Capítulo 4 ❁ Caminhos perdidos

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Perdido.
    
Significa algo cujo estado é irremediável. O "estar perdido" trás diversos sentimentos, podendo oscilar a algo bom ou ruim.
    
O sentimento de perder o caminho de volta ou até mesmo de estar perdido, sozinho, caminhando rumo ao desconhecido, trás para muitos o sinônimo de paz.
   
Para outros, de pura euforia.
    
Sim, euforia.
   
Estado caracterizado por alegria, despreocupação e otimismo. O sentimento eufórico geralmente é momentâneo, podendo causar vício e dependência no sentir exagerado e alegre.
    
Caminhos amenos que o levam ao perdido, sentimentos eufóricos que camuflam o medo do desconhecido e, por fim, o vício e a utopia.
    
No caso de Tarpe, o vício na loucura.
    
Chás, belas frases, deslumbrantes paisagens e aprendizados levados para o seu "para sempre". Os poucos loucos de Tarpe.
    
O mundo desconhecido por humanos. Dois únicos seres foram capazes de vivenciar a experiência daquele mundo, nunca mais voltaram para contar suas histórias. Tarpe os deixa hipnotizados, ao ponto de esquecerem de sua verdadeira origem, até serem incapazes de distinguir o real do irreal. Contudo, sempre há entrelinhas e adversidades em palavras usadas para generalizar. 
    
Apenas uma contradição pode mudar o conceito de tudo. E essa entrelinha possui nome, sobrenome e um coração único.
    
Jeon JungKook.
    
Acordou no meio de uma floresta enorme e iluminada por raios de sol. Apesar de maravilhado com a cor única do esverdeado das árvores e o caminho de pedras brilhantes, sentiu-se deslocado, perdido.
    
JungKook caminhava entre as árvores enquanto ouvia o barulho dos passarinhos. Estava sentindo um mar inteiro de sensações misturadas. Dentre todas elas, o medo de estar só era o que prevalecia. Não tinha ninguém. Completamente sozinho. Chamava por alguém, qualquer pessoa além de si. JungKook estava beirando o desespero. Era incapaz de gritar, sua voz falhava.
    
ㅡ Dorothy? ㅡ Chamava por sua mãe, mas a única resposta que obteve foi o soar forte do vento ㅡ Eu estou com medo ㅡ Barulhos vinham das árvores. O verde tornava-se laranja, do verão vem o outono.
    
Laranja, vermelho, galhos marrons e folhas pelo chão, apesar de algumas árvores ainda estarem cobertas. Tempo frio, melancólico. Os pássaros voavam para o leste, ele corria para o oeste. Ouvia barulhos, patinhas ao chão, o pôr do sol era como um relógio antigo prestes a bater meia noite.
    
Estava sozinho. Até agora.
   
ㅡ Eu quero ir para casa ㅡ Parou, sentando no banco de madeira em frente a uma árvore. 
    
Esquilos corriam pelo caminho da calçada de ardósia antiga, à procura de um lugar seguro.
    
ㅡ Não gosto de ficar perdido ㅡ Sentiu lágrimas descendo pelo seu rosto e um nó chegar ao estômago. Podia ver as suas mãos, parecia consciente.
    
Era real.
    
Escondeu o rosto com as próprias mãos.
     
ㅡ Eu só quero acordar. Acorda! ㅡ Falou um pouco mais alto, contudo, ele não ouvia a si próprio.
    
Ele gritava, tentando acordar, mas nem mesmo os pássaros se assustavam.
     
O vento soprou e o pôr do sol parou, antes que pudesse escurecer completamente.
    
ㅡ O tempo não pode parar. O chapeleiro disse que não pode ㅡ Levantou, ainda sentindo seus olhos molhados e o rosto vermelho pelo recém choro.
   
Preso em um sonho.
    
Depois da tempestade há um sol radiante. Os dias de solidão são compensados por anos acompanhados por fadas e nuvens falantes.
    
Nada pode ser escuro para sempre. Tudo passa.
    
ㅡ Estou curioso, JungKook. Não encontrei outro modo, queria vê-lo ㅡ Uma voz atrás de si.
    
Suave, doce e calma. Singular. A conhecia, mas não se lembrava. Virou devagar, soava como a voz dos sonhos de noites anteriores. Era capaz de ver suas vestes, seu cabelo acobreado, seus pés descalços e o chapéu.
    
