Hades: Primeiro Passo

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Hades — Mundo Inferior

Primeiro Passo

— Não ande por aí, já lhe disse.

A mulher se virá, fazendo um bico ela retorna sentando-se próximo às escadas. Ela me chama, pedindo para sair com ela um pouco, abandonado o espaço amplo e quente, andando dentro do labirinto que é o lugar em que moro; não gosto de sair, dar voltas pelo submundo, não tem graça, conheço tudo aqui. Desde as almas existentes no lugar as pedras do chão.

As almas estão cravadas em meu peito, aquelas de tonalidade rosa e dourada foram cravadas em minha pele. Seus nomes espalhados pelo meu corpo, pois essas são as almas que não ficaram, que continuam justas mesmo após a morte. Peço para que ela fique em silêncio temporariamente, prometendo assim, pensar em seu caso.

Desde a sua chegada as coisas tornaram-se movimentadas, sua alma está presa aqui, apesar de não ter comigo ou ingerido qualquer bebida, também não a toquei, por isso não encontro nenhum motivo plausível para o que possa estar acontecendo. Tanto que ainda não sei o seu nome, pois ela ainda não se lembrou quem é e o que fazia antes de falecer, por isso carinhosamente a chamo de Hinata, ou somente Hina.

Já se passaram dois meses desde que ela chegou ao mundo inferior, por ser somente uma alma ela não sente fome, apesar de necessitar dormir regularmente durante algumas horas diariamente. Aos poucos estou a me acostumar com sua presença em tê-la dentro do castelo, andando de um lado para o outro, em certos momentos limpando em outros sentada próximo as escadas, conversando comigo animadamente, não consigo sorrir, nem falar de vários assuntos de uma única vez. Sua alma continua azul, em momento algum eu a toquei, temi fazê-lo, sujar seu espírito e deixá-la presa a esse mundo eternamente. Ela merece mais! Bem mais do que uma sala coberta de cinzas e um inferno ardente.

Ela não merece ficar, aqui, comigo. — O estranho é que tal pensamento me dói, fere o meu orgulho, o meu ser. Ela não é minha, sua alma não me pertence, nunca pertencerá, apesar de nenhum outro nome ter sido escrito, a marca em meu peito parou de doer, de pulsar, acalmando-se. Pela primeira vez em séculos não sinto desconforto algum, o incômodo em meu peito passou, juntamente com os sonhos ruins.

— Senhor, por qual motivo você não me toca? — Ela questiona. — E quando tento se esquiva, fiz algo que o desagradou? Não gosta da minha presença, por isso não me toca? — Sua voz soou sentida, como digo a ela que não é disso que se trata.

Ela não é como as outras almas, Hinata da sua forma é diferente, única, almas azuis são tão raras quanto as douradas, essas que se tornaram mais comuns entre os períodos de guerra e onde a maioria dos conflitos mundiais estão. A última alma dourada que vi foi a de um soldado, esse morreu heroicamente protegendo uma criança, um bebê, na qual a família morreu pouco minutos antes devido a uma explosão.

— Senhor...

— Já disse Hina, me chame de Sasuke, sem o senhor.

— Sasuke somente me diga, quero a verdade, não se importe em demais com os meus sentimentos. Somente me diga a verdade Sasuke!

— Você é algo especial, raro, difícil de se acontecer, principalmente de vir para o mundo inferior! Hinata, minha bela flor, você é uma alma azul, algo puro, e eu sou o senhor do mundo inferior, o responsável por levar as almas até o outro lado. Se você me tocar será corrompida, sendo forçada a ficar, aqui, comigo eternamente. Não te toco para não te condenar a uma vida ao meu lado, pois não será capaz de arder nas chamas e nem reencarnar. — Apoio meu cotovelo contra o braço do trono, tombou a cabeça, apoiando-a sobre minha mão. — Você gostaria de ficar aqui?— Questiono. — Passar a eternidade ao meu lado, pois com você aqui a dor em meu peito passou. — Confesso.

Suspiro pesadamente, jogando a cabeça para o lado, novamente disse as coisas sem pensar, quero que ela fique aqui! Ao meu lado, pois com ela aqui a dor em meu peito é menor, apesar de ser um sentimento contraditório, pois ao mesmo tempo em que desejo que ela seja livre para fazer o que quiser, para sair desse inferno e aproveitar a sua segunda chance, ou ir para onde o sol brilha intensamente, acima das nuvens, junto aos heróis olimpianos. Eu também quero que ela me escolha! Que fique ao meu lado por me querer, pois diferente de meus irmãos não tenho uma morada junto ao sol, muito menos entre os mares e oceanos.

Meu trono e reino fica onde vivem os mortos, em um lugar onde gritos de agonia são escutados diariamente. Aqui não espaço para flores ou jardins, o sol não nascem e nem se põe, não existem nuvens, somente as chamas e a fumaça, aos tons de cinza e preto.

— Quero... — Ela para, como se pensasse a sua escolha sobre qual caminho irá tomar.

Se ela quiser comunicarei ao Olimpo, certamente virão buscá-la ou arranjar um jeito para que ela reencarne. Afinal nenhum deles deixará uma alma azul ficar aqui, morando junto a mim.

— O que você quer? Diga pausadamente, irei realizar o seu desejo. — Me ajeito, apesar do meu peito doer.

Não quero perder ela, ficar sem Hinata. Me desacostumei, não quero mais ficar sozinho, a presença feminina me deixou mal acostumado. Acordar todos os dias é vê-la descansar na cama grande, coberta por uma colcha luxuosa tornou-se um hábito.

— Quero ficar. — Ela diz convicta, com os punhos apertados e com os olhos fixos em mim. — Sasuke, eu quero ficar aqui, não me importo em ficar sem ver o sol! Somente quero ficar aqui, com você! — Ela se levanta apressada, escorrendo no processo.

Corro, segurando o seu corpo, fazendo o brilho azul diminuir. Recuo, tenho medo, se ela se corromper ao ponto de virar um perdido? Jamais me perdoarei, pois condenei o meu amor a uma existência miserável. Me afasto, contudo ela segura a minha mão, levando-a em direção seu peito, onde o seu coração está a bater, o que é estranho para uma alma.

— Sasuke não tenha medo, continuo aqui, sendo eu mesma! — Ela fecha os olhos, sua voz saiu baixa. O rubor em seu rosto a deixou fofa, com um puro, gentil. — Por favor, não fuja de mim! Me toque e permita que eu faça o mesmo. — Ela sorri. — Quero ser sua, então, por favor, seja meu!

— Tola humana, nem ao menos notou algo tão importante.

— O que é? — Ri soprado.

— Eu já sou seu.

Seus lábios encostaram nos meus, pegando-me de surpresa, seus olhos estão fechados, na ponta dos pés, ela tenta ficar da minha altura. Pego-a no colo, caminhando em direção ao trono.

Sua alma continua azul, sua luz não diminuiu mais, pelo contrario tornou-se intensa, a medida em que sentia os lábios cederem, a sua boca e dentes abrirem passagem para a minha língua, permitindo que degustasse os lábios na qual venho fantasiando há dias.

Os lábios rosados, tão pecaminosos quanto as curvas existentes, tão enlouquecedores quanto a vontade que tinha de tocá-la, fazê-la minha, deleitar-me com o néctar existentes em seus segredos, tocar em sua flor, explorar a sua feminilidade. Fantasias dão asas aos pensamentos impuros, ao desejo de tomá-la para mim dentro desse salão, com ela e eu sentados sobre o trono negro, com a minha cobrindo a sua nudez; tendo os cães como guardas.

— Sasuke eu te amo tanto, te quero tanto Hades... — Ela sussurrou em meu ouvido. — Meu amado.

— Minha rainha, minha bela e encantadora rainha.

Naquele momento eu não sabia, que tudo começaria a desandar.

HadesOnde histórias criam vida. Descubra agora