Vinte e Um

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Lalisa tirou o diário de Chaeyoung de dentro de sua mochila. Ela passou a mão na capa de couro, pensando quantas vezes Chaeyoung teria segurando aquele mesmo diário em suas mãos. Era difícil para ela assimilar que a garota que havia escrito esse diário era a mesma garota que ela havia beijado apenas alguns dias atrás.



Seu telefone vibrou alguns minutos depois e Lalisa franziu as sobrancelhas quando viu que era uma mensagem de Joy pelo Facebook.

Joy: Hey, acabo de me lembrar todo o time de líderes de torcida voltou para ginásio da escola no dia seguinte da formatura para tirar suas coisas dos armários. Chaeyoung nunca pegou. Se eu me lembro bem, elas ainda estão na caixa de Achados e Perdidos na biblioteca. Só achei que você gostaria de saber.


Valia a pena tentar, Lalisa decidiu. Ela se levantou do meio-fio onde se encontrava e começou a caminhar na direção da escola. Seria uma longa caminhada, mas a menina dos olhos castanhos não queria esperar o ônibus. Ela precisava de algo para ocupar seu tempo.



Mais de meia hora depois, finalmente a escola onde estudava estava visível. Lalisa se encolheu de medo, lembrando-se de todas as memórias ruins associadas ao prédio. Engolido seu orgulho, ela vagarosamente se deu conta de que não havia ninguém na escola. Era sábado.




Recordando-se de uma coisa, Lalisa fez a volta na escola, encontrando os docks de carregamento. A comida era entregue à cantina em caminhões, que estacionavam nos docks de carregamento e eram descarregados na cozinha. Para a sorte de Lalisa ela havia pegado detenção no segundo ano e teve que ajudar a carregar caixas para lá e para cá. E agora, lembrou do código que eles usavam para destrancar a porta.

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Ela colocou os números no teclado e apertou enter. Momentos depois, ouve um 'beep' baixo e o destrancar de uma porta. Lalisa olhou em volta uma última vez antes de abrir a porta e deslizar para dentro.


A biblioteca ficava do outro lado da escola. Ela correu até lá, sem fôlego quando alcançou fileiras e mais fileiras de prateleiras de livros. Um cartaz gigante dizia 'Achados e Perdidos' num canto na parte de trás.

Assim que chegou lá, achou a caixa que Joy mencionou. A menina dos olhos castanhos ajoelhou-se ao lado da caixa, mordendo o lábio e hesitando por um momento. Ela realmente queria fazer isso? E se encontrasse algo ainda pior do que já havia encontrando?


Fazendo o melhor que podia para não pensar nessas coisas, Lalisa suavemente abriu as abas da caixa e olhou para dentro. Ela puxou vários papéis grampeados juntos e os olhou curiosamente.

"Se você tivesse que escrever a história da sua vida até agora, como a chamaria e por quê?"

Lalisa franziu as sobrancelhas quando leu o título do papel. Depois de examiná-lo um pouco mais, se deu conta de que era uma redação escolar. Isso seria interessante. Lalisa respirou fundo, se preparando para o que viria a seguir.

Meus pais morreram quando eu tinha seis anos. Sempre que conto para as pessoas que me lembro deles como se fosse ontem, elas me olham como se fosse louca. Mas eu lembro. Ainda lembro de pequenas coisas sobre eles. Eu lembro que meu pai sempre tinhas as mãos sujas de tinta e que minha mãe sempre o repreendia por sujar suas roupas novas com terebintina. Ele era pintor e ela era contadora.


É engraçado, porque ninguém imaginava que eles se apaixonaram. A mulher que amava os números e o homem que mal sabia ver as horas. Mas, aparentemente, eles se apaixonaram. Não sei muito sobre o passado deles. Eu não tenho ninguém da família para fazer perguntas, a não ser meu tio. Mas ele pode ser bem evasivo quando eu tento descobrir informações sobre meus pais, então eu desisti de perguntar.



Uma coisa que me lembro bem sobre eles, entretanto, é que amavam cores. Especialmente meu pai. Eu sempre sentava em um banco e o assistia misturar as tintas. Os melhores dias eram os que ele colocava um cavalete menor para mim e eu podia pintar com os dedos. Eu sempre tentava pintar como ele, mas nunca conseguia acertar. Então eu começava de novo e barrava mais uma folha de papel com amarelo.




Naquela época, amarelo era minha cor favorita, porque era a cor do sol e do macarrão com queijo. Minha mãe fez aulas de costura apenas para poder costurar um cão amarelo para mim, de aniversário. Eu chamei de Sunny. Ainda o tenho.



O significado da cor mudou para mim numa noite, na calada do inverno. O dia antes do natal, na verdade. Meus pais e eu fomos para Busan passar o feriado num resort de ski. Eu me lembro de ver neve pela primeira vez, e fiquei com medo dela. Obviamente, aprendi a amá-la, entretanto.

Yellow (Chaelisa) Onde histórias criam vida. Descubra agora