ㅡ Quem é você? ㅡ Perguntou, com medo.
     
ㅡ Desculpe, eu estou desacostumado ㅡ O garoto gargalhou, tirando o chapéu enorme e enfeitado de uma forma simples, fazendo uma reverência breve ㅡ É um prazer conhecê-lo pessoalmente. Eu vim de Tarpe, sou o chapeleiro.
    
ㅡ Você veio de Tarpe? ㅡ JungKook sorriu, animado, a tristeza havia sido levada pelo vento, junto com o sentimento perdido, de angústia e medo.
     
ㅡ Foi o que eu disse ㅡ Colocou o chapéu novamente, escondendo grande parte de seu cabelo ruivo ㅡ Senti em você um propósito que sou incapaz de entender e contestar. Agora estou aqui, sóbrio ㅡ Aquilo deixou o garoto sem palavras.
    
O chapeleiro usava terno, junto com uma blusa branca de botões abertos até o início de seu peito. As vestes somavam com sua forma extrovertida e boba, de um jeito incrível. Era diferente do garoto do primeiro sonho, na loja de música, mas não deixava de ser ele. Sabia quem era, o sentia.
     
Conheceu o chapeleiro na loja de música e agora sabe disso.
     
O sorriso dele era um caos eufórico de boas lembranças perdidas.
     
Cada momento em que o sentia perto era como se fosse a primeira vez. JungKook tentava decifrá-lo, prestando atenção em cada detalhe.
    
Os olhos dele eram adoráveis. Tão bonitos quanto o anoitecer. Ele estava se encontrando na imensidão de suas pintas, principalmente a que se encontrava na pontinha de seu nariz. Também naquela encontrada pertinho dos cílios inferiores. 
    
Desceu seu olhar, notando o mesmo colar de chave em seu pescoço. Subiu os olhos, recompondo-se e organizando pensamentos. Já havia notado esses detalhes anteriormente, mas não pareciam tão reais e irreais ao mesmo tempo.
     
Suspirou ao receber mais um sorriso, desta vez tímido. Ele era como um sonho. Um sonho tão bom quanto balas de gelatina.
    
ㅡ Como fazemos o tempo voltar? Ele parou.
    
ㅡ Você fez o tempo continuar ㅡ Sorriu, notando o dia escurecer.
    
ㅡ Eu não fiz nada, chapeleiro ㅡ Confuso. De fato, não havia feito nada.
    
ㅡ Taehyung.
   
ㅡ Desculpa?
   
ㅡ Quero que me chame de Kim Taehyung, esse é meu nome ㅡ Seu tom era sério, e JungKook podia sentir as vibrações de sua voz, não sabia como, nem o porquê.
     
Suas expressões… Instáveis, curiosas. Bonito.
Muito bonito. De perto? Ainda mais encantador.
    
O ruivo passou a língua entre os lábios e sorriu ladino, aproximando-se dele e segurando seu rosto entre suas mãos, apertando as bochechas com leveza.
    
ㅡ Você chorou... Por que? ㅡ Acusou, deixando JungKook surpreso.
    
ㅡ Como descobriu?
    
ㅡ Eu apenas sei, não é o bastante? ㅡ Perguntou.
    
Nesse instante era impossível saber se estava brincando ou falando seriamente.
    
ㅡ Por que chorou? ㅡ Repetiu.
    
ㅡ Eu tive medo, chapelei... Taehyung ㅡ Corrigiu-se antes mesmo de finalizar a frase.
   
ㅡ Medo? Não há o que temer, JungKook. Você é muito corajoso.
    
Não sabia o motivo, mas estava encantado pelo jeito que o chapeleiro agia.
   
Tudo na voz de Taehyung se tornava especial e original.
    
ㅡ Eu não sou corajoso. Eu tenho medo.
    
ㅡ Meu herói é o guardião da floresta, e ele está sempre assustado. Os heróis mais corajosos são aqueles que temem ㅡ Disse o ruivo, colocando as mãos nos ombros de JungKook ㅡ Gostaria de conhecê-lo além de sonhos ㅡ Continuou, sorrindo ㅡ Você nunca estará sozinho, sabe?.
    
Tudo escureceu e a lua nova surgiu.
    
O sorriso do gato preto.
    
O sumiço de Kim Taehyung.
    
Por fim, o despertar.

Coelho de Tarpe • [taekook]Onde histórias criam vida. Descubra agora