Para o covid

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(nada) Querido covid,

Já se passaram quatro meses e eu queria dizer que já estou farta de você. Não aguento mais essa sua presença inconveniente que vem mexendo com a cabeça e o coração dos meus irmãos. Não aguento mais essa sua visita intrometida aos corpos daqueles que um dia já se consideraram saudáveis. Não aguento mais ouvir o seu nome em todos os lugares. Não aguento mais ficar com as minhas mãos secas de tanto lava-las com medo de que você queira aqui se alojar. Não aguento mais me preocupar constantemente com os meus familiares, checando se eles estão bem ou se precisam ir a um Hospital que atualmente encontra-se superlotado. Não aguento mais confundir uma alergia com medo de você ter me feito uma visita demorada. E não, aqui você não será bem-vindo! Que fique claro. Não irei te convidar para entrar (inclusive, para você, a porta está trancada!), e nem pense que te chamarei para tomar um café. Aqui só quem entra é o amor, e receio dizer-lhe que você é o contrário disso. Não consegue ver que esse ambiente não é para você? Me desculpe, mas além de mal, é cego de alma também? Pois bem, me parece. Então aqui deixo essa mensagem para você: Já está mais do que na hora de você partir! No começo tentei ser compreensiva, mas agora nem sei mais o que essa palavra significa quando me lembro de você. Pare de invadir os nossos corpos, pare de levar a vida de quem amamos, apenas pare! Você já nos mostrou o que é capaz de fazer, e não duvidamos de você. Não mais. Você mostrou o seu ponto, agora pode ir em paz. Eu sinto falta, mais do que tudo, da minha mãe natureza, como pode me deixar sem ver e sentir quem me mantém viva? Como pode ser tão cruel ao ponto de nos trancar dentro de quatro paredes, sem mesmo termos mais a possibilidade de sentir o sol que ilumina a nossa terra? Ou poder desfrutar da lua que ilumina a nossa noite, quando nos sentimos com medo e perdidos? Como pode querer nos privar de cheirar as flores e ver a beleza de uma primavera? Ou quando nos embebedamos de felicidade, ao ver uma criança brincando no parque? Ou um cachorrinho passeando com o seu amigo? Ou o brilho no olhar de alguém que acabou de desvendar um novo mundo? Ou o prazer que alguém sente ao experimentar uma boa comida? Ou na satisfação que um amigo tem de visitar os seus parceiros? Ou no beijo demorado de alguém que ama? Como pode nos tirar tudo isso? Como pode nos afastar tanto da nossa mais pura essência? E se acha que nos faz um favor, bom, no começo até poderia ser, mas e agora? O que me diz? Ainda acha que faz algum bem? Deixando milhares de pessoas em uma uti, ou lutando para pelo menos estarem nesse lugar para que assim possam ter uma chance de serem curados? Com um certo desespero de querer viver? Implorando para que tenha mais tempo em pleno leito de morte? Quanta crueldade! Vá embora, e ao invés de tanto sofrimento, nos traga o amor. Ai sim ele será bem-vindo, ai sim a minha porta vai estar escancarada, e ai sim, eu vou chama-lo para tomar mais do que um café. Eu vou deixar o amor morar em mim. Porque ele sim, tem muito o que oferecer.

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