmação. — Ela acabou com a minha vida, por causa dela eu sou assim... sem paciência, grosseiro, não conseguindo dar amor e carinho a você e nem a sua mãe. — segurou o rosto do filho fazendo-o encará-lo. — Pessoas pretas não prestam... principalmente as mulheres que só servem para destruir a vida dos homens... Fique longe de todos eles, escute o que estou te falando. — soltou o rosto de Kleber e voltou a encarar Akilah que acenava para o filho com um sorriso lindo no rosto. — Agora saía.

Kleber sempre esperava um beijo do pai, daqueles que via constantemente alguns coleguinhas receberem, mas nunca ganhava nenhum tipo de carinho.

Desceu do carro ajeitando a mochila nas costas e foi caminhando apressado para dentro da escola, mas esbarrou em um corpo grande que o fez desequilibrar.

— Oh, meu amor... Desculpa! — viu a mulher que o pai havia falado se ajoelhar na sua frente e passar as mãos nos seus cabelos com carinho. — Você está bem? Se machucou? — a ouviu perguntar com a voz doce, mas logo se lembrou do que Joseph havia falado.

— Me solta, você é má! — gritou com o rostinho vermelho dando passos para trás. — Você magoou o meu pai e por isso ele não gosta de mim. Eu odeio você! — saiu correndo para dentro da escola, deixando a mãe do coleguinha estática sem entender nada do que tinha acontecido.

Balançou a cabeça tentando afastar as lembranças dolorosas, e jogou o copo de vidro onde estava bebendo whisky na parede com toda força.

— Eu não aguento mais esse tormento — suplicou sofrido colocando as mãos na cabeça em sinal de desespero. Mas como em todas às vezes, não derramou uma lágrima, acreditava ter secado depois de uma infância regada a choros, medos, maus tratos e completo sofrimento.

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Eitaaaa, foi difícil escrever essas lembranças nesse prólogo, mas bastante necessárias para vocês entenderem o desenrolar da estória. 

Um beijo no coração de cada um de vocês e muuuuito obrigada por todas as felicitações e mensagens de carinhosas... Grande abraço! 

APRENDENDO A TE AMAR - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora