"Sei fazer as coisas se mexerem sem tocar nelas. Sei fazer os bichos me obedecerem sem treinamento. Sei fazer coisas ruins acontecerem a quem me aborrece. Sei fazer as pessoas sentirem dor, se quiser."
- Tom Riddle
Tom estava confuso pela primeira em muitos anos. Quando tinha sido a última vez? Talvez naquela tarde de janeiro quando uma cobra esverdeada apareceu e falou com ele, aquilo foi surpreendente para um garoto tão novo e quando ele falou sobre isso com Ruthie soube que não poderia fazê-lo novamente.
Ruthie, sempre boa e gentil, disse que ele não deveria falar aquelas coisas, que não deveria brincar assim, mas não era brincadeira e para provar, porque queria que Ruthie acreditasse nele, ele falou com a cobra na frente dela, a mulher o olhou como se não o reconhecesse. Foi a primeira vez que alguém o olhou com pavor. Não foi a última.
Mas desde então Tom aprendeu muitas coisas. Não poderia falar sobre as coisas que fazia, sobre como as cobras sempre o achavam e sussurravam para ele, como conseguia mover objetos e quando estava com raiva as pessoas sentiam dor, ele a causava. Claro que havia as suspeitas, ele estava sempre por perto quando coisas estranhas aconteciam, mas eram tão improváveis de terem sido feitas por alguém humano que logo era esquecido.
Demorou, mas Tom aprendeu a usar seus poderes, ele cresceu sem amigos, porque as crianças tinham medo dele, cresceu sem confiança porque os adultos o afastavam e não lhe davam atenção e cuidado. Ele apenas cresceu.
Ele era a criança estranha que estava sempre sozinho, escutou uma vez uma de suas professoras dizer que conseguia ver o demônio em seus olhos. Ele já tinha ouvido falar nele em suas aulas de catequese, com sua pele queimada, chifres enormes e olhos vermelhos. Tom passou muito tempo em frente ao espelho encarando o próprio reflexo, fixando sua atenção em seus olhos em busca de algo demoníaco.
Sua pele era muito clara, seu rosto anguloso com bochechas rosadas pelo frio, ele não sorria, porque não sabia como fazer isso, não tinha motivos e seu rosto infantil ficava mais severo. Ele era normal, ao menos em parte. Sabia que não era como as outras crianças, não podia ser, ele era especial, talvez único.
E essa ideia se manteve até conhece-lo – Dumbledore – com sua aparência estranha, suas vestes coloridas e a confirmação que ele era sim especial, mas havia um mundo inteiro de pessoas como ele. Foi bom dar um nome ao que ele podia fazer – magia – mas ele também sentiu uma pontinha de insatisfação ao descobrir que seu talento, dom, natureza, era algo comum para pessoas como ele.
Claro que essa ideia perdurou até seu primeiro, talvez segundo ano em Hogwarts. Ele conheceu outras crianças bruxas, claro que havia aquelas que se sobressaiam, mas também tinha algumas que ele sentiria pena se pudesse sentir algo tão banal. Eles eram quase medíocres em comparação a ele e logo notou que se sobressaia dos demais e não tardou até que todos os professores percebessem isso também.
A magia parecia responder melhor a ele, fluía por seu corpo como um rio em uma floresta desbravada, ele também era inteligente, mas do que deveria ser permitido ser. Trazia inúmeros pontos para sua casa, todos os professores o tratavam como se ele fosse especial – menos um – sempre tinham tempo para tomar chá e aprimorarem o conhecimento de um bruxo tão jovem, mas tão sedento por conhecimento.
Então é claro que ele estava irritado por estar tão confuso daquela forma. Ele não era mais uma criança, ele era um bruxo adulto, com uma certeza inabalável sobre seu futuro e ainda assim conseguia sentir algo tão miserável como perturbação. E pelo que? Porque um órfão tinha aparecido e se intrometido em sua vida?
Ele bufou, mas até mesmo o menor movimento o fez sentir uma pontada nas costelas e isso apenas o deixou mais irritado. Como um mestiço simplório conseguiu feri-lo? Claro que Tom não acreditaria na presteza mágica de Harry, ninguém era melhor que Tom Riddle, ele já havia provado isso para todos e para si mesmo. Não. Foi apenas a surpresa de ver o pai dele cuspindo sangue, os segundos após o feitiço atingir o homem passaram lentamente para Tom, ele aguardava vê-lo cair morto e não deu atenção para Harry e por isso, e só por isso, o garoto conseguiu feri-lo.
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Come to the past
RomansaAo fim da guerra Harry se depara com uma possibilidade única: e se ele pudesse impedir que tudo acontecesse? A resposta parece fácil para ele no momento, mas em sua jornada ele perceberá como o seu preto e branco vai ser manchado por nuances cinzas